Capítulo 63.

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Ia dar meia volta pra entrar, mas me lembrei que estava sem chave, e Bruno havia trancado tudo antes de sair. Então me sentei na calçada novamente e deixei que o pranto escorresse por meu rosto. Merda! Por que estava chorando mesmo?

Bruno só estava bêbado, completamente fora de si... mas mesmo assim, ele devia ter me defendido, a gente namorava, e não ajudado na humilhação.

Peguei meu celular sentindo o vento forte bagunçar meu cabelo, abracei meus próprios braços e bufei. Estava sem crédito, liguei pra Arthur a cobrar e ninguém atendia, Léo estava sem crédito também e o celular de Diego e Peter só dava na caixa postal. Até tentei pegar o WiFi da recepção mas meu celular estava com bateria de 15%, fui uma otária em não botar pra carregar. Pensei em todas as possibilidades, Maysa e Júlia nem no Rio de Janeiro estavam, e eu não queria ir pra boate, comecei a me sentir mal, com uma ânsia de vômito enorme.

Só então tentei uma única pessoa... ele atendeu no terceiro toque, não demorou nem um minuto e ele me retornou.

─ Oi ─ sua voz era sonolenta, acho que devia ter acordado ele.

─ Eu te acordei... desculpa ─ ele não tinha nada a ver com isso, não devia pedir a ajuda dele mas não queria ficar, sem falar que estava me sentindo mal. Os meninos só iriam chegar pela manhã, tinha certeza, e esperar por eles lá em baixo era foda.

─ Que nada, de boa. Que foi? Você tá bem? ─ ele desperta, se mostra até preocupado.

─ Preciso da sua ajuda... eu meio que estou do lado de fora de casa, e parece que vou dormir aqui, eu tô me sentindo mal, e... sei que você não tem obrigação nenhuma... mas... eu...

─ Claro, já colo aí pra te buscar.

─ Obrigada... ─ digo sem jeito em ter pedido ajuda pra ele.

Guardo meu celular e encosto minha cabeça no joelho deixando o choro descer pelo meu rosto. Jamais pensei que Bruno faria isso, sei que ele estava bêbado mas mesmo assim, eu confiei nele, nós estávamos juntos. O papel de namorado não é esse, até onde eu sei.

***

─ Quer ir pra boate onde tá rolando essa festa? ─ Ricardo pergunta, ele está com a cara amassada pelo sono e só de camisa e bermuda tactel, seus cabelos estão desgrenhados e o perfume dele só me ajuda mais na ânsia de vômito.

Ele dirige tranquilo, uma música baixa toca no rádio.

─ Não... ─ sinto frio, e meu emocional está à flor da pele. Sinto muita vontade de chorar mas engulo o choro a todo momento. Não queria olhar na cara de Bruno e daqueles amiguinhos dele que tinha ódio, principalmente Victor.

─ Olha, tu pode passar a noite lá em casa, tem um quarto de hóspedes, se quiser ir no hospital eu te levo, te deixo em casa de manhã ─ ele sugere e dou de ombros. ─ Tá com fome?

─ Não, comi até demais hoje, só quero mesmo dormir e esquecer esse dia péssimo.

Ele não diz nada, apenas acelera mais. Ele morava um pouco lá perto de casa, em um condomínio de casas. Ele passou pela portaria acendendo a luz do carro pro porteiro identificar e assim entramos no condomínio, não era condomínio de luxo, mas era arrumadinho e até bonito. As casas eram de padrão, ou seja, nada diferente. A casa dele era a quinta do lado direito. Nós descemos e ele travou o carro me guiando pra dentro da casa dele.

Era até arrumada, e tinha um cheiro bom. Ricardo saiu na frente pegando algumas coisas do sofá e estante e desapareceu, dentro de segundos ele regressou e parou me olhando.

Fiquei sem jeito, alisava minhas mãos e sentia uma mega vontade de vomitar.

─ Posso usar o banheiro? ─ perguntei meio tonta.

─ Pode, é por aqui ─ ele me chama e vou andando em passos controlados, ele me leva até um banheiro social onde entro com tudo e vou vomitar no vaso sanitário. Ricardo vem pegar em meus cabelos enquanto eu coloco tudo pra fora, sinto meu estômago queimar e aquele gosto azedo tomar conta da minha boca. ─ O que você comeu, hein?

─ Sei lá ─ dou de ombros me levantando e dando descarga. Limpo minha boca e sinto aquela ânsia de novo. ─ Desculpa por isso.

Me sinto completamente envergonhada em vomitar na casa dele e ainda por cima no banheiro dele.

─ Que nada, toma um banho que vou ajeitar o quarto de hóspedes pra você. Tem toalha limpa no armário, sabonete e escova de dente lacrada. Qualquer coisa só me grita.

─ Obrigada, Rick ─ lhe dou um sorriso meio forçado e ele pisca saindo.

Tranco a porta e vou me despir. Tomo um banho longo, tiro aquela maquiagem e choro mais um pouco.

Quando termino pego uma escova pra escovar meus dentes e uma toalha, meu rosto estava todo manchado pelo rímel e lavo de novo na pia e sabonete antisséptico. Quando termino saio do banheiro segurando minhas coisas na mão.

─ Ricardo? ─ o chamo me tremendo de frio, a água estava geladíssima.

Ele aparece no começo do corredor e me fita. Em seguida vem até mim.

─ Quer uma roupa minha pra dormir?

─ Se não for abusar muito de você... quero sim.

Ele apenas sorriu e pegou em meu braço me levando ao primeiro andar, lá em cima tinha algumas portas no corredor e ele abriu a terceira revelando um quarto de hóspedes normal. Cama de casal, janelas grandes de vidro com cortinas de seda, roupa de cama aparentemente macias, banheiro, um guarda roupa e um criado mudo do lado da cama.

─ Vou buscar a roupa, espera um minuto.

Entrei no quarto todo branco com piso de mármore sentindo apenas vontade de me deitar ali e dormir, peguei meu celular e estava descarregado, ótimo!

Deixei minhas coisas em um canto e esperei Ricardo trazer uma camisa grande de time e uma cueca box preta de algodão.

─ Espero que dê em você, essa cueca é nova, então... não precisa se preocupar... e...

─ Tudo bem ─ lhe lanço um sorriso sincero.

─ Te espero lá em baixo, vou deixar você a vontade.

***

Lá em baixo o silêncio reinava, desci pelos degraus em passos lentos, segurava meu celular na mão e sempre ficava mais nervosa a cada passo que dava. Quando cheguei na sala vi Ricardo sentado em uma cadeira com um cavalete em sua frente, havia uma tela onde ele despejava diversas cores com seu pincel. E só então fui reparar as paredes e ver diversos quadros, uau, ele pintava bem.

─ Esses quadros são lindos ─ digo e ele meio que toma um susto e se vira me lançando um sorriso nervoso, e até envergonhado.

─ Obrigada... gosto de fazer isso quando estou sem sono, nervoso ou com raiva. Acalma ─ diz voltando a pintar.

─ Não me disse que pintava... e nossa, você é ótimo!

─ Não exagera... deixa eu pintar você, senta ali ─ apontou pra poltrona na frente da tela e fui me sentar lá com um brilho no olhar. Ricardo trocou a tela e me olhou, ele tirou a camisa e olhei seu corpo, não era nada exagero, digamos que nada medida certa, assim como Bruno, mas ao contrário de Bruno, ele não tinha os gominhos pela barriga, somente o peitoral estufado.

─ Assim tá bom? ─ coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha.

─ Perfeita ─ ele sussurrou ainda me olhando e só então foi pegar a paleta e os pincéis.

Fiquei mais ou menos meia hora ali sentada enquanto ele me olhava e pintava a tela, mas logo o sono me pegou e fechei os olhos me encostando na poltrona.

─ Lara, vai pra cama, eu já termino aqui ─ ele me chama um pouco alto e desperto. ─ Amanhã de manhã você vê como ficou.

Eu apenas concordo com a cabeça e subo, entro no quarto, ligo o ar e me jogo na cama me enrolando no lençol.

E quando menos percebi peguei no sono...

Paraísos PerdidosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora