29.Amargo Parte X

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Voltaram para sala iluminada, lá estava Thomas e a criatura nas sombras, imóveis no mesmo lugar. Miguel aproveitou para sorrir sarcasticamente na direção de seu colega de classe, ele sabia o quanto aquilo provocava seu rival e não desperdiçava uma chance de fazê-lo.

A cara do jovem Kanenbergh mostrava indiferença mas o corpo dava sinais de ansiedade: braços cruzados, dedos dançando e o pé inquieto batendo contra o piso. Miguel estava conseguindo o que queria e a cada segundo irritava mais o oponente a sua frente.

— Vejo que acabou seu passeio, e então, vamos jogar? Sua pergunta ainda não foi respondida. — O sorriso de Thomas era falso, sua confiança estava obviamente abalada.

Aghi olhava para Miguel, ele ainda não entendia o que estava acontecendo. Seu olhar ainda era curioso, quase inquieto.

—Agora não tô com vontade. — Respondeu Miguel com indiferença.

Os olhos contorcidos, o semblante irritado. Ele estava enlouquecendo.

—Repetente, você é tão burro assim? Não existe escapatória desse lugar. Provavelmente você está enrolando esperando ajuda. Acredite, ela não vai chegar. Não existe pessoa nesse mundo que possa tirar nós três daqui antes do jogo acabar. Quanto mais você enrolar mais longe você fica da saída. Aceite o destino e responda a maldita pergunta de uma vez!

— Você não sabe de nada, Thomas. Você é um idiota.

— Eu não sei? E por acaso o que eu não sei, gênio?

— Sabe, minha irmã adora jogos, de todo tipo. Tabuleiro,tipo dama, xadrez, enfim. Mas os jogos que ela mais ama são os que eu criava pra entretê-la. Com o tempo ela começou a achar certos padrões nos jogos que eu bolava. Ela não se contentava em jogar, ela queria aperfeiçoá-los. Me fazia escrever as regras e ficava estudando enquanto eu trabalhava. Garota esperta.

Thomas descruzou os braços, deu alguns passos na direção dos garotos. Miguel aproveitou e chegou mais perto do adversário, queria encarar seus olhos de perto.

— Mas, regras são complicadas. regras demais criam brechas, regras de menos também. Quando você bola um jogo para uma garota esperta duas coisas são importantes: A primeira é esperar que ela burle os princípios óbvios do jogo para ganhar e a segunda é, crie uma versão beta para corrigir os erros. Não crie regras em excesso, menos é mais.

— Então você achou um erro? Acha mesmo que você não jogar é um erro? Acha mesmo que eu não esperava isso?

Miguel sorriu, enquanto Aghi recuava, o clima na sala estava ficando mais tenso.

— Esse é o problema Thomas, você pensa que todos são babacas. Coisa de gente idiota e mimada. Se não fosse tão arrogante teria pensado em você e não apenas em como me vencer. Tudo bem, você criou um jogo de perguntas que eu não posso responder, isso enalteceu seu ego deficiente, mas me responda: enquanto você se empolgava pra criar todo esse cenário de vingança você lembrou de comer alguma coisa? Lembrou de dormir ou beber água?

A feição de Thomas mudou de imediato, estava entendo perfeitamente toda aquela enrolação, estava estampado em sua cara.

— Pela cara de decepção e desespero, parece que não, né?

— Não existe desespero nenhum, estamos na mesma situação. Se você consegue eu também posso.

Miguel balançou a cabeça, colocou a mão na testa e disparou:

— Acho que não estamos, eu tenho quatro garrafas de água, biscoitos e se eu dormir o Aghi vigia pra esse monstro não me devorar, ninguém vai fazer isso por você.

— Eu não preciso dormir e isso é uma escola. Aqui tem comida e água seu repetente.

Nesse momento Aghi entendeu todo o plano, a torneira aberta a comida desperdiçada e tudo mais devidamente arquitetado por Miguel.

— Pois é, sobre a água, eu acho que não sobrou nada. Graças a seu plano brilhante de nos isolar do mundo você cortou o abastecimento de água da escola, eu só precisei acabar com o resto que estava na caixa d'água.

— Idiota, provavelmente tem suco e água na dispensa. — Quando elaborava o que dizer foi interrompido.

— É mesmo, Thomas? Tem certeza? Acho que a dispensa anda um pouco vazia.

Thomas deixou a sala desesperado, correu enquanto tropeçava pela porta gritando "maldito". Aghi olhou surpreso para Miguel, que sorria da forma mais satisfeita possível.

— Então foi por isso que nos livramos da comida? Só você pensaria em algo assim, Miguel. — O garoto não sabia o que aconteceria daquele momento em diante, mas não conseguia disfarçar seu alivio.

Miguel limitou-se a balançar a cabeça, desta vez positivamente, enquanto esperavam Thomas perceber o óbvio: Não encontraria comida alguma naquela escola. Escutavam o jovem tropeçar pelos corredores escuros enquanto voltava para a sala.

— Lá vem ele, Aghi. Se prepara, isso vai ser impagável.

Thomas Kannenberg parou em frente à porta, enquanto recuperava o ar, seus olhos eram puro ódio, os dentes trincados e a mão direita trêmula que se agarrava desesperada ao batente da porta, eram um presságio de suas próximas palavras:

— Seu desgraçado! Acha que isso vai me impedir? Acha mesmo que meu venceu?

— Sim, eu acho. Seu imbecil.

Thomas deu passos largos e se posicionou na frente de Miguel. Ignorou a presença de Aghi, bem ao lado, e ergueu o dedo indicador na direção de seu adversário.

— Com quem você pensa que está falando, seu repetente? Me escute agora...

— Não, imbecil. Quem vai escutar é você. Antes de sair de casa eu entrei no site da escola. Você deveria ter feito o mesmo. Sabe o que eu vi? A nova colocação dos alunos após os novos testes que aconteceram para os que justificaram suas faltas. conhece a Alice, amiga da Isabel? Ela fez a prova, e adivinha? Ela tirou noventa e sete, ela ficou em primeiro na colocação geral. Na minha frente, na sua frente. Melhor aluna da escola. Ela sempre foi.

Thomas contorcia o corpo em desaprovação, ele obviamente não poderia processar todo aquele fracasso.

— Seu jogo estúpido não vai dar em nada. você não tem como vencer e mesmo que ganhe não será o primeiro dessa escola. Você sempre será um mimado cretino, uma prova da mediocridade humana. Resumindo, um imbecil.

— Não me chame de imbecil seu repetente idiota! — Thomas agarrou a camisa de Miguel com força.

— Você é um imbecil, cara. Seu jogo é imbecil, a sua inveja de garoto mimado que provavelmente vive pra agradar o papai também é imbecil. Você poderia só ter pedido pra essa coisa me devorar, mas não. O grande imbecil tinha que mostrar superioridade.

— Chega seu desgraçado, jogue esse maldito jogo de uma vez.

— Me obriga, imbecil.

— Miguel, o que você tá fazendo? — Aghi perguntou assustado.

Miguel virou o rosto na direção do garoto, ignorando seu adversário que o agarrava em sinal de desafio.

— Relaxa Aghi, esse cara não vai fazer nada. — Virou o rosto novamente para Thomas. — Não é mesmo, imbecil? Ficou sério, imbecil? Por acaso você...

— Cala essa maldita boca! — Gritou Thomas enquanto socava a cara de Miguel com toda a força que ainda lhe restava.

Seu corpo tombava para trás, mas a feição no rosto de Miguel era de pura satisfação. Finalmente conseguiu o que queria, Thomas se rendeu ao impulso mais primitivo dos seres humanos: socar a cara de alguém durante uma discussão.

Naquele momento o jogo terminou.

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Na próxima teremos a conclusão de Amargo.

Em breve, muito em breve. Não percam, heim.

E se puder comenta e vota!

Aquele abraço!

Ômega - O Guardião Santo (Fantasia/Suspense/Sobrenatural)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora