Capítulo XII - As leis e o caos dos homens

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Marieta andava de um lado para o outro, (co)ordenando funcionários, cuidando dos filhos e dando atenção aos primeiros convidados que chegavam ao jantar que Lourenço promovia. Não era uma ocasião especial, apenas seu costume de garantir, em uma única noite, a manutenção de seus contatos e a preservação de certas amizades que o mesmo considerava importantes e, possivelmente, convenientes. Mas, apesar dos interesses superficiais, ele gostava dessas noites onde podia vestir um belíssimo terno e fumar charutos com verdadeiros ares de aristocracia. Mais do que ele, gostava bastante disso a Marieta, que se deliciava em ter a casa cheia, vestir algo elegante e usar de uma desculpa para deixar os filhos a noite inteira com a babá enquanto ela bebia e socializava. E, mesmo com a responsabilidade de organizar tudo sobre seus ombros, era uma das coisas que ela mais gostava de fazer desde que se casou.

Lourenço convidou Benício, por pura educação, já que, se ele não fizesse, Marieta faria. Esperava escutar uma resposta negativa, como de costume – havia uma espécie de acordo não-verbalizado entre os dois sobre reconhecer suas desavenças e evitar atritos desnecessários - mas surpreendeu-se ao escutar não somente um "sim", como uma pergunta interessantíssima:

"Posso levar a Doutora Vitória?"

Benício e Vitória chegaram ao jantar de braços dados – para a alegria de Marieta – e a dona da casa foi cumprimentá-los logo que os viu entrando pela porta.

– Chegaram, enfim! – Exclamou a anfitriã ao vê-los.

– Marieta, querida, que linda estás! – Comentou Vitória após cumprimentar a amiga com dois beijos no rosto.

– Oi, mana. – Disse Benício ao dar um beijo no topo da cabeça da irmã.

– Oi, Níço. Ah, obrigada, Vitto!

– Sabia que ficarias maravilhosa de batom vermelho!

– O que é meu batom vermelho comparado a este teu vestido!? Estás maravilhosa! Por acaso planejas seduzir alguém esta noite? – riu.

Benício e Vitória arregalaram os olhos e ficaram calados por uns bons cinco segundos, até que Vitória disfarçou:

– Somente teu irmão, querida!

Os três riram nervosamente por diferentes motivos.

– Bem, comportem-se. Os dois! – Disse Marieta, casualmente, antes de se afastar e ir ter com outros convidados.

– Quer uma bebida? – Perguntou Benício à Vitória.

– Desesperadamente. – Respondeu ela.

Os dois cumprimentaram algumas pessoas, mas sem engajar em nenhum tipo de conversa. Serviram-se e isolaram-se em um canto da sala para evitarem serem inseridos nos falatórios.

– Já viste Lourenço? – Perguntou Vitória.

– Não. Deve estar na biblioteca fumando com alguns conhecidos.

– Por falar em fumar...

Vitória tirou da bolsa uma bonita carteira de cigarros em metal com suas iniciais, tomou um nos lábios e ofereceu outro a Benício, que aceitou. Ela acendeu ambos e guardou o isqueiro e a carteira em sua bolsa. Duas senhoras e um senhor que estavam na sala olhavam em desaprovação para os dois jovens ao lado da cristaleira.

– Está tudo bem? – Perguntou Benício ao ver que Vitória tragava o cigarro com certa apreensão.

– Sim, sim. – pigarreou – Apenas um pouco nervosa.

– É provável que se seja normal ficar um pouco nervosa antes de cometer um assassinato.

– Fale mais alto, imbecil! É um ótimo assunto para se discutir em uma sala onde todos estão constantemente olhando para nós.

Castro e SouzaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora