Capítulo XLVI - Impiedosamente

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Os convidados que presenciaram o casamento de Benício de Souza e Vitória de Castro na Igreja Nossa Senhora da Candelária em uma ensolarada tarde de primavera dirigiram-se da região central da cidade para o Alto da Boa Vista onde, há pouco mais de três meses, um pedido de casamento emocionante tocou profundamente o coração da alta sociedade carioca. Alguns convidados já estavam nos jardins da mansão da família Assis de Castro quando Vitória e Benício estavam em uma das salas, cercados de fotógrafos, posando com toda a imponência e vagueza no olhar de verdadeiras esculturas renascentistas. Talvez nem Bernini fosse capaz de captar em mármore a turbulência que eram aquelas mentes esvaziadas à força através de álcool e entorpecentes, mas os fotógrafos tentavam seu melhor para registrar a felicidade dos recém-casados e publicar em diversos jornais e revistas para jovens moças suspirarem em seus quartos, sonhando com o dia em que teriam um casamento tão esplendoroso e apaixonado como aquele.

A banda tocava uma música ambiente e bem tranquila durante a recepção. Os convidados eram servidos de chá gelado, limonada e champanhe. Vitória se quer sabia por onde o noivo andava e preferia assim, estava conseguindo aproveitar melhor a festa. Estava tudo muito bonito. Um grande coquetel diurno para quase duzentas pessoas ao ar livre. Vitória conversava com algumas colegas de infância com as quais pouco tivera contato quando era mais nova quando Benício apareceu pela primeira vez após terem falado com os jornalistas.

– Aproveitando a festa? – Perguntou ele.

– Tudo é suportável com a quantidade certa de champanhe.

– Não poderia discordar menos. – revirou os olhos – Que horas iremos para o navio amanhã?

– Duas da tarde.

– Ótimo. – sorriu – Dormiremos juntos essa noite?

– Pensarei no teu caso. – revirou os olhos.

– Pensarás, é? – levantou a sobrancelha.

– De qualquer forma, só iremos para o quarto após o fim da festa. Acho muito deselegante transar enquanto há gente comendo e bebendo em sua casa.

– Bem, eu... – Começou Benício, sendo interrompido por ele próprio ao ver algo do outro lado do salão. – Venha comigo. – riu.

Benício tomou Vitória pela mão e levou-a até o outro lado da sala, próximo às portas francesas que davam para a varanda dos fundos. Ele parou e cutucou um rapaz loiro que estava de costas fumando com outros convidados. O rapaz virou-se.

– Henrico, meu caro, gostaria de apresentar-lhe minha amada esposa, Vitória de Castro e Souza.

– Benício, mas que porra!? – Sussurou Vitória, irritada ao ser apresentada com o nome dele. Olhou direito para o rapaz e o reconheceu.

– Eu já a conheço. – Disse Henrico, parecendo irritado ao tomar a mão de Vitória para beijá-la. Benício riu.

– Henrico? O que fazes... Quanto tempo! – Disse Vitória, sorrindo.

– Parabéns pelo casamento, Doutora Vitória. Lamento apenas pela escolha do noivo. – Parabenizou Henrico, sarcástico.

– É, eu também. – murmurou – Não fazia ideia de que eram amigos. – Disse Vitória.

– Alguns meses atrás, Henrico pediu-me para lhe dizer que ele te ama. – Contou Benício a Vitória. Virou-se para Henrico. – Houve um pequeno contratempo. Ela apaixonou-se por mim e casamos. Enfim, acontece. Foi mal. – Ironizou Benício.

– Benício! – Repreendeu Vitória.

– Ignore ele. – Pediu Henrico.

– Certamente irei. Bem, fico feliz de vê-lo novamente, Henrico. – sorriu – Se me dão licença.

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