Capítulo XLI - Sobriedade sentimental

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Benício iria participar de uma corrida pela primeira vez desde que se envolvera em um pequeno escândalo com uma certa socialite com formação acadêmica e um empresário falido e rancoroso. O circuito Rio-Petrópolis era, certamente, menos emocionante que o famoso Trampolim do Diabo, mas não deixava de ser um percurso desafiador. Benício chegara em primeiro lugar neste percurso em 1923, o que o consagrou, oficialmente, como um dos melhores pilotos do Estado do Rio de Janeiro. Nessa última vez, estava acompanhado de uma mineira de olhos cor-de-mel com quem namorou por cinquenta e dois dias e algumas horas. Agora, encontrava-se no mesmo local, acompanhado de sua noiva, com quem iria casar-se em pouco menos de um mês – uma carioca de temperamento difícil (se não for uma redundância) e, oficialmente, sua última queridinha.

– Eu quero ser uma piloto! – Exclamou Estela, no camarote, enquanto voltava para seu assento acompanhada de Vitória.

– Estela, pare de graça! – Repreendeu Laura.

– É sério!

– Ela ficou muito animada em conhecer a Gillian Hayworth. – Disse Vitória, rindo.

– Ah, Vitto, Benício que me perdoe, mas hoje minha torcida é para a Senhorita Hayworth. – Anunciou Estela, rindo. – Perguntei à ela se eu poderia tornar-me corredora um dia e ela disse que sim, que eu posso fazer o que quiser! Não é incrível!?

– Meu Pai Eterno... – Murmurou Laura. – Bem, prefiro-te dirigindo carros do que pilotando aviões como a tua irmã.

– Como assim? – Perguntou Marieta.

– Helena possui licença para pilotar aviões, querida. – Disse Vitória. – Ao contrário de mim. – murmurou – Não sabias?

– O quê!? Não! É claro que não sabia! – Disse Marieta, incrédula.

– É, ela é uma dona de casa diferenciada. – Comentou Vitória.

– Por que ela nunca me contou isso!?

– Ela também é uma dona de casa misteriosa.

– Não se sabe nada sobre Helena a menos que ela decida. Ela aprendeu a andar e só descobrimos quando ela tinha quase dois anos. – Comentou Laura. – Levamos ela no médico por estranhar a demora e descobrimos que ela sabia andar há meses, mas fingia que não na nossa frente.

– Meu Deus.

– Ela estava grávida do segundo filho quando decidiu contar-me sobre o primeiro. – Disse Vitória. – Ah, queria que ela estivesse aqui. – suspirou – Se me dão licença...

Vitória saiu do camarote e foi em direção à pista, onde os pilotos, alguns jornalistas e vários mecânicos estavam. Benício, dessa vez, pilotava um Bugatti com o número 10 estampado em suas laterais.

– Lamento informar-lhe, mas minha prima não está torcendo por ti hoje. – Disse Vitória, aproximando-se do carro.

– Como?

Vitória apontou para o Dodge de número 8, onde a belíssima Senhorita Hayworth posava em frente aos fotógrafos. Benício riu.

– Imagino que também não estejas.

– Eu? Ah, não. Preciso torcer por ti. Não posso me casar com um perdedor.

– Este desgosto eu não lhe dou. – riu.

De repente, um enxame de fotógrafos aproximou-se deles. Gritavam por seus nomes, pediam poses e faziam perguntas absurdas. Benício puxou Vitória e os dois posaram juntos com sorrisos amarelos para as fotos, sem responder uma pergunta se quer.

Castro e SouzaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora