44. Carmesim Parte VIII

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Miguel caminhava na direção de seu prédio, pensando nos acontecimentos da noite anterior. Refletia sobre a fúria de Majora, sua sede de vingança, era fato que ele não gostara da atitude da mulher, contudo, pensava na dor que a mãe dela sofreu nas mãos de pessoas que destruíram sua vida.

Subiu as escadas e percebeu que a porta de seu apartamento estava apenas escorada, desconfiado a abriu com cautela e a surpresa foi instantânea: Majora, vestida com uma roupa casual, e não com aquele uniforme militar, estava sentada em sua sala conversando amigavelmente com Aghi.

— Que merda é essa, Aghi?

—Hã? Oi Miguel, a gente tava te esperando.— Disse Aghi.

Miguel deixou algumas sacolas de compras sobre a mesa e dirigiu-se até o corredor, olhou bem na direção dos quartos que ainda estavam fechados. Respirou aliviado quando viu que Sofia e o senhor Arcanjo estavam dormindo.

— Você deixou uma assassina entrar na minha casa? Com o vovô e a Sofia aqui?

— Eu não matei aquele homem, você estava lá. Ele morreu sozinho.

— Aquele não, mas quantas pessoas você matou?

Majora ergueu os ombros e como quem diz "não posso fazer nada" sacudiu a cabeça e fez uma careta.

— Ela não é má pessoa, Miguel.

— Claro, claro. Ela é um anjo com poder de fogo.— Ironizou Miguel puxando uma cadeira.— E o que você quer com a gente? Como nos achou?

— Eu precisava de respostas, ontem a noite quando vocês fugiram eu...

— Não fugimos, ligamos para uma ambulância.— Interrompeu, Miguel.

— Ficaram até ela chegar?

— Não! Como explicariamos aquilo?

— Então vocês fugiram.

Aghi começou a rir, a teimosia de Majora era semelhante a de Miguel.

— Continuando, segui vocês até aqui ontem. Hoje, entrei no seu prédio e esse garoto gentil me recebeu com esse café. Ele me contou sobre os tais Carniçais, sobre seus poderes e tudo que vocês têm passado. Devo admitir que com todos os problemas que você tem, seu avô, irmã, enfim...nossa, você é muito corajoso.

— Caramba, Aghi! Você nem conhece ela e já contou nossas vidas inteiras?

— Eu conheço, ela é Majora, lembra?

Miguel levou a mão à face diante do excesso de inocência de seu amigo.

— Relaxa, eu não sou sua inimiga, Miguel. Aghi me contou o que eu precisava saber, você é um bom rapaz e quero ajudar vocês em tudo. Você me conhece, né? Quero dizer, você sabe quem eu sou.

— Me ajudar, é? E como você vai fazer isso?

Majora sorriu e fez um gesto com os dedos que simbolizava dinheiro.

— Posso pagar os melhores tratamentos do mundo para sua irmã, encontrar um especialista para seu avô e eles teriam cuidado especializado 24 horas por dia.

Aghi olhou para Miguel exibindo um enorme sorriso, era a oportunidade da vida para seu amigo, toda aquela luta para sustentar a casa, todo aquele sofrimento constante seria substituído por um viver mais simples e sua família teria o conforto que sempre mereceu.

— Interessante, interessante.— Disse Miguel com um tom debochado.— Mas, eu tenho uma contraproposta.

Majora era esperta e já esperava uma resposta nervosa do rapaz.

— Pegue seu dinheiro e saia por aí ajudando outras pessoas, está cheio de pobres no mundo pra você fazer caridade e amenizar sua culpa.

— Miguel! Ela só quer ajudar e retribuir o que fizemos ontem.

— Ela é uma assassina, Aghi! Eu não quero nenhuma ajuda dela.

— O Carniçal estava fazendo aquilo! Ela não tem culpa...

Miguel interrompeu o garoto para expor seu ponto de vista:

— Conta outra! Vai me dizer agora que aquelas coisas controlam a mente? Eles fazem propostas, aceitar ou não depende de você. Ela veio para essa cidade com um objetivo e faria qualquer coisa para alcançá-lo.

— Miguel, ela perdeu...

Majora fez um gesto para Aghi e o garoto se conteve para que ela falasse:

— Ele tem razão, Aghi. Matei pessoas e só Deus sabe as coisas que fiz até chegar aqui, me arrependo da maioria, mas faria tudo de novo, e de novo e de novo... Mas quero ajudar vocês, se você não quer minha ajuda aceite pelo menos que ajude o menino, ele salvou minha vida.

Majora passou a mão na cabeça de Aghi e fez um carinho no garoto, que sorriu despretensiosamente para a mulher, em nada ela parecia com aquela figura amedrontadora e imparável dos últimos encontros.

— Tanto faz. — Disse Miguel dando de ombros.

— Ótimo.— Majora pegou sua bolsa, que estava na mesa, tirou um celular preto, um modelo que pareceu razoavelmente novo para Miguel. — Eu quero que você fique com isso, Aghi.

— Você tá me dando um celular de presente? Obrigado, mas não sei se eu preciso de um...

Surpresa com a simplicidade do garoto, ela explicou:

— Meu número está salvo na agenda, qualquer coisa que você precisar me liga. Não importa em qual local você esteja, apareço em alguns minutos pra te socorrer. Pode ser qualquer dia e em qualquer hora.

Disse Majora se levantando para partir.

— E Miguel...

— Sim?

— O que nossos pais fizeram em vida, não é uma bagagem que devemos carregar. Deixe os mortos irem, certo?— Ela dizia isso com intuito de lembrar a Miguel sobre o pai.

Miguel balançou a cabeça positivamente para a mulher, que se dirigia até a porta do apartamento, antes que deixasse o local ela topou com Isabel que se preparava para bater na porta. Majora olhou para Miguel e depois olhou para sua namorada, e disse:

— Ela é bonitinha, heim? Vocês formam um belo casal.

Com timidez Isabel não soube o que responder e apenas assistiu à mulher ir embora e descer as escadas do velho prédio. Com uma mão segurando a porta e a outra com algumas sacolas de comida, ela olhou com um ar de dúvida para Miguel que ainda estava sentado na mesa:

—Miguel, porque a mulher mais bonita que eu já vi na minha vida acabou de sair da sua casa?

O jovem olhou para Aghi e depois proferiu:

— Ela é amiga do Aghi.

Ômega - O Guardião Santo (Fantasia/Suspense/Sobrenatural)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora