57. Guardião Parte VII

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Uma enorme mistura de cores e formas contornaram o corpo de Miguel, naquela dança de luzes e delineamentos, gradualmente sua corrente espiritual se desfazia e deixava de existir, além da sensação de perder algo irreparável, ele sentiu uma gloriosa...

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Uma enorme mistura de cores e formas contornaram o corpo de Miguel, naquela dança de luzes e delineamentos, gradualmente sua corrente espiritual se desfazia e deixava de existir, além da sensação de perder algo irreparável, ele sentiu uma gloriosa noção: nada mais limitava seu espírito.

Era assim que Aghi vivia? Sem amarras ou limites? Enquanto constatava não mais pertencer ao mundo, Miguel sentia todos os elementos da vida, era uma sensação tangível de contemplar o todo do universo. Partículas de água em forma líquida, temperatura ambiente, argônio, dióxido de carbono e vapor de água eram tão claros como a cor do concreto daquela construção.

Ele podia praticamente distinguir os cerca de 40 litros de água que circulavam por seu organismo, todos os sentidos estavam mais aguçados que o normal.

Durante o tempo que tentava compreender o que acontecera entre seu corpo e sua alma, os soluços de desespero de seu amigo podiam ser claramente distinguidos entre o som dos pássaros que fugiam assustados, devido à explosão, e a respiração humana que o corpo usado pelo Guardião produzia.

Miguel ainda agachado com o impacto do peso sobrenatural colocado sobre ele, fez um gesto com a mão para que Aghi não se aproximasse dele, ergueu os olhos para o Guardião com confiança.

— Você tem ideia da besteira que acabou de fazer, Miguel? — O Guardião Santo repetiu tais palavras sem parecer muito surpreso.

— Bem, se vou morrer de qualquer forma... — Miguel se ergueu facilmente, era nítido que o peso tão absurdamente forte, já não causava o mesmo efeito, no instante em que sua alma pulsava em sintonia com seu corpo tudo era possível. — Pelo menos vou fazer você me encostar, seu Guardião de merda!

Miguel estava de pé, apesar da diferença de altura, se encaravam. O corpo do motoqueiro usado pelo Guardião era grande e forte, mesmo assim, ele mirava nos olhos de seu algoz.

— Então, esse é seu grande plano? Vai lutar comigo? Supondo que você pudesse me derrotar, qual seria o próximo passo? Você vai morrer em instantes e o garoto vai ficar sozinho nessa construção abandonada?

— Eu não pensei em todos os detalhes, só sei que você vai aprender que não é intocável!

Miguel deu um passo, e o guardião se manifestou de imediato, ergueu a palma de sua mão na direção de Miguel e um peso enorme começou a empurrar seu corpo para trás, recuou cerca de um metro, mas se deteve apesar do impacto, alguns instantes atrás aquilo o arremessaria para fora do loteamento.

— Sua teimosia é tão grande assim? Se Agnathi não retornar para a caverna agora, em instantes não poderei protegê-lo.

— Você não quer protegê-lo, você quer matá-lo...

Continuou seu caminhar em direção ao Guardião, o corpo envergado pelo impacto da presença não se abatia, mesmo quando sentiu pela primeira vez o poder transbordar por seu corpo não se comparava àquilo que o impulsionava, era simplesmente poder. 

Por um momento, pode-se notar o semblante do inabalável ser a sua frente se alterar, era um leve franzir de testa que em muito se assemelhava a preocupação, sentimento tão humano que em nada condizia com o Guardião Santo.

— Se você quer tanto provar seu merecimento, meu jovem, vou te dar essa oportunidade. O que vou mostrar agora é a diferença entre um homem e aquele que presenciou tudo que acontece no universo.

Aquele enorme peso se intensificou de tal forma que Miguel retornou ao chão, seu corpo se vergou ao ponto em que estava anteriormente, e seus joelhos tocaram o solo.

— Eu poderia acabar com sua existência agora mesmo, rapaz.

— Já disse que vou com você, parem com isso por favor! Miguel fica no chão, ele vai te matar. — Implorava, Aghi.

— Agora é tarde, Aghi... — sussurrava Miguel.

— Vou com ele, não precisa fazer isso. Ele é o Guardião Santo, você não tem chance!

Com dificuldade Miguel retomou seu equilíbrio e começou a se arrastar pelo chão.

— Tá na sua cara que você não ir, Aghi... Só esse cara não enxerga isso...

O Guardião Santo se mostrou surpreso e de imediato fitou Aghi.

— Isso é verdade, Agnathi Galardoni? Você não quer fazer o percurso e fechar a passagem?

— Eu... eu quero, só... — Aghi se voltou para o chão, não podia encará-lo e admitir seu receio — eu só estou com medo. 

Miguel se movia lentamente pelo chão, enquanto o Guardião era tomado por outros dos sentimentos humanos, a preocupação e a ira.

— Você sabia que não seria fácil, no fundo do seu coração você sabe o que é o certo, ficar aqui e encarar o que está por vir não será bom, Agnathi. O outro caminho é feito de dor e desespero, não apenas para você, mas para toda essa família. O homem que está se aproximando não é como esses Carniçais, a maldade dele não pode ser contida e vai enfraquecer sua fé. Eu não posso me envolver, não poderei proteger sua vida.

— Eu sei... eu vou com você, só não machuca o Miguel.

Antes que pudesse responder qualquer coisa o Guardião Santo, presenciou o impossível, era a mais pura manifestação do ímpeto humano: uma mão tocara seu pé direito, Miguel deitado ao chão finalmente o alcançara, ele tocara um ser celestial como tinha prometido, sua força de vontade ultrapassara o que se podia compreender.

— Eu disse que você não era intocável...

— Solte minha perna agora, Miguel! Isso precisa ser feito. Vou levá-lo comigo.

— Eu... não vou deixar...

— Me solte agora, rapaz!

— Não... até você prometer que ele vai ficar aqui...

— Você não quer entender, você não pode protegê-lo! Sua existência vai acabar em instantes.

Miguel não podia sequer erguer a cabeça para olhar seu algoz nos olhos, contudo seus dedos se agarravam a perna do Guardião Santo de forma rígida e determinada.

— Se é assim que vocês querem, assim vai ser. — O Guardião Santo se agachou e com sua mão soltou os dedos que o agarravam. — Será o caminho mais difícil, então.

Imediatamente a enorme força que se aplacara de Miguel se esvaiu, e ele conseguiu enfim puxar o ar com força e se ajeitar sentado, Aghi correu em sua direção para ajudá-lo e com um sinal de mão, ele mostrou que estava bem.

O Guardião se ergueu e olhou fixamente para frente, onde um carro acabara de entrar no loteamento, sua feição era uma mistura de desapontamento e insegurança.

— De qualquer forma, agora é tarde demais. Ele está aqui.

Ômega - O Guardião Santo (Fantasia/Suspense/Sobrenatural)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora