47. Amaldiçoado Parte II

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Quando o andarilho envolto em seu velho cobertor de lã se aproximou do carro, Alfredo com a arma em punho deu passos tímidos em sua direção.

Analisou bem a figura que se arrastava torta pelo asfalto, tomado pela terra do terreno deserto que o envolvia. O sujeito mal podia ser visto, o agasalho improvisado envolvia-o de tal forma que apenas seu olho direito, escuro e vazio, podia ser percebido.

— P... parado aí, cara!— Disse Alfredo de forma tímida.— Eu quero tudo que você tem.

O andarilho fixou os olhos na arma que era apontada de forma desajeitada e amadora por seu portador, ele limitou-se a virar o rosto para estrada e continuou andando. Alfredo olhou para Alex e Rinha sem saber o que fazer.

— Mostra pro Arregão como se faz, Smile.

Smile puxou sua arma da cintura e se colocou na frente do homem que imediatamente conteve seus passos.

— Você não escutou, meu camarada? Tira essa porcaria de cobertor da cara e me passa tudo que você tem.— Disse Smile com um sorriso provocador.

O andarilho tentou prosseguir seu caminho e ignorar as ameaças, mas Smile atirou no chão, próximo ao seu pé esquerdo e o sujeito parou novamente.

— Tira essa porcaria de cobertor agora, seu idiota!— Esbravejou.

O sujeitou olhou fixamente para ele, seu olhar firme encarava o sorriso do homem que o apontava uma arma, após alguns segundos de silêncio uma risada foi lançada pelo andarilho que ainda estava com o rosto encoberto.

Os quatro não sabiam como lidar com aquilo, a risada se tornava cada vez mais irritante, era como se o sujeito fosse louco.

— Para de rir seu retardo!— Smile agarrou o pano que envolvia o sujeito e o puxou revelando seu rosto.— Que merda é essa?

Era um homem branco como a neve, tinha um cabelo levemente prateado em um penteado arrepiado e uma boca tomada por uma costura em toda sua lateral direita em direção a parte proeminente acima do queixo. Não bastasse os lábios tomados por aqueles fios pretos em zigue-zague, ele permanecia firme com os olhos esbugalhados de uma forma insana.

— Sua aberração! Me passa esse cobertor e o que mais você tiver, e então vaza daqui!— Smile, pela primeira vez naquela noite, não estava rindo. O medo estava estampado em sua cara.

O homem não respondeu e prosseguiu com sua risada, que agora ao sair da boca costurada era ainda mais horrível de se presenciar.

— Aberração!— Gritou Smile e atirou contra o sujeito que caiu no chão.

Ele segurava a arma com força enquanto respirava afoito, o ar saia dele como se tivesse corrido uma maratona.

— Que merda é essa, Smile?— Gritou Alex assustado indo em sua direção.

— Vo...você matou ele?— Inteirou Alfredo.

—Eu não sei! O cara me assustou, droga!

Rinha que estava encostado no carro, descruzou o braço e se aproximou dos três, imediatamente Smile olhou seu semblante sério e percebeu ter cometido um erro. Atirar em um homem no meio do nada não estava nos planos daquela madrugada, alguém poderia passar por aquela encruzilhada em um carro e tudo estaria perdido.

— Foi mal, Rinha! Não esquenta, o cara é tipo um mendigo esquisito, ninguém vai dar falta dele!— Neste momento Smile estava aflito.

— Vamos colocar o corpo no porta-malas e ver se a gente encontra algum lugar pra desovar esse cara. Que merda, Smile!

— O que eu podia fazer? O maluco não parava de rir...

Uma lâmina atravessou a barriga de Smile, era um facão preto e afiado que o perfurou com facilidade. Alfredo caiu no chão, Alex e Rinha pegaram suas armas imediatamente.

A arma deslizou suavemente e soltou o corpo que caiu sobre o asfalto, o homem do rosto costurado estava lá com seu sorriso maquiavélico, enquanto Smile sangrava até a morte. Sem o cobertor, ele estava com uma postura reta, era alto e usava roupas escuras, além de um coturno preto.

Rinha descarregou a arma no sujeito, foram 6 tiros à queima-roupa que fizeram o homem cair no chão.

— A merda do cara tava vivo. E agora o que a ...

Antes que Alex pudesse prosseguir, o homem caído no chão começou a rir, ele se levantava como se o corpo não estivesse perfurado pelos projeteis que o acertaram, os furos estavam lá e o sangue também, mas o sujeito se movia normalmente. Ainda com o facão na mão ele pulou na direção de Rinha e o acertou com um corte lateral no peito esquerdo.

Rinha era grande, mas nada pôde fazer contra a velocidade de seu algoz que o perfurou duas vezes com suas estocadas: uma na barriga e outra no pescoço.

Alex aproveitou o momento e tentou abrir a porta de seu carro, mas o homem o alcançou rápido, ao perceber que também seria dilacerado ele se voltou rapidamente com a arma na mão. Sofreu um corte certeiro e sua mão foi arrancada, caiu no chão ainda segurando a arma.

— Cara, eu não fiz nada... me deixa ir embora!— Implorava, enquanto chorava e sangrava.

O homem poupou sua dor e o acertou na cabeça, dando fim aos gritos.

Alfredo se arrastou e pegou a chave do outro veículo que estava com Smile, em passos trôpegos correu na direção do carro, um tiro acertou sua perna e ele tombou na frente da porta do carona. Sentiu uma mão virar seu corpo, agora estava sentado recostado na porta.

— Olá!Qual é o seu nome?— Disse o homem da boca costurada.

— A...Alfredo. Por favor, não me mate... Tenho uma esposa grávida e duas filhas, eu não queria machucar ninguém. Só queria ganhar dinheiro, pagar as contas.

O sujeito estava de pé, bem na sua frente. Ele apontava a arma de Smile na sua direção. Deu um tiro no chão e depois acertou o ombro direito de Alfredo.

— Você gosta de piadas, Alfredo? Eu gosto e lembrei de uma ótima.

Alfredo com a mão no ombro, percebeu que o tiro pegou de raspão.

— Um cara estava muito estressado com o trabalho e suas dívidas, foi no médico fazer um check-up e o doutor disse que ele estava com pressão alta, colesterol alto e à beira de um derrame. Ele foi sincero e disse que o paciente precisava evitar estresse e levar uma vida mais saudável ou poderia morrer em breve, assustado ele acatou o conselho e resolveu mudar radicalmente. Começou a comprar alimentos saudáveis, pagou uma academia e levou sua esposa e filhos para fazer aquela viagem que eles tanto adiavam, fez acupuntura e Spa com a mulher. Não poupou em nada que pudesse trazer um pouco de felicidade, em alguns dias ele parecia muito melhor, estava feliz e aparentemente tranquilo.

Alfredo ainda que sem saber o porquê, sorriu para as palavras do homem.

— Então, um dia sua esposa chegou em casa com a correspondência e entre aquelas cartas estava uma notificação de seu banco, quando o homem a abriu e viu o valor de seu cartão de crédito teve um derrame e morreu na hora, bem na mesa da sala.

O sujeito gargalhava enquanto dançava a arma pelos dedos. 

— Por favor, me deixa ir...

Alfredo implorava desesperado.

— Eu gostei de você. Vamos fazer um jogo e se você sobreviver eu te libero!— O homem deu outro sorriso vazio, limitado pela costura na lateral de seus lábios.


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Ômega - O Guardião Santo (Fantasia/Suspense/Sobrenatural)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora