49.Agnathi

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Os meses se passaram em uma velocidade razoável, misteriosamente tudo parecia normal, a violência continuava descontrolada na Cidade Cinza, contudo nenhum Carniçal incomodou Aghi ou Miguel e sua família

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Os meses se passaram em uma velocidade razoável, misteriosamente tudo parecia normal, a violência continuava descontrolada na Cidade Cinza, contudo nenhum Carniçal incomodou Aghi ou Miguel e sua família. Vez ou outra avistavam uma das criaturas criando um cerco de longe, mas logo saíam de sua visão, apressados.

A vida na escola era entediante, a maior parte do conteúdo escolar já tinha sido ensinada pelo falecido Todorov, possivelmente Aghi estava intelectualmente duas séries ou mais acima de sua idade, mas Miguel insistia que ele deveria frequentar a escola diariamente.

Talvez, Miguel não quisesse Aghi sozinho durante a parte da manhã, imaginando um possível ataque das criaturas, ou mais possivelmente, apenas não queria Aghi com a mente vazia pensando em um guardião Santo. Era certo que seu amigo não acreditava na figura do protetor daquele que guarda o nome de Deus.

Aghi, contudo, permanecia acreditando. Todos os dias em suas orações ele conversava com os anjos, implorarava a presença do Guardião Santo, a resposta deles era quase sempre a mesma:

— Você, ainda é muito jovem. O Guardião Santo vai aparecer quando estiver preparado, até lá não tenha medo.

Contudo, ele tinha medo.

Não um receio por ele, mas pela família do amigo e do próprio Miguel. Era nítido que Miguel tentava disfarçar, porém, seu ânimo piorava a cada dia. Sempre sem paciência, sempre cansado, não um cansaço comum fruto da rotina atarefada, era algo mais sério: sua alma parecia no limite.

Tudo indicava que ele entendia isso tão bem quanto o próprio Aghi, certo dia após queimar uma carta antiga escrita pelo pai — Quando questionado, ele sorriu e disse que os vivos já tem problemas demais para se preocuparem com os pecados dos mortos —, o jovem pediu para que Aghi o ensinasse a invocar a corrente espiritual.

Foi simples, Miguel já tinha um conhecimento instintivo sobre a corrente e o espírito que ela atrelava ao corpo. Em suma, a corrente de energia espiritual mantém a alma junto ao corpo físico, uma alma com rachaduras cria um elo entre o mundo espiritual e terreno, e a corrente de Miguel tinha várias fissuras, era um estado critico.

Se nada fosse feito o amigo simplesmente morreria, seu corpo não poderia sustentar a alma sem a corrente espiritual, e quanto tempo ela ainda duraria? Um ano, um mês, um dia? Aghi não saberia responder, nunca conhecera alguém nessa situação.

Estava convicto que o Guardião Santo poderia resolver todos os problemas: poderia restaurar a corrente de Miguel, curar o mal que afligia Sofia e o vovô, além de acabar definitivamente com a influência dos Carniçais na Cidade Cinza.

Por isso Aghi continuava implorando, todas as noites, sua insistência foi tanta que por alguns dias nenhuma voz o respondera e ele apenas pedia e implorava por ajuda.

Até que, um dia teve sua resposta.

Era um final de semana bem tipico, passou a noite brincando com Sofia, em um dos jogos que a garota adorava, enquanto o vovô assistia televisão e Miguel estava com a namorada. Quando o amigo chegou, despediu de Sofia e foi para o sofá. Fez suas orações como de costume e não obteve resposta, caiu no sono enquanto fazia suas preces.

No meio da madrugada escutou uma voz, forte e imponente, convocando-o:

— Agnathi! Agnathi!

Abriu os olhos e não viu ninguém. Esperou por um tempo e nada, acabou adormecendo novamente, acordou outra vez com a mesma voz convocando-o:

— Agnathi!Agnathi!

Frustrado por não encontrar ninguém, pensou se tratar de uma brincadeira de Miguel. A voz era diferente de qualquer anjo que tenha atendido suas orações, e o amigo tinha um senso de humor peculiar.

Levantou do sofá e em passos cautelosos passou pela porta do quarto de Sofia que estava adormecida, parou na entrada do quarto de Miguel. Suavemente abriu a porta e viu que o amigo estava deitado com os olhos abertos olhando para o teto.

— O que foi, Miguel? Você me chamou?— Disse com um sussurro amigável para não assustar o amigo.

— Como assim, Aghi? Eu não te chamei, cara.

Pela surpresa de Miguel, realmente não teria sido seu amigo a convocá-lo. Depois de pensar bem, concluiu que o mesmo nunca o chamara de Agnathi.

— Desculpa, Miguel. Boa noite.

— Boa noite, Aghi.

Fechou a porta do quarto e voltou para o sofá. Pegou o celular, presente de Majora, e pesquisou sobre notícias da Cidade Cinza, tudo que encontrou foram escândalos de violência, corrupção e pessoas desaparecidas, acabou adormecendo novamente.

Então pela terceira vez a voz o convocou.

— Agnathi!Agnathi!

Dessa vez estava mais preparado e fez uma dedução sobre o dono daquele timbre marcante:

— Guardião Santo? É você?

Após alguns segundos a resposta ressoou pela sala:

— Sim, Agnathi. Sou o Guardião.

Aghi levantou e começou a procurar pela sala a presença de seu Guardião, não encontrou ninguém.

— Eu não vejo você, Guardião.

— Não estou aí fisicamente, minha criança. Contudo, não se preocupe, sei tudo que aflige sua alma.

Aghi ficou decepcionado, pensou que finalmente encontraria o Guardião.

— Pensei que você estaria aqui, eu preciso de você. Todos precisamos de você.

— Não se precipite, Agnathi. Em breve você fará algo magnífico, salvará milhares de vidas com o nome de Deus.— Reiterou o Guardião.

— Mas até lá o que vai acontecer com o Miguel? E a familia dele? Posso protegê-los sozinho?

Um breve silêncio, tomou a sala até a voz retornar:

— Sacrifícios serão feitos, seu amigo escolheu a própria jornada. Alguém realmente perigoso chegara a sua cidade e vai reivindicar o sangue dele. O nome de Deus pode te proteger, mas Miguel será assassinado.

Uma lágrima escorreu pela face do garoto.

— Por favor, não. Você sabe que se algo acontecer a ele, eu não me perdoaria nunca.

— Sim, eu sei. Por isso estamos conversando, você deveria escutar minha voz apenas em seu aniversário de trinta anos, e só poderia me ver em sua velhice. Contudo, a situação mudou quando esse jovem cruzou sua vida. De alguma forma ele influencia você.

Aghi pensou no tipo de criatura que poderia matar seu amigo, seria o tal Alfa? Seja como for, precisava encontrar uma forma de salvar Miguel, que já o salvara em várias oportunidades. Deixar o amigo a própria sorte era impensável, ele morreria pelo amigo.

— Você disse que um dia eu salvaria milhares de vidas, certo? Por que "um dia"? Não poderia fazer isso agora?

— Sim, poderia, mas não deveria. Você ainda é muito jovem.

— Jovem para ver meu amigo morrer? Jovem para ver a familia dele ficar sozinha no mundo? Por favor, faço qualquer coisa, só não deixe nada de ruim acontecer com eles. A culpa é minha, pensei que você apareceria naquele beco, ele só quis me ajudar.

Aghi falou em um tom mais alto e ficou com medo de acordar alguém, olhou imediatamente para o corredor do pequeno apartamento, procurou alguém que pudesse ter acordado, para sua surpresa todos prosseguiam em seus quartos.

Após algum tempo a voz do Guardião manifestou-se novamente:

— Tudo bem, Agnathi. Amanhã você terá sua resposta, agora durma minha criança.

Antes que pudesse dizer qualquer coisa, sentiu suas pálpebras se fecharem e seu corpo suavemente adormecer.


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Ômega - O Guardião Santo (Fantasia/Suspense/Sobrenatural)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora