Epílogo

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Rio de Janeiro, 1928

- Crianças, é hora de dormir! - Gritou Vitória em um robe de seda, correndo de um lado para o outro de seu escritório ao som das risadas de duas crianças extremamente agitadas.

- Eu perdi. - Disse Benício, esbaforido, na porta de seu escritório, também em um robe de dormir.

- Como assim perdeu? - Perguntou Vitória, tirando uma ferramenta de escavação das mãos de uma das crianças.

- Eu perdi a terceira criança, não faço ideia de onde está. Eram três mesmo?

- Benício, vá encontrá-la! - Ordenou Vitória. - Eles precisam dormir. Isto não é uma bola! - gritou.

Os dois meninos jogavam um crânio humano de duzentos anos de um lado para o outro antes de Vitória intervir, pegar cada um pelo braço e levá-los para fora do escritório.

- Encontrei! - Disse Benício, subindo as escadas com uma pequena menina de cabelos despenteados debatendo-se em risadas nos braços.

- Todos vocês, para o quarto! - Exclamou Vitória.

Acalmar as crianças foi consideravelmente difícil, mas, uma vez deitadas, suas reservas de energia que pareciam intermináveis começaram a secar e em pouco tempo estavam sonolentas.

- Maví já dormiu. - Comentou Vitória, quase sussurrando. - Vocês dois deveriam fazer o mesmo.

- Estou com saudades da mamãe. - Disse João. - Quando ela volta?

- Em algumas semanas, querido. - Respondeu Vitória, sorrindo.

- Minha mãe sempre me leva para Paris com ela. - Disse Miguel, fazendo bico. - Por que ela não me levou dessa vez?

- Às vezes adultos viajam sozinhos. - Respondeu Vitória. - Suas mães voltarão em breve, queridos. E vocês não estão se divertindo aqui conosco?

- Estamos. - Responderam os dois em uníssono, rindo.

- Ser mãe é um trabalho árduo e todo mundo precisa de férias de vez em quando. - Disse Vitória. - E de sono!

- Não deveríamos rezar antes de dormir? - Perguntou João.

- Tia Vitto me disse que Deus não existe e religião é uma farsa. - Disse Miguel.

Vitória e Benício se entreolharam de olhos arregalados e mutualmente decidiram que aquele era um problema para se resolver outra hora.

- Certo, se vocês ficarem bem quietinhos e forem dormir, seu tio irá deixá-los pilotar o carro de corrida dele amanhã!

- Eu vou? - Perguntou Benício, franzindo o cenho sob o coro de comemoração dos meninos.

- Agora vai. - Respondeu Vitória. - Bom, meninos, nós vamos dormir. Eu não quero ouvir um pio.

- E reze se quiser, João. - Disse Benício. - Peça para que Deus lhe dê bons sonhos.

- Está bem... - Respondeu ele.

- Boa noite, meninos. - Disse Benício.

- Boa noite. - Responderam os meninos.

Em passos leves, Vitória e Benício deixaram o quarto das crianças, observando-os fecharem os olhinhos e bocejarem enquanto se ajeitavam de baixo do cobertor. Sorriram e suspiraram de alívio ao entrarem em seu próprio quarto, finalmente.

Castro e SouzaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora