Capítulo LII - Madame Souza

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Fazia pouco mais de um mês desde que Benício de Souza e Vitória de Castro retornaram do Norte da África, onde passaram sua conturbada lua-de-mel. Ao desembarcarem, tudo permanecia complicado, mas o Rio de Janeiro continuava lindo. As pessoas estavam curiosas sobre o que se passava na vida dos recém-casados, principalmente porque, de certa forma, todos torciam veladamente para que aquele casamento fosse por água à baixo. A lógica para tal agouro era simples: dois jovens notoriamente mal-comportados que se casam por conta de um escândalo sexual simplesmente não merecem felicidade alguma. Afinal, aonde ficaria a santidade do matrimônio? O que jovenzinhas solteiras e sonhadoras poderiam vir a fazer ao verem que moças desonradas podem ter um final feliz? Era simplesmente inaceitável. Mas tal espécie de burburinho infudamentado era inofensivo a essas alturas - e quanto mais eles mantivessem a cabeça baixa e longe dos falatórios, melhor.

- Então, prima, como vai a vida de casada? - Perguntou Helena, enquanto ela e Vitória estavam sentadas em uma cafeteria em Copacabana.

- Ótima. - Respondeu Vitória, exalando a fumaça do cigarro. - Melhor impossível.

- Está tão ruim assim?

- Não, é sério. Está tudo bem. Tem sido bem mais simples do que eu pensei. E a lua-de-mel foi maravilhosa também.

- Estou ciente, considerando que enviaste teu exame de gravidez negativo para a minha casa.

- Viu? - sorriu - Melhor impossível.

- Vitto?

- Sim?

- O que há de errado?

- Nada, Helena. Pelo amor De Deus, chega de falar do meu casamento. Há meses que minha vida gira completamente em torno de Benício, eu estou exausta!

- Aí está!

- Aí está o quê?

- Vocês brigaram!

- Sempre brigamos, sejas mais específica. - revirou os olhos.

- O que está havendo, querida? Cristo, eu poderia jurar que estavam apaixonados meses atrás.

- Sempre falamos de "meses atrás". Eu nem sei se esses "meses atrás" existiram mesmo ou estávamos apenas desesperados para preencher um buraco emocional em nossas vidas.

- Jesus Cristo, Vitória.

- Eu nunca esperei muito desse casamento, de qualquer forma. Mas encontramos uma maneira de fazê-lo funcionar então está ótimo assim.

- Funcionar? Brigar constantemente e dormir em quartos separados é funcionar para ti?

- E qual seria a definição correta, Helena?

- Conversar. Resolver o que está errado. Compreensão. Mas, bem, o que eu sei, não é? Só estou casada há dez anos.

- Pare com a agressividade passiva, querida. Olhe, está tudo certo. Nós conversamos quando precisamos, ignoramo-nos quando podemos e transamos quando queremos. Não é ótimo? - sorriu - Meu casamento possui bases um pouco diferentes do teu.

- A base é a mesma a circunstâncias que variaram. - murmurou.

- Com licença? - Disse um garçom ao aproximar-se da mesa delas e recolher as xícaras vazias. - Mais alguma coisa, madames?

- Sim. - Respondeu Vitória, olhando o cardápio. - Um irlandês, por favor.

- Sim, senhora.

- Para mim também, obrigada. - Disse Helena.

- É para já, senhoras.

O garçom afastou-se da mesa e Helena levou outro cigarro à boca, passando o isqueiro para Vitória.

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