Capítulo XXI - Senhora

494 78 11
                                    

– Imagino que Freud¹ não lhe agrade muito. – Disse Benício, deitado de frente para a lareira com Vitória no aconchego de seus braços, ambos nus, enquanto fumavam e esquentavam-se em baixo de um cobertor de lã.

– Como?

– O que ele declara sobre o prazer sexual feminino...

Vitória virou-se para ele, confusa, tentando compreender o que ele estava dizendo. Até que entendeu.

– Ah, sim. – riu – Não, não mesmo. Que bom que percebeste.

– Minha mandíbula percebeu... - resmungou.

– Estou surpresa por mencionares Freud.

– Eu é que deveria estar ultrajado por uma dama ler Freud. – Caçoou Benício. Vitória revirou os olhos. – Mas, preciso admitir que costumava achar que fazia algum sentido, até ver que, na prática, não funciona nem um pouco.

– Quantos milhares de experiências precisaste até perceberes que não conseguiria satisfazer uma mulher assim?

– Acho incrível como assumes que sou muito mais garanhão do sou na realidade, sabia?

– Ah, é mesmo? – riu – Tudo bem, eu sei que, na verdade, não é assim. És apenas um colecionador de primeiros beijos e cartas de amor em papel cor-de-rosa.

– Maldosa.

– Claro. – revirou os olhos – Mas, em relação a Freud, não poderia me importar menos, ele não é meu amante. – riu – Talvez eu seja uma mulher fraca². Condenada a preferir sentir mais prazer aqui – ela tocou-lhe o lábio com o polegar – do que aqui.

Vitória desceu a mão lentamente até seu pênis e Benício atacou-lhe a boca entre risos, sentindo o inchaço provocado por tantos beijos que haviam passado por aqueles lábios naquela tarde. O que estava a ponto de evoluir para mais uma transa foi interrompido por batidas na porta da frente do chalé. Os dois se olharam em silêncio, confusos, até ouvirem as batidas novamente.

– Estás esperando por alguém? – Perguntou Benício, preocupado.

– Ninguém deveria saber que este lugar existe. Muito menos que estamos aqui.

Os dois levantaram-se rapidamente e foram atrás de suas roupas, espalhadas pelo chão da sala. Quando estavam mais ou menos vestidos, foram até à porta, apreensivos, sem saber o que esperar.

– Irei ver o que é. – Disse Benício. – Qualquer coisa, saia pela varanda do quarto.

– Não! Está maluco? – Sussurrou Vitória. – Esta casa é minha, você é quem não deveria, em hipótese alguma, estar aqui. Ao contrário de mim.

– Vitória, pode ser perigoso!

– Fique atrás da porta.

Cautelosamente, Vitória abriu a porta, sem remover o trinco. Um rapaz moreno, aparentando estar muito cansado, revelou-se atrás dela.

– Pois não? – Perguntou Vitória, nervosa.

– Dona Vitória?

– Sim?

– Meu nome é Francisco, eu trabalho pr'a Dona Helena.

– Francis... Ah, Meu Deus, Francisco, é você? Não lhe reconheci!

Vitória removeu o trinco da porta e a abriu, mais calma, ao reparar que se tratava de um conhecido. Fez sinal para Benício, ainda atrás da porta, para indicar que estava tudo bem.

– O que lhe trazes aqui, Francisco? – Questionou Vitória.

– Dona Helena pediu que eu lhe entregasse isso.

Castro e SouzaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora