26.Amargo Parte VII

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Miguel e Aghi aos poucos retomaram  o fôlego, à medida que respiravam trocavam olhares de apreensão. Era óbvio que aquelas criaturas os guiaram até a Escola propositalmente, não era um ataque real. 

—Você sabe que eles querem a gente aqui dentro, né?— Questionou Miguel.

— Eu sei, mas aqui ainda parece mais seguro. Podemos esperar desse lado do muro até amanhecer ou eles irem embora.
Miguel passou a mão na testa, sabia que as criaturas não iriam fugir e provavelmente, a julgar pelo barulho que faziam do lado de fora, pulariam a qualquer a momento para transformar a ameaça em algo real.

— Aghi, nós não vamos ficar parados esperando, nós vamos entrar. Eu conheço essa escola muito bem, é mais fácil nos defendermos em um corredor do que nesse pátio aberto.
O garoto balançou a cabeça positivamente, não podia negar o fato de que os Carniçais estavam ansiosos para pular o muro.

Entraram na escola absurdamente vazia, os passos eram cautelosos pois naquele momento desconfiavam até de suas sombras, que só podiam ser vistas graças a luz acesa no fim do corredor principal. Toda a escola estava lançada em trevas, exceto por essa luz que para os dois era a confirmação da armadilha que os esperavam.

Cada som causado pelos pés dos garotos marchando no corredor ecoava como gritos naquele silêncio absurdo, quanto mais se aproximavam da sala iluminada mais podiam sentir que algo, ou alguém, os esperavam naquela sala amaldiçoada.

Mas o que encontraram ao despontar na entrada da sala era uma surpresa e tanto para ambos: Encontraram uma sala com mesas e cadeiras alinhadas, um quadro negro tomado por uma sombra que envolvia um terço da sala e um jovem sentado sobre a mesa do professor. Não qualquer jovem, era Thomas K., tomado por um sorriso de satisfação doentia e uma pele mais pálida que o normal, ele olhou fixamente para Miguel e disse:

—Bem vindos a minha escola queridos alunos. Vocês chegaram bem na hora, Miguel.

—Thomas, que merda você fez dessa vez?— Disse Miguel, olhando seriamente para seu colega de turma.

Thomas e Miguel se encaravam como faziam nos dias de aula, mas dessa vez o sorriso pertencia ao jovem Kannenberg, não demorou muito para que Aghi e seu amigo entendessem que o rapaz estava envolvido com os Carniçais.

— O que eu fiz? Vou explicar pra você. — Thomas agachou e pegou sua mochila que estava escondida na mesa do professor.— Digamos apenas que agora eu tenho amiguinhos poderosos e nós vamos jogar para descobrir quem merece representar essa escola e quem vai sumir de uma vez por todas.

Sacudiu a sacola e despejou sobre a mesa doze livros velhos que estufavam sua mochila. Algumas enciclopédias que provavelmente eram mais velhas que ambos. 

— Então, você gosta de jogos? Esse vai ser bem simples: Perguntas e respostas. Quem ganhar leva tudo e quem perder vira jantar do meu amigo aqui atrás.  

Quando Miguel olhou novamente para a sombra que tomava parte da sala percebeu algo grotesco e inimaginável: presas, semelhantes as da criatura do beco, mas muito maiores. O fundo daquela sala era tomada por um barulho de fera e presas de uma boca sem corpo escondida nas sombras, era de um tamanho monumental que levou Miguel a imaginar que aquela coisa poderia engolir um urso ou algo maior.

Enquanto Aghi se assustava com aquela figura sombria, Miguel voltou seus olhos para seu colega de turma que interrompeu suas explicações para procurar medo nos olhos de Miguel: não encontrou. Optou por continuar seu monólogo:

  — As regras são simples...

—  Você é doente, cara. — Miguel não conseguiu ignorar toda a loucura daquela situação.

— Talvez. — Retomou o raciocínio ignorando a interrupção. — As regras são simples: Nosso amigo aqui atrás vai ler perguntas dessas enciclopédias, uma pergunta para cada um até alguém errar. Quem errar é engolido. A escola está trancada e só quando um de nós morrer a saída será liberada. 

Thomas esperou novamente alguma reação de Miguel, mas apenas Aghi parecia surpreendido com suas palavras. 

— Continuando, mais regras básicas: Se alguém usar violência: perde. Se responder errado perde e se tentar fugir da escola perde. Só isso, pode pensar o quanto quiser nas respostas, mas preciso te avisar uma coisa: A enciclopédia foi escrita há uns vinte anos ou mais e algumas informações podem estar desatualizadas, como nosso amigo vai usar ela como base ele vai considerar o que está escrito como resposta certa.

Então Kannenberg sorria suavemente enquanto arremessava os livros nas sombras ao som da mastigação daquela criatura que engolia os enormes livros como um petisco qualquer.

 —  Eu vou começar, qual é a pergunta meu amigo? — Disse Thomas olhando para o fundo da sala.

 — Qual é a capital da Checoslováquia? — A voz horripilante ecoou pela sala.

 —  Checoslováquia?— Thomas indagou enquanto gargalhava.— Isso não existe há uns trinta anos! Isso vai ser muito fácil.

  — Qual é sua resposta?  

  — Praga.— Respondeu com um sorriso de deboche.

Está correto.  — Confirmou a criatura.

Era óbvio para os garotos que Thomas conhecia cada letra, cada palavra daquelas enciclopédias, provavelmente pertenciam aos pais ou avós e ele as decorou. Tudo naquele jogo era manipulado para favorecer um único jogador, não existia uma forma de Miguel responder aquelas perguntas.

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Ótima noticia pra quem gosta do nosso livro:

Ômega - Cidade Cinza está na Shortlist do The Wattys 2018.

****EM BREVE MAIS UM CAPÍTULO**** 






Ômega - O Guardião Santo (Fantasia/Suspense/Sobrenatural)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora