31.Família Parte I

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Do lado de fora da escola tudo parecia normal, a escola estava inteira: nem uma pedra fora do local, era como se nada daquilo tivesse acontecido

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Do lado de fora da escola tudo parecia normal, a escola estava inteira: nem uma pedra fora do local, era como se nada daquilo tivesse acontecido. Miguel deduziu que não estavam na escola, e que durante todo aquele tempo esteve em um universo criado pelo Carniçal, ou dentro do próprio.

Lembrou-se de Aghi desacordado, o corpo do amigo e de Thomas estavam caídos ao seu lado, precisava urgentemente socorrer o garoto, que estava com a cabeça ferida. Sua preocupação de que algo pior pudesse ter acontecido foi dissipada quando ao tocar em Aghi perceber que ele estava roncando.

— Seu, filho de uma... — Optou por acordá-lo com um tapa ao invés de completar a ofensa.

— Ai! — Exclamou Aghi ao acordar assustado. — Por que você fez isso?

— Eu pensei que você estava desmaiado, morto, morrendo, enfim, sei lá. Como você pode dormir no meio daquilo?

— Eu... eu não sei. — Esfregou a nuca enquanto tentava buscar palavras. — Quanto mais eu me aproximava do Carniçal, mais sono sentia. Como a gente saiu da escola? Cadê o Thomas?

Miguel apenas acenou com a cabeça na direção de K. O jovem acabava de acordar e ainda não entendia que estava a salvo, fora da escola. Aghi correu na direção dele, e o ajudou a levantar.

— Thomas, tá tudo bem. Escapamos.

Thomas aos poucos recobrava os sentidos, assustado empurrou a mão de Aghi que o levantou. Sua expressão assustada voltou a antiga face de raiva quando olhou na direção de Miguel.

— Isso não muda nada, repetente! Eu ainda vou sumir com você! Eu vou...

Antes que pudesse terminar, Miguel correu em sua direção e agarrou o dedo indicador que estava em riste enquanto esbravejava. Com um movimento forte seu dedo fez um estalo tão alto que assustou Aghi. Era exatamente o que parecia: Miguel quebrou o dedo de Thomas.

— Seu filho da... Meu dedo! Solta meu dedo! — Contorcia-se em agonia.

— Apenas um aviso, Thomas: Se você me ameaçar outra vez eu te mato sem pensar. Você tá vivo por causa desse garoto. Agora seja adulto uma vez na vida e resolva seus problemas, sozinho. Se você quer ser melhor aluno estude mais, se você tem um problema com seus pais, enfrente-os, mas nunca mais se aproxime da gente.

Os olhos de Kannenbergh lacrimejavam, talvez pelo fato de seu algoz saber decifrar tudo que se passava em sua alma atormentada, ou simplesmente pelo fato de seu dedo quebrado doer muito, apesar de um indicador ser um preço pequeno, comparado a ser devorado.

— Eu te odeio, seu repetente! — Disse Thomas enquanto soltava o indicador quebrado e corria para longe de tudo aquilo.

Miguel, parado entre as duas estatuas de leões que marcavam a entrada da escola, parecia imponente e determinado. A luz da lâmpada principal iluminava seu rosto mais do que as estatuas, para Aghi seu amigo foi naquela noite mais forte e corajoso que um verdadeiro leão. De alguma forma, a força emanada dele não parecia boa, era justa, mas excessivamente parcial. Lembrou-se de uma fala do Senhor Todorov, em um dos seus longos sermões: "Pobre do homem que pensa ser juiz e o carrasco, ele termina seus dias sozinho em uma jaula que o próprio construiu."

— Miguel, por que você fez isso? Ele não podia fazer mais nada. O Thomas só estava assustado.

Miguel, agora com um sorriso conciliador, agachou-se na altura de Aghi e encarando os olhos do amigo, disse:

— Nesse mundo você tem duas escolhas, Aghi: Ser odiado por amar demais ou ser amado por odiar demais. Você escolheu a primeira opção, respeito isso. Mas, esse cara tentou cometer um assassinato, a minha vontade era acabar com ele.

— Matar não pode ser uma solução, Miguel. Eu vi seus olhos lá dentro. Eu não sei o que esse poder fez com você, mas isso não é bom.

— Não, não aceito isso. Olha só, esse "garoto" tentou matar nós dois lá dentro. Eu não posso chamar a polícia e dizer que um monstro tentou nos devorar, mas posso deixar que esse idiota prove do próprio veneno.

Aghi balançou a cabeça negativamente, Miguel sabia que a criança nunca concordaria com suas palavras. Talvez seus argumentos não tivessem Aghi como alvo, e sim, o próprio Miguel. Precisava se convencer de que nada mudou, era o mesmo homem de sempre, tentava se enganar em meio à pensamentos conflitantes. Sabia que sua personalidade estava mudando, estava bravo, desconfiado, mas quem não ficaria assim sendo perseguido por aqueles malditos Carniçais?

— Você reparou? — Aghi ignorou o assunto e começou a olhar em volta.

— Sim, aqueles Carniçais que estavam aqui fora, a neblina, tudo sumiu. Eles queriam a gente lá dentro, certo?

O garoto, que para Miguel era um especialista em Carniçais, consentiu com a cabeça.

— De qualquer forma conseguimos, estamos livres, né?

— Penso que sim. — Respondeu, Aghi.

Antes que pudessem prosseguir com o assunto o celular de Miguel vibrou, ocasionando um pequeno susto em ambos, que logo foi substituído pela preocupação de Miguel. Só poderia ser Isabel, preocupada com mais um de seus atrasos.

O número não pertencia a sua namorada, era desconhecido. Geralmente números desconhecidos não são um bom sinal, mas depois de toda a situação vivida na escola nada poderia preocupá-lo, pelo menos era o que pensava.

— Alô? Sim, sou Miguel... É de onde? Hã? Me desculpa a ligação tá péssima.

Aghi observava curioso, quase aflito. Miguel quase não conseguia escutar, limitava-se a dizer sim e "aham", mas sua feição de repente se tornou preocupada, algo dito no telefone o incomodou muito.

— Mas como isso foi acontecer? Tá, tá bem. Eu tô indo agora. Obrigado pelo aviso.

Desligou o telefone, com o semblante aterrorizado, e a face branca como alguém que acabara de escapar de um acidente de trânsito.

— Tá tudo bem? Era sua família? Tá tudo bem com a Sofia?

— Não tem nada bem, Aghi. Alguém invadiu e destruiu o tumulo dos meus pais.

A chuva em sua forma mais amena tomara os céus naquela noite, era quase um choro.

Continua.  

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Daqui pra frente apenas coisas sinistras... ou não.

Ômega - O Guardião Santo (Fantasia/Suspense/Sobrenatural)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora