Capítulo XVIII - Anéis de noivado

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Laura e Afonso estavam na sala de leitura aguardando a hora do jantar. Afonso, com seu típico cigarro na mão, conversava com a mulher que estava a, tranquilamente, bordar um lenço:

– Estou um pouco preocupada com Vitória, Afonso. – Comentou Laura.

– Por quê?

- Eu não sei, ela está estranha. Dona Ivete comentou com Soninha que ela não tem saído, passa o dia inteiro na cama e vira noites acordada.

– Realmente, não se parece com ela. Também achei estranho quando ela avisou que se afastaria da empresa por um tempo... Mas assumi que fossem apenas "problemas femininos". O que é uma pena, estava começando a gostar da presença dela por lá.

– É mesmo? – sorriu – Que bom. Imagino que deva ser gratificante para ti lhe servir de mentor.

– Até parece. – riu – A garota é um monstro, daqui a pouco irá me aposentar. Confesso que fiquei receoso no início, mas...

– Ela é realmente filha de Constantin, não é? – sorriu.

– Tão desgovernada, imprudente, inteligente e carismática quanto o pai. – riu.

– É bom que ela venha jantar hoje. Acho que, seja lá o que tenha, fará bem jantar fora de casa, ver os primos... Ela gosta muito de Estela.

– De repente a menina está apenas começando a sossegar, Laura. – riu.

– Vitória? Sossegar? É sério!?

– Eu posso sonhar... – riu – Fico feliz só de imaginar que ela não está mais saindo com aquele piloto, o irmão de Marieta.

– O que tens contra Benício? – riu – Ele é um ótimo rapaz.

- Não lhe vou com a cara, nem um pouco. Fora que aquele namoro deles começou a ficar escandaloso demais. Na minha época, jamais seria aceitável andar por aí beijando um safado qualquer, muito menos sair no jornal fazendo isso.

– Tu és um homem velho e chato, Afonso. – riu – Só eu para te aturar, mesmo! Venha, vamos para a sala, Vitória já deve chegar.

Durante o jantar, Bernardo e Estela, o mais velho e a do meio dos três filhos de Afonso e Laura, com seus dezenove e catorze anos, estavam eufóricos para contar suas respectivas novidades à prima que tanto gostavam. Bernardo começaria o curso na Faculdade de Direito no ano seguinte e Estela havia sido aceita no Colégio Imperial – que só passou a aceitar garotas há um ano. Afonso e Laura reviravam e arregalavam os olhos como reação aos comentários progressistas demais da sobrinha, mas não podiam deixar de achar graça na maneira que ela inspirava as crianças – principalmente Estela – com suas histórias sobre a vida na Inglaterra, a Guerra, as expedições arqueológicas e suas muitas aventuras fora do Brasil. Antes de a sobrinha retornar, era difícil saber o que esperar dela – viram-na muito pouco ao longo dos últimos anos. Mas bastou Vitória demonstrar interesse em se aproximar da família que eles a acolheram de braços abertos, apesar de estarem cientes que Vitória estava longe de ser uma dama qualquer.

– Estou um pouco nervosa, prima. – Disse Estela, jogada em sua cama cor-de-rosa ao lado de Vitória, após o jantar. – Nunca estudei em uma escola com meninos antes.

– Tenho certeza que irá tirar de letra, querida. Será um pouco assustador no começo, mas, se quiser realmente perseguir uma formação acadêmica, precisará acostumar-se em ser a única garota da sala em diversas situações. Foi assim para mim a vida inteira.

– Isso é péssimo...

– As coisas irão mudar. Garotas como você mudarão o mundo! – riu – Que teu pai não me escute, mas eu irei em uma reunião da Federação Brasileira Pelo Progresso Feminino esta semana. Se quiser, posso te levar. Será bom ter contato com outras acadêmicas.

Castro e SouzaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora