Ômega - O Guardião Santo (Fantasia/Suspense/Sobrenatural)

38. Carmesim Parte II

Miguel observava a irmã deitada na cama, ele ainda não conseguia entender como Sofia, que não podia sequer sair de seu quarto chegou até um cemitério durante uma madrugada chuvosa. Não podia compreender, entretanto precisava aceitar.

Caminhou até a sala onde Aghi tomava seu café da manhã, o garoto conseguiu dormir apesar de tudo, Miguel não teve a mesma sorte. Era estranho como Aghi ficava bem melhor após seu sono, era quase como se ele tivesse respostas durante o sono.

— Aghi, precisamos conversar. Eu não tô entendendo merda nenhuma que tá acontecendo.

O garoto pareceu triste nesse momento, apesar de tudo ainda sentia a dor da perda de seu tutor.

— Você tá falando da Sofia?

— Sim, quer dizer, também. Por sorte ela apagou na hora, acho que não vai se lembrar de nada. Talvez esteja com um resfriado, mas o breve momento em que ela acordou e me encarou, pude olhar nos seus olhos e não encontrei nenhuma reação diferente.

— Ou talvez ela se lembre, a Sofia é mais forte do que você imagina, Miguel. Não é um desses monstros que vai...

Miguel fez sinal para que o amigo fizesse silêncio, e ligou a televisão. Ele não poderia sequer imaginar sua irmã descobrindo que monstros horríveis o perseguiam. Na televisão o jornal transmitia a notícia do dia:

"Ainda não descobriram o responsável pelo assassinato do general Henrico Gaspartti, o militar da reserva foi encontrado morto pela polícia após os vizinhos denunciarem barulhos de tiros que foram confirmados posteriormente como uma tentativa desesperada de Gaspartti para salvar sua vida."

Aghi pareceu mais interessado na notícia do que em seu colega.

— Aghi, presta atenção, por favor. Eu tô com medo de não conseguir me controlar, que merda foi aquela que aconteceu no cemitério? Eu não conseguia parar.

O garoto levantou-se e com o olhar sério, dançou a mão esquerda fazendo com que a mesma luz mostrada por Arae circundasse o corpo de Miguel. Dessa vez, algo estava muito diferente: o tom azul praticamente desapareceu, era quase totalmente tomada por um cinza sombrio. As rachaduras e a velocidade com que ela se movimentava também aumentaram.

— Merda, Aghi! Essa corrente espiritual tá bizarra. O que aconteceu com ela? E como você faz pra aparecer essa coisa?

— É simples, você só precisa imaginar a corrente e ela aparece.— Aghi analisava a corrente espiritual com um semblante preocupado.— Miguel, se você continuar usando seu poder sua alma pode desaparecer do corpo.

— Como assim? Vou ficar sem alma? Tem como viver sem isso?— Ele perguntou perplexo.

— Não. Você morre.

Miguel passou a mão no rosto e começou a andar em círculos, desesperado.

— Eu preciso fazer alguma coisa. Eu, eu...— Lembrou-se do cartão dado por Arae, tirou de seu bolso e olhou o endereço escrito nele.— Eu vou até esse lugar e chutar a bunda de Carniçal, desse tal Alfa. Tá na hora de acabar com isso.

Na mesma hora, Aghi saltou na sua frente e com as mãos tentou segurar o amigo que já se dirigia até a porta.

— Não faz isso. Você não tem chance alguma e só vai piorar sua situação.

— Você tá de brincadeira, né? Eu venci todas essas aberrações. Qual é a diferença?

— Não é a mesma coisa. Só o Guardião Santo pode...

Nesse momento Miguel bufou e levantou os braços.

— Fala sério, cara! Eu acho que esse Guardião nem existe, Aghi. Pensa bem, se não fosse por mim você não estaria vivo. Quantos perigos enfrentamos, quantas vezes encaramos a morte e ele nem sequer apareceu?

Nesse momento Aghi ignorou o amigo e olhou para a televisão.

"Ainda não se sabe o motivo do crime, tendo em vista que nenhum objeto foi roubado e que o apartamento não foi invadido.Especialistas dizem que o único lugar com uma vista direta para o apartamento ficava a aproximadamente a 6000 metros de distância, em um pequeno relevo."

— Aghi, esquece isso. é só uma notícia de jornal sem importância.

— Não. É importante sim, eu acho que eu sonhei com essa pessoa.

— Você sonhou com o general?— Miguel perguntou erguendo a sobrancelha.

Aghi balançou a cabeça negativamente com veemência.

— Não! Eu sonhei com quem atirou. A gente precisa encontrar essa pessoa urgentemente a vida dela corre perigo.

— Na verdade, eu acho que não é uma pessoa.— Miguel observou.

Aghi olhou intrigado para o amigo esperando explicação para tal afirmação.

— O disparo recorde foi dado por um membro das forças especiais do Canadá e percorreu precisamente 3540 metros de distância. Nenhum homem poderia acertar um tiro a 6000 metros à noite com um alvo em local fechado. Logo, deve ter um Carniçal envolvido.

Aghi concordou com normalidade, geralmente quando Miguel fazia uma observação assim despertava admiração de seus ouvintes, contudo seu amigo não parecia se impressionar.

— Se um Carniçal está envolvido nós precisamos salvar essa pessoa, Miguel.

— Sem chance, amigão. Eu não vou deixar minha família sozinha e salvar um assassino procurado. Nem fudendo, sem chance. Esse cara que se exploda, Aghi.

— Miguel, não é um homem. Eu tenho quase certeza que é uma mulher e ela está sofrendo muito.

Miguel permaneceu revoltado e prosseguiu:

— Então minha família não tem importância, mas ela tem? Esquece, Aghi. Vou nesse endereço aqui e darei um fim nesse Alfa.

Aghi empurrou Miguel, que mal se moveu dois centímetros. O garoto bufou, exatamente como o amigo fizera anteriormente.

— Você não tem chance sem o Guardião Santo! Você vai se matar e a sua família vai ficar sozinha! Eu acabei de perder o Senhor Todorov, eu também tô com raiva, mas a única coisa importante agora é achar essa mulher, precisamos dela!

— Droga, Aghi. Não acredito que depois de tudo você não confia nesse poder. Outra coisa, não existe a menor possibilidade da gente encontrar esse cara, digo mulher.

Nesse momento o garoto retomou a confiança, e deu algo parecido com um sorriso.

— Eu acho que você pode encontrá-la. No sonho eu vi quem é o próximo alvo dela, sei até o nome.