Capítulo LXVIII - Uma mulher de princípios

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Após duas semanas, Benício começava a notar a própria recuperação. Os homens que o atacaram foram presos, ele já conseguia vestir-se sem ajuda e até mesmo andar com o auxílio de uma bengala. Vitória parecia não se importar com qualquer ressentimento que havia entre os dois e continuava empenhada em cuidar dele como se fosse paga para tal. Ela não era necessariamente uma enfermeira amável ou carinhosa, ao contrário, era ríspida e raramente demonstrava compaixão quando ele reclamava das dores que sentia. Mas se dedicava em tempo integral à recuperação dele - coisa que, de certa forma, o irritava profundamente.

- Precisam adiar o julgamento. - Disse Vitória para os advogados sentados na frente dela em seu escritório.

- Senho... Doutora Vitória, eu compreendo a tua preocupação, mas o Senhor Benício informou-nos que estava bem e que já poderia comparecer ao tribunal.

- Bem, eu não fui informada de nada e digo que não, ele não está. Dois pontos arrebentaram noite passada, se ele continuar assim o juíz verá as tripas dele na corte. Não queremos isso, certo?

- Creio que não. - Respondeu um dos advogados, o mais jovem, um pouco constrangido.

- O julgamento será curto, assim como o depoimento dele. - Disse o outro advogado. - Garanto que não haverão problemas quanto a...

- Não é somente o julgamento que me preocupa. São os fotógrafos, o jornalistas e todos aqueles abutres procurando por informações que não cabem a eles. Preciso que ele melhore para passar por isso, tanto física quanto mentalmente.

- Adiar o julgamento não será um problema, porém o Senhor Benício manifestou interesse em resolver tudo o mais rápido o possível. - Disse o advogado mais velho.

- Dê-me mais uma semana, por favor. - Pediu Vitória, soando irredutível.

- Pois bem, doutora. Fale com o teu marido e informe-nos o que quer que tenha sido acordado até o fim do dia. Adiaremos se for preciso.

- Certamente. - Concordou o mais jovem. - Algo mais que precisamos tratar?

- Creio que não. - sorriu - Obrigada, senhores.

- Miguel, dê-nos licença por um instante. - Disse o mais velho. - Preciso ter com a Doutora Vitória em particular por um momento. Se não for incômodo, é claro.

- De forma alguma. - Disse Vitória.

- Esperarei no carro. - Disse Miguel.

Após despedir-se, o jovem advogado deixou a sala e fechou a porta atrás de si. Vitória ajeitou-se na cadeira esperando, intrigada, o outro advogado falar o que gostaria.

- Tens fogo? - Perguntou ele, levando um cigarro até a boca. Vitória assentiu e entregou-lhe uma caixa de fósforos.

- Difícil acreditar que gostaria de ter comigo em particular apenas para um cigarro. - Comentou Vitória enquanto levava um dos cigarros de sua carteira à boca.

- Não, não mesmo, doutora. - riu - Bem, vamos ao que interessa. Nosso contato nas últimas semanas foi breve, mas creio que estás ciente de que há muitos anos represento a família Souza.

- Sim, recordo-me da presença da tua família no meu casamento.

- Sim, estávamos lá. - sorriu - Então, imagine o meu espanto quando Benício pediu para que eu desse entrada no pedido de anulação do casamento de vocês um mês atrás.

- Sim, era de interesse mútuo. Meus advogados já teriam contatado-o se não fosse... Bem, tudo isso.

- Eu ainda não conversei com Benício e também não pretendo perturbá-lo com tais assuntos por enquanto, mas é muito provável que não consigam a anulação. Não aqui, pelo menos.

Castro e SouzaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora