Capítulo LXXII - Relações de causa e efeito

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Gelada e ensolarada, a Cidade Imperial dava amostras do clima europeu para as pessoas que nela residiam ou visitavam. O casarão colonial de Helena e Sebastian, com aquele enorme jardim, era palco de um pique-nique animado entre a família Castro e alguns amigos. As mulheres usavam meias levemente mais grossas e mangas mais compridas e os homens tinham o conforto de colocarem um suéter entre a camisa e o paletó. Apesar de tudo, o frio não estava insuportável, já que o sol fazia-se presente. As crianças corriam, caíam e brincavam pela grama, enlouquecendo suas babás, enquanto os adultos permaneciam sentados em suas cadeiras ou tomavam sol em toalhas estendidas pelo gramado.

- Lena, como consegues? - Perguntou Lili para Helena. As duas estavam sentadas em uma enorme toalha de pique-nique com Marieta e Vitória, observando as crianças correrem.

- Consigo o quê?

- Viajar para outro país, voltar com uma barriga enorme e casualmente ser anfitriã para toda a tua família em um fim de semana logo depois de retornar. Nunca ficas cansada? - riu.

- Eu duvido que Helena seja humana, às vezes. - Disse Vitória, virando uma taça de champanhe.

- Quando eu estava grávida do Joaquim, eu fiquei na residência de inverno dos meus pais no Sul até ele nascer. A ideia de lidar com a vida real me enlouquecia! - Desabafou Lili.

- Não é exatamente tão difícil. - Disse Helena. - Lidar com a minha família é simples comparado a ter que lidar com a família González nos últimos meses.

- Tua sogra ainda te odeia? - Perguntou Marieta.

- Odeia. E eu a odeio ainda mais.

- Que relação mais amorosa e saudável. - Comentou Vitória, sarcástica. - Pergunto-me se eu me daria bem com a minha sogra.

- Absolutamente não. - Respondeu Marieta imediatamente.

- Interessante... - Murmurou Vitória.

- Eu me dava bem com a minha sogra. - Disse Marieta. - Mas desde que Lourenço morreu não tenho muito contato com a família dele. O que é uma pena, queria que as crianças tivessem mais contato com os tios e avós.

- Eles parecem bem para mim. - Comentou Lili, rindo, ao ver João, Bernardo, Antônio e Leonardo correndo pelo jardim.

Lili pôs o queixo no ombro de Marieta e abraçou carinhosamente. Ela sentiu Marieta encolher-se e desvencilhar-se de seu abraço, olhando preocupadamente para os lados.

- Ninguém está olhando. - Sussurrou Lili.

Helena e Vitória notaram imediatamente a preocupação que Marieta tinha. Vitória terminou de virar sua bebida e deitou no colo de Helena.

- Pronto, agora ninguém irá perceber. - Disse Vitória. Helena riu e abraçou a prima.

- Viram? Ninguém olhando! - Disse Helena.

Marieta riu e reclinou-se para trás até cair no abraço de Lili novamente. Tinha medo, mas valia a pena a inquietação.

A tarde prosseguiu agradável. Era parte da etiqueta da família não mencionar o acidente de Benício ou o estado conturbado de seu casamento com Vitória, mas era quase irresistível não perguntar sobre o que havia se passado nos últimos meses. Eles pareciam bem, tão bem quanto na noite de Natal onde, aparentemente, houve a briga que consumou o estado de crise matrimonial entre os dois. Mas pareciam tão bem quanto um casal normal - próximos o suficiente, apáticos na medida certa. Helena, que conhecia a trama um pouco melhor, observava curiosa a maneira como se comportavam. Os dois estavam de pé em frente à mesa que foi posta para o lanche bebendo e conversando casualmente, sem muito entusiasmo. O dia inteiro ela notou uma estranheza no comportamento da prima, mas era incapaz de apontar o dedo e reconhecer o que era. Ela viu Vitória colocar sua taça na mesa e pedir licença, correndo para dentro da casa imediatamente.

Castro e SouzaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora