42. Carmesim Parte VI

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Emiliano Espada sentia aversão a Cidade Cinza, a escória que impregnava às ruas com violência e vício, além da poluição e barulho da cidade grande eram desconcertantes para um homem de sua idade. Fez a fortuna de sua família aumentar, noticiando em seus veículos de mídia esses mesmos acontecimentos, contudo nunca gostou da cidade.

Gostava do campo, de sua fazenda e das pessoas que o chamavam de "doutor" e pediam desculpas antes de lhe dirigir a palavra. Naquela imunda Cidade Cinza, ninguém o conhecia fora de seu círculo social. O filhos administravam a empresa de comunicação, ele mal participava das reuniões.

Entretanto, naquela última noite antes de partir, no bar do hotel, algo positivo aconteceu: uma bela e jovem ruiva o cercou com os olhos e sorriu ardentemente em sua direção, o velho homem sabia que o flerte não era por sua aparência, mas sim por ter condições de reservar um quarto no Central Palace.

Aproximou-se da jovem e foi entretido pelo carisma dela enquanto tomavam alguns drinks. Suzana, nome da bela ruiva de vestido azul, sorriu quando convidada a conhecer sua suíte, entretanto pediu para antes o empresário encontrá-la na saída dos fundos do edifício.

Reticente, porém movido por sua libido, ele concordou e saiu do hotel, logo após a jovem, separados logicamente. Os fundos davam para uma rua deserta, um beco sujo, antes que pudesse desconfiar de algum golpe Emiliano avistou a mulher.

Aproximou-se dela e com um sorriso disse:

— Eu não tenho mais idade para essas aventuras, querida! Você não prefere uma grande e confortável cama?

— Seria maravilhoso, querido. O problema é que essa noite tem outra mulher interessada em você. — Suzana sorriu.

— Quanto mais melhor, minha querida. Onde está a outra jovem?

A ruiva acenou com a cabeça e para a surpresa de Emiliano uma jovem saiu das sombras, uma mulher morena. Ela usava um uniforme militar e estava armada com uma arma de fogo.

— Que merda é essa? Que brincadeira vocês pensam que estão fazendo? — Disse o homem com um tom ameaçador.

A mulher armada o ignorou e entregou algumas notas para a ruiva.

— Obrigada, Suzana! Eu assumo daqui.

A mulher sorriu, pegou o dinheiro e deixou o beco, antes que Emiliano fizesse o mesmo percurso, a outra moça apontou a arma em sua direção.

— Você sabe quem sou eu, senhor Emiliano Espada?

— Olha garota, eu não tenho tempo pra essas merdas. Você quer dinheiro? Meu relógio? Pode pegar.

— Eu não quero nada tão trivial, meu bom senhor. Quero algo mais denso, quero minha vingança.

— Vingança? Eu nem conheço você!

— Mas conheceu minha mãe, Amanda, você lembra dela, não é mesmo? Você desgraçou a vida dela de todas as formas possíveis.

Emiliano virou o rosto imediatamente, naquele momento entendeu tudo, a morte de Enrico e de outros conhecidos. A mulher bem na sua frente, elemento de acontecimentos distantes, marcas de sua vaidade na juventude.

— Minha filha, não sei o que te disseram, mas eu não tenho nada com essa mulher.

— Eu não sou sua filha, eu tive um pai e ele morreu. Foi assassinado por sua causa.

— Diabos! Eu nunca matei ninguém, como posso ter culpa na morte do seu pai?

Ela sorriu, a mulher na sua frente parecia determinada.

— Em uma noite, alguns anos atrás, meus pais estavam em uma festa e encontraram o senhor, você se lembra da festa de Caridade de Dom Parattino? Cerca de vinte anos atrás.

— Eu não sei que merda colocaram na sua cabeça, eu não machuquei ninguém, ainda mais em uma festa de Caridade de vinte anos atrás.

— O seu crime não foi nessa festa, foi anterior, o que aconteceu nesse evento foi que o senhor cumprimentou um jovem casal e a mulher reconheceu você. Com sua lembrança veio a dor e o desespero que ela se esforçava pra esquecer. — A mulher o encarou bem nos olhos. — Ainda não lembrou ou está fingindo?

O homem hesitou por um instante, entretanto sabia que de nada adiantaria fingir.

— Raios, garota! Ela já tinha sido minha funcionária! Eu apenas os cumprimentei e a mulher surtou, saíram correndo do evento. No dia seguinte soube que ela matou o esposo. Como posso ter culpa?

— Como posso ter culpa? Você realmente não sente remorso seu desgraçado? Você denunciou essa mulher por algo que ela nunca fez. Ela foi humilhada e sofreu de todas às formas que uma mulher pode sofrer! E no fim, ela só não foi assassinada porque constataram que não podia provar nada contra você.

— O que você quer de mim, mulher? Sua mãe morreu, supere! Não culpe os outros pelas porcarias da sua família, sua mãe era uma vadia maluca!

A mulher ficou enfurecida, colocou a mão em sua nuca e começou a mover o rosto, enquanto mordia os lábios com força.

— Eu pensava em te fazer implorar por sua vida, entender seus erros e te dar uma morte com dignidade. — Ela destravou a arma. — Vou apenas te matar, talvez no inferno você entenda o que fez.

Nesse momento a mulher levou as mãos aos ouvidos, como se alguém estivesse falando com ela, e prontamente se voltou para trás, desviou de uma pedra arremessada contra ela. Eram dois garotos da cidade, o mais alto arremessara o objeto sem sucesso.

— Você não vai me acertar duas vezes do mesmo jeito. — A mulher disse aos garotos.

Emiliano aproveitou o momento e gritou para às duas crianças:

— Cuidado garotos, essa mulher está armada! Saiam daqui a chamem um policial.

Ambos o ignoraram, de alguma forma os dois conheciam aquela moça que ameaçava sua vida.

— Majora! Por favor não faça isso. Se você matá-lo, essa coisa na sua nuca vai sugar sua vida! — Disse o garoto menor.

— Eu não tenho medo de morrer. Disse a tal Majora enquanto voltava a mira de sua arma novamente na direção de Emiliano.— Só preciso levar esse verme comigo.


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Obrigado pela leitura!!!^^

Aquele abraço!

Ômega - O Guardião Santo (Fantasia/Suspense/Sobrenatural)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora