Capítulo XLIII - Funeral em um bordel

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Faltavam apenas duas semanas para o casamento. Vitória mal pensava nisso. Sentia que não faria diferença alguma se estressar com preparativos, já que, no fim das contas, seria como tinha que ser. Suas poucas exigências foram que o bolo deveria ser de limão, seu buquê de Magnolia grandiflora e que entraria sozinha na igreja. Mas também não se preocupou em repetir isso muitas vezes; deixou os preparativos completamente nas mãos da prima e da futura cunhada e, seja lá o que elas decidissem, estava bom. Os parentes, amigos e conhecidos de sua família começaram a chegar na cidade e, muitas vezes, ela foi obrigada a fazer sala para os mesmos. Os parentes de Portugal, tanto dela quanto do noivo, ficariam hospedados em sua casa na Boa Vista até o casamento.

Em uma noite fresca e repleta de estrelas, os Castro e os Souza vindos de terras lusitanas estavam reunidos no Theatro Municipal para assistir uma peça. Alberta de Castro Figueira da Silva, irmã do pai de Vitória – com quem ela viveu durante alguns anos em Lisboa –, estava acompanhada de seu filho, Miguel, sua nora, Renée e seu neto Manuel. Maria Tereza de Souza Andrade, tia-avó de Benício – com quem ele pouco teve contato enquanto estava em Coimbra –, estava acompanhada de seu marido, Cristóvão Andrade, e dos primos de segundo grau dele: Antônio, Inácio e suas respectivas esposas, Luíza e Maria Flor. Eram parentes trabalhosos, muito cheios de frescura e com a incrível capacidade de pesar a atmosfera de qualquer ambiente. Recebê-los requeria a mesma delicadeza de uma missão diplomática.

"Tal é minha intenção, doce Catarina, mas em tua cama. Portanto, deixando de lado toda esta conversa, expressar-me-ei em termos claros: vosso pai consente que sejais minha esposa. Vosso dote já está estipulado e, queirais ou não, casar-me-ei convosco. Agora, Catarina, sou o marido que vos convém. Logo, por esta luz que me faz ver tua beleza (beleza pela qual te adoro), tu só deves casar-te comigo, já que nasci para dominar-te e transformar uma Catarina selvagem em uma Catarina submissa como as outras gatinhas caseiras. Está chegando vosso pai. Nada de negativas! Devo e quero casar-me com Catarina."

Benício encarava Vitória quase que petrificado pela expressão de puro ódio que ela sentia ao assistir àquela encenação da comédia "A Megera Domada" de William Shakespeare. Os dois estavam sentados no camarote, junto de seus parentes – apenas os portugueses –, e, enquanto todos em volta riam da peça, o olhar fulminante de Vitória parecia ser capaz de causar um aneurisma psíquico no pobre ator que fizesse contato visual com ela.

– Inacreditável que um dia achei isso engraçado. – Disse Vitória, andando pelos corredores do teatro, segurando no braço de Benício, quando se dirigiam ao salão do restaurante.

– Péssima escolha de espetáculo para a ocasião. – Suspirou Benício, rindo e revirando os olhos.

– Como se não bastasse, precisei escutar teu tio-avô roncar atrás de mim durante o segundo ato inteiro!

– Foi ruim para ti!? E eu que precisei ficar encolhido os dois atos porque Dona Albertina ficava roçando o pé em minha perna.

– É sério!? – gargalhou – Bem, isso é estranho. Geralmente minha tia prefere seus amantes mais jovens que o filho dela.

– Velha tarada...

– Ela é uma mulher admirável e odiosa.

– Agora sei de onde saiu a tua personalidade.

– Para o teu desespero.

Os dois adentraram o salão do restaurante. Todos os olhares imediatamente se voltaram para Vitória. Ela vestia um longo vestido preto de seda acetinada azulada de frente única, deixando os ombros e boa parte das costas de fora. Usava tanto uma gargantilha como um colar de diamantes, esse último possuindo três enormes safiras, assim como seus brincos e braceletes, que combinavam com seu anel.

Castro e SouzaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora