Capítulo XXIX - Café

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O barulho de soldagem, motores trabalhando e maquinário pesado na oficina de Miranda eram embalados pelo sucesso "Ora Vejam Só", de Francisco Alves, que tocava no rádio e fazia os mecânicos cantarolarem alegremente enquanto trabalhavam no Bugatti Type 13 suspenso sobre elevadores hidráulicos no meio do lugar. Em seus macacões encardidos, os rapazes mal sentiam o cheiro de solda e graxa de tanto que já estavam acostumados.

– Olhe quem chegou! – Disse um dos mecânicos para Miranda, que mexia na fiação de baixo do capô do Bugatti.

Miranda virou-se e viu que seu Ford T havia acabado de encostar na calçada. De dentro dele, saía Cláudia, em seu belo vestido lilás.

– Bom dia, rapazes. – Disse a moça ao adentrar a oficina.

– Bom dia, Claudinha. – Responderam os rapazes, quase que em uníssono.

Cláudia andou até o carro e chutou um par de tornozelos que saíam de baixo dele.

– Bom dia! – Gritou ela ao chutar, indo em direção ao marido logo em seguida.

– Ai! – Exclamou a voz em baixo do carro.

– Olá, meu amor. – Disse Miranda, dando-lhe um beijo no rosto.

Benício rolou a esteira onde estava deitado para mexer no automóvel e levantou-se.

– Bom dia para você, Cláudia.

– Deus, por que os dois estão sempre imundos!? – Reclamou Cláudia ao tirar um lenço da bolsa e tentar limpar uma mancha de graxa do rosto de Miranda.

– Casaste com o piloto, o mecânico vem de brinde. – Respondeu Miranda, sarcástico.

– Vá se limpar, por favor. Vim lhe buscar para almoçarmos.

– Ouviste isso!? – Disse Miranda para Benício. – Minha esposa veio de carro me buscar para almoçar. Agora estas feministas foram longe demais! – caçoou.

– Estamos condenados! – Gritou Benício, do outro lado da oficina, em falso tom de desespero. Os rapazes da oficina riram.

– Idiotas. – revirou os olhos – Bem, eu não precisaria buscar-lhe se me comprasses um carro.

– Percebes que casaste comigo e não com ele, certo? – Disse Miranda, apontando com o dedão para Benício, que estava atrás dele. Cláudia lhe deu um tapa no ombro. Benício segurou o riso.

– Deixe de gracinhas e vá logo se limpar, por favor! – Ordenou Cláudia, como se estivesse furiosa, mas sorrindo.

Miranda beijou sua testa e foi em direção ao escritório. Cláudia estava por ali ainda observando o carro quando Benício foi em sua direção.

– Ei, Cláudia, tens visto Vitória? – Perguntou ele.

– Bem, deixe-me ver... A última vez que eu a vi ela estava inconsciente dentro de uma banheira. – sorriu sarcasticamente.

– Por quê? Tentaste afogá-la?

– Engraçadinho. Somos amigas, não te preocupes. Estávamos com algumas amigas no Palace. Tua irmã também.

– Não sei o que é mais chocante em tudo o que acabou de dizer.

– Certamente eu passar o dia em um quarto de hotel cheio de socialites brancas e escandalosas.

– É, com certeza, essa parte.

– Bem, docinho, por causa do meu trabalho, sou profissionalmente treinada para lidar com herdeiras mimadas. Mas tenho que dar o braço a torcer, elas são gente boa. Então... Não tens falado com Vitória?

Castro e SouzaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora