Capítulo LXI - Sua vadia arrogante

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Benício estava largado em sua cama. Sua verdadeira cama, a cama de seu apartamento. O lugar estava limpo, mas o cheiro de local fechado já havia começado a dar sinais. Sua cama não possuía mais os lençóis de algodão e as colchas de seda, dela só havia restado o colchão e nenhum travesseiro. Garrafa de cachaça em uma mão, cigarro na outra. Mal havia completado três meses de casado com Vitória e era naquele estado que se encontrava. Ela não o procurou desde o Natal - parecia ter uma facilidade imensa em fingir que ele não existia. Ele gostaria de dizer o mesmo, mas até seu antigo quarto de solteiro era uma constante lembrança de tempos que não voltam mais. Tempos em que ela entrava pela janela de madrugada e saía antes mesmo do dia clarear. Houve um dia em que ela dormiu, lhe partiu o coração precisar acordá-la para que ela fosse embora. Ela sempre pareceu mais confortável em deixa-lo do que ele em deixa-la ir.

- Por que não atendes minhas ligações? - Resmungou Marieta, entrando no apartamento sem cerimônia.

- Olá para você também. - Murmurou Benício.

- Trouxe alguns documentos, preciso da tua assinatura. - Informou Marieta, entregando a pasta que levava em baixo do braço para o irmão.

- Claro.

- Como estás, Níço?

- Bem, e tu?

- Estou bem. Na verdade, estou preocupada contigo.

- Não fique.

- Volte para casa, mano. Sei que se desentendera com Vitória, mas não podem ficar brigados para sempre. Precisam conversar!

- Vitória não conversa. As poucas vezes que fiz aquela mulher abrir-se havia sexo, álcool e morte envolvidos.

- Benício! - Repreendeu Marieta.

- É a verdade.

- Bem, aquela mulher ocorre de ser a tua. Não podes apenas fugir e fingir que ela não existe como fazias com as tuas namoradas.

- É, meu erro foi elevar o status dela. - resmungou.

- Pare com isso!

- Não pode ser apenas eu, Nêta. Apenas eu tentando, apenas eu disposto a consertar as coisas, apenas eu... Enfim.

- Vitória se importa muito contigo. Ela é tua esposa.

- Isso não significa muito na língua dela. - suspirou.

- Eu falarei com ela.

- Nêta, por favor, não se envolva...

- Eu apenas terei uma conversa com ela. Essa vida... Uma casa, um marido, uma família... Isso tudo é novidade para ela. Tenha paciência, mano. Não é exatamente a tua especialidade também.

- Sempre soube que ela não era para casar. - Disse Benício com o ar um pouco triste. - Não era meu lugar tirar isso dela.

- Tu a amas e a pediu em casamento. Ela o ama e aceitou. - sorriu.

- Não foi exatamente assim que as coisas aconteceram. - suspirou - Não mesmo.

- Como assim?

- Marieta, eu... Enfim. Após o nosso pequeno escândalo, as coisas começaram a ficar complicadas. Vitória havia perdido completamente o respeito na comunidade científica, as pessoas assediavam-na com o assunto. E eu... Bem, nossos caríssimos parceiros de São Paulo encontrou nessa história um jeito de me pressionar quanto a realocação da empresa.

- O quê? Sormani?

- Ele pretendia mover alguns pauzinhos para que eu fosse processado pelo Estado. Imoralidade. Má conduta sexual. Tudo do bom e do melhor.

Castro e SouzaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora