Capítulo XLIV - A Uruguaia

404 63 22
                                    

Montevideu, 1921.

Benício residia em Buenos Aires há dois anos quando foi para a capital uruguaia disputar o Gran Premio del Automóvil Club del Uruguay. O percurso era o famoso Montevideu-Piriápolis-Montevideu, que vinha sendo realizado desde 1918. A bordo de seu Ford Model T customizado, Benício era o único brasileiro – e o único Ford – e um dos quatro estrangeiros a competir pelo prêmio de quinhentos pesos em uma das disputas automobilísticas mais famosas da América do Sul.

– Entonces, este aquí es brasileño? – Disse um dos pilotos, já na pista, aproximando-se de Benício com alguns colegas.

– . – Respondeu Benício, rindo. – Toda la personalización fue hecha en Brasil.

– ¿Cómo son los raids en Brasil? – Continuou o rapaz. – Yo estuve en Río de Janeiro una vez y estoy seguro de que aquellos contornos darían disputas muy interesantes. – riu.

– He participado de solo dos raids en Rio. – riu – El automovilismo no es un deporte muy popular por allá todavía. Resido en Argentina ahora.

– Placer en conocerlo, Ezequiel García. – Disse o rapaz, estendendo a mão para Benício.

– Benício de Souza. – Respondeu Benício ao apertar a mão do rapaz.

– Estos son Júlio, Amadeo y Juan Carlos. Son de mi scuderia. – Prosseguiu o rapaz, introduzindo o resto dos colegas.

– Mi scuderia es la Gran-Cepeda. – Comentou Benício apontando para sua equipe que estava logo atrás.

– De Argentina?

Sí. – sorriu.

Um burburinho começou a se formar no meio da pista. Os expectadores na arquibancada começaram a balançar suas bandeirinhas e a assoviar. Benício virou-se para ver o que estava acontecendo, quando pôs os olhos em uma belíssima jovem de cabelos castanhos em um macacão de corrida dirigir-se a um Dodge pintado com o número 1.

– ¿Quién es ella? – Perguntou Benício, olhando para a garota. Os rapazes em volta riram.

– ¿Cómo no sabes quién es ella? – Questionou Ezequiel, rindo da expressão de Benício. – Ésa es Sira San Martín.

– ¿San Martín? – Disse Benício, tentando lembrar-se de algo. – ¿Cómo el ganador de la última edición?

– Amigo, ella es el ganador de la última edición. – riu.

O início da corrida havia sido anunciado. A corrida foi tranquila, sem muitos problemas no percurso, mas maldição do terceiro lugar começara a provar-se verdadeira, mas pouco importava, era sua melhor colocação em uma corrida fora da Argentina até o momento. No fim das contas, sua cabeça estava no Dodge 1 que, por dezessete segundos, tomou-lhe o segundo lugar. Sira. Seu nome ecoava por sua cabeça como se a esvaziasse cada vez mais para que fosse repetido mais vezes.

Benício estava com alguns colegas comemorando o fim da corrida no cassino do recém construído Hotel Carrasco. Muita bebida, música animada, garotas em vestidos finos e cheias de plumas oferecendo fichas e charutos e, é claro, homens brancos de terno torrando dinheiro como se não houvesse amanhã. E, pela segunda vez no dia, uma jovem corredora teve toda a atenção do local voltada para si só por meramente adentrar o ambiente. Em um belíssimo vestido verde de paetês, Sira ignorou as mesas dos cassinos e foi direto para o balcão do bar. Benício entregou uma partida onde havia apostado metade de seu prêmio – de duzentos pesos – quase que de graça e foi em direção ao bar.

Castro e SouzaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora