O dia ainda estava por clarear quando Benício chegou em casa. Deparou-se com silêncio absoluto, cômodos vazios e tudo repleto de decorações de Natal, incluindo um pinheiro imenso que começava a dar indícios de que não suportaria o calor por muito tempo após as festas. Era uma surpresa para ele ver que Vitória havia decorado a casa e apertou-lhe o peito perceber que este era o primeiro Natal em mais de dez anos que ele passaria em família, embora as pessoas atribuídas a tal palavra ainda parecessem fora de lugar, mas para ele bastava saber que estaria com sua irmã e os sobrinhos sem a presença de Lourenço.
- Bom dia, senhor. - A voz de Sofia tomou-o de susto.
- Bom dia, Sofia. - riu - Aonde está todo mundo?
- Os empregados estarão de folga até o Ano Novo. Vitória está na casa dos tios.
- Sabes dizer se Vitória voltará para casa antes da festa?
- Provavelmente sim, o vestido dela está aqui.
- Claro, obrigado. - suspirou - Não tens família por aqui, não é?
- Não, senhor.
- Vitória poderia ter mandado-lhe de volta para a Alemanha para as festas de fim de ano. Ficarás sozinha por aqui?
- Não possuo família lá também.
- Perdoe-me. Eu sinto muito.
- Sem problemas. - sorriu - Se me dá licença...
Eram quase três da tarde quando Vitória chegou em casa. Viu o carro de Benício estacionado e o chapéu dele no mancebo ao lado da porta. Estava quase subindo as escadas quando o viu sair da cozinha em direção à sala.
- Olá. - Disse Vitória.
- Olá. - Disse Benício, indo em direção a ela.
Benício tomara-lhe o rosto na mão esquerda e beijou-lhe a bochecha. Vitória riu.
- Quando chegaste? - Perguntou ela.
- Hoje de manhã.
- Avisaste tua irmã? Ela está desesperada. - riu - Chorou umas três vezes essa semana por achar que não chegarias a tempo para o Natal!
- Então farei uma surpresa para ela na festa mais tarde. - riu - Eu deixei para vir em cima da hora. O navio que peguei ficou dois dias atracado no Porto de Santos. Bem, mas cá estou.
- Então irás na festa? Não estás cansado da viagem?
- Dormi o dia inteiro. - riu - Estou bem disposto, obrigado.
- Como foi em Montevideu? - Perguntou Vitória enquanto tirava o chapéu.
- Bom, muito bom. - sorriu - Mas... Depois de um tempo eu já não via a hora de voltar para casa.
- Bem, parabéns pela corrida. - sorriu - Mais um troféu.
- É, esqueci completamente disso por um momento. - riu - A casa está muito bonita.
- Obrigada. - sorriu.
- Eu trouxe presentes de Montevideu. - Informou Benício. - Eu não sabia exatamente o que comprar para a tua família, então improvisei. Espero que a Dona Laura goste de pérolas.
- Eles irão adorar tudo, tenho certeza.
- Há um para você também. - sorriu - Ou dois... Talvez três. Quatro. Na verdade, eu perdi as contas.
- Mesmo? - riu - Estou lisonjeada. Mas é um pouco embaraçoso já que eu apenas lhe comprei um.
- Sem problemas, eu irei adorar do mesmo jeito. - sorriu.
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Castro e Souza
Historical FictionVENCEDOR #Wattys2018 Em 1925, dois membros da alta burguesia carioca - os belos herdeiros Vitória de Castro e Benício de Souza - tornam-se cúmplices de um crime quase perfeito, mas acabam colocando suas próprias reputações em jogo para ocultar seus...