Capítulo XIV - Embolia gasosa

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EMBOLIA GASOSA

DRAMATIS PERSONAE

Doutora Vitória de Castro.

Senhor Benício de Souza.

Garçom, empregado do hotel.

Cena: Rio de Janeiro (1925).

ATO ÚNICO

CENA PRIMEIRA (única): Rio de Janeiro, salão do restaurante do hotel Copacabana Palace.

Estão sentados em uma mesa um pouco isolada do restaurante a Doutora Vitória e o Senhor Benício.

VITÓRIA: Particularmente, prefiro rosé a vinho tinto. Exceto se for espumante.

BENÍCIO: Não sou muito fã de espumante, para ser sincero. Apesar de quê, prefiro branco ao tinto. Especialmente se for de colheitas tardias.

VITÓRIA: Colheita tardia, é? Acho enjoativo. Imagino que você deva gostar de vinho do Porto também, não?

BENÍCIO: Ah, claro. Vinho do porto, meu primeiro porre. Tinha acabado de chegar em Coimbra, nunca nem tinha bebido pois... Bem, minha irmã não deixava. (Ri.)

GARÇOM: (Entra.) Posso servir-lhes mais alguma coisa?

VITÓRIA: Sim, mais uma garrafa, por favor.

(Garçom sai. Os outros dois permanecem em silêncio, terminando o conteúdo de suas taças.)

GARÇOM: (Entra novamente.) Aqui está, senhor. Senhorita. (Serve o vinho.)

(Sai o Garçom. Benício e Vitória permanecem em silêncio até que ele esteja fora de vista.)

VITÓRIA: Bem, como iremos fazer isso?

BENÍCIO: Eu realmente não queria envolver-lhe...

VITÓRIA: Ah, é? Então, conte-me, qual é o teu plano?

BENÍCIO: Confrontarei Lourenço, pedirei o afastamento dele da empresa e obrigá-lo-ei a sumir do Estado, talvez do país.

VITÓRIA: E se isso não funcionar? Afinal, sabes que não irá, certo? (Revira os olhos.)

BENÍCIO: Sim, eu sei. (Suspira.) Terei que apelar para o revólver de meu pai e seja o que Deus quiser.

VITÓRIA: Achei que não acreditasses em Deus. (Levanta a sobrancelha.)

BENÍCIO: Maneirismos.

VITÓRIA: Ainda assim, pareces ter muita fé de que isso resolverá as coisas.

BENÍCIO: Contanto que Lourenço suma, eu...

VITÓRIA: Isso não resolve coisa alguma, Benício! Irás para a cadeia!

BENÍCIO: Posso alegar crime de honra!

VITÓRIA: Não conseguirás alegar crime de honra, tendo em vista que ele é marido dela e não há absolutamente nada em nossa legislação que prevê agressão marital! Lourenço é um homem respeitado e de família influente. Achas que os parentes dele iriam deixar por isso mesmo?

BENÍCIO: Posso conformar-me em ir para a cadeia contanto que Marieta e meus sobrinhos estejam a salvo.

VITÓRIA: Não sejas burro, homem! Tente usar a cabeça ao invés desta macheza tonta de querer resolver tudo como se fosses um cavaleiro medieval!

Castro e SouzaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora