27.Amargo Parte VIII

273 159 36
                                    


Thomas encarava os garotos ainda esperando por uma reação de surpresa, mas não encontrou. Miguel apenas encarava seu rosto enquanto passava a mão na testa. Não esboçava reação mesmo com aquele monstro na sala prestes a devorá-los.

— E então? Peça logo uma pergunta para o nosso amigo. Vamos fazer esse jogo ficar interessante.

O sorriso de Thomas, sempre provocativo, se esforçava para mostrar a imagem de segurança e domínio de toda aquela situação. Foram dias e dias, desde seu acordo com aquelas criaturas para criar uma armadilha perfeita. Era inacreditável que seres como aqueles poderiam criar algo assim.

Tudo mudou quando aquele homem assustador, sentado na beira de sua cama, como em um passe de mágica fez com que todas as feridas de seu corpo desaparecessem e um mundo de vingança surgisse a sua frente. Tudo foi rápido, a explicação sobre as criaturas chamadas carniçais o encontro com o monstro de presas afiadas e um pequeno tutorial de como ele poderia elaborar uma vingança.

Uma emboscada, uma prisão e um jogo de vida ou morte. Tudo estava malignamente adormecido em sua mente. Era como se o tal Carniçal soubesse o que assolava os cantos mais obscuros de sua cabeça. Nem pensou em expulsá-lo, Thomas apenas agradeceu a oportunidade de se livrar daquele maldito infeliz chamado Miguel e embarcou naquele mundo de monstros e terror.

Em nenhum momento questionou o motivo deles desejarem sequestrarem aquela criança estranha. Não estava em seu alvo, seu desejo era exclusivamente ser o melhor aluno de sua escola e agradar aos pais tão exigentes.

Nada poderia dar errado, afinal ele conhecia cada virgula daqueles livros. Como não recordar os finais de semana na casa do avô: nenhum jogo, nenhuma televisão e nenhum computador ou celular, apenas essas malditas enciclopédias para matar o tempo. Todos os finais de semana durante anos, era melhor ficar entediado na casa do avô, a outra opção era encarar as mudanças de humor de seus pais.

Mas agora tudo aquilo se voltou a seu favor, seu oponente podia ser inteligente mas com toda certeza nunca tocou em nenhuma daquelas extintas enciclopédias que atualmente eram tão úteis quanto um escoro de porta.

— Pergunte logo seu repetente. Vamos ver se você é realmente o melhor aluno dessa escola.

—Isso é injusto, o Miguel nunca leu esses livros velhos! —Retrucou o garoto. Ele era o prêmio que aquelas criaturas queriam, uma troca barata para se livrar do maldito repetente. — Você está trapaceando!

— Não existe trapaça, vocês aceitaram o jogo no momento que entraram aqui. Peça sua pergunta logo.

— Você já ouviu falar sobre um cara chamado Mies van der Rohe, Thomas? —Disse Miguel.

Que maldita pergunta era aquela?Alguma desculpa para fugir do jogo? Alguma pergunta para desestabilizar sua confiança? Provavelmente não deveria ficar pensando muito nisso. Era melhor desconversar:

— Eu não sei quem é esse. Talvez, se você estiver com sorte pode ser uma das perguntas do meu amigo aqui. Por que você não pede sua pergunta e descobrimos?

O maldito repetente abriu um sorriso. um sorriso provocativo que apenas aquele infeliz sabia fazer. Thomas só podia aceitar que estava ficando realmente desestabilizado, ele odiava aquela cara de superioridade estampada na face de seu adversário. Começou a se irritar:

— Peça logo a maldita pergunta.

— Não tô afim agora. — Respondeu Miguel.

— Você vai ter que responder. Eu vou pedir a pergunta pra você então. — Respirou fundo, estava ficando nervoso. — Carniçal qual é a pergunta desse infeliz?

Qual é o número de habitantes da China? — Disse o monstro.

Thomas retomou a confiança com aquela pergunta. Não existia a menor possibilidade do repetente responder corretamente, ainda que ele soubesse quantos habitantes aproximadamente existem na China não saberia responder de acordo com a enciclopédia que foi escrita décadas atrás. O jogo finalmente terminaria e ele teria sua vingança.

— Vamos lá, gênio. Arrisque uma resposta, tenho certeza que você vai acertar.

— Não quero responder agora. — Disse em tom de desinteresse. — Acho que eu vou dar uma volta, vamos lá, Aghi.

Dar uma volta? Que merda é essa? Pensava Thomas. O que esse imbecil estava pensando, afinal. Achava mesmo que poderia simplesmente ignorar tudo aquilo ou era algum plano maluco para fugir?

O garoto parecia também não entender, foi pego de surpresa tanto quanto ele. Mas aparentemente ele obedecia o repetente, os dois simplesmente deram as costas e começaram a andar.

Como aquilo irritava Thomas, a vitória está em suas mãos mas o maldito repetente não queria aceitar. Não queria aceitar, isso poderia significar que eles tentariam fugir da escola. Escolha idiota já que uma das regras do jogo era que a escola só poderia ser abandonada pelo vencedor.

— Repetente! —Gritou Thomas na direção dos garotos.

Os dois se voltaram imediatamente para ele.

— Não existe saída daqui. Você só vai deixar esse lugar quando acabarmos. Se quiser perambular por aí e se despedir da escola fique à vontade. Eu estarei aqui esperando tranquilamente. Quando voltar, você vai jogar e perder. Sua derrota vai fazer essa criatura mastigar seu corpo lentamente e vou me deleitar com seus soluços implorando por misericórdia, seus ossos se partindo serão minha música.

O olhar lancinante de Thomas era estranho, todas as suas frustações e seu ódio por Miguel ecoaram naquelas curtas frases provocativas. Seu ressentimento pelo rival chegara ao ponto de desejar uma morte brutal, um sentimento que Miguel e Aghi esperavam de um Carniçal, mas nunca de um humano.

— Não se preocupe, eu volto depois. — Respondeu Miguel sorrindo.

Bastardo maldito, deixe que ele se divirta com aquele maldito sorriso no rosto afinal, não existe escapatória. Cedo ou tarde ele iria rir por último enquanto o monstro nas sombras arrancaria cada membro daquele corpo infeliz, pensou Thomas.

****

Capitulo dedicado a equipe da Wattpad e a todos que fizeram esse livro ganhar o prêmio Wattys 2018.


Ômega - O Guardião Santo (Fantasia/Suspense/Sobrenatural)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora