Capítulo 70.

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Meu celular apita, a angústia toma conta do meu peito, deslizo a tela pelo meu celular e vejo que a mensagem é de Bruno. Abro a mesma vendo o enorme texto.

Brutamontes ─ Sou o pior cara do mundo, eu sei disso. Mas me dá uma chance de provar que mudei e me arrependi, por você e nosso filho. Eu mal consigo dormir desde que soube que tem uma vida que geramos juntos em seu ventre, não queria um filho agora, mas talvez ele ou ela seja nosso maior presente, seja nossos dois paraísos juntos. Eu amo você, amo e sempre vou amar, amo nosso filho como se ele já tivesse nascido, já andasse e falasse. Não sei se vou ser um bom pai, mas eu quero tentar, Lara. Você e ele são as melhores coisas que já me aconteceram nessa vida de merda e ter vocês dois longe de mim é como uma facada em meu peito. Odeio ver você ao lado de Ricardo, odeio não ter notícias suas, não acordar com seu cheiro e dormir sentindo seu corpo no meu, você se tornou parte de mim. Me perdoa por tudo que fiz, eu só não abri totalmente meus olhos pra enxergar que você é o amor da minha vida, volta pra mim, vamos cuidar dessa vidinha juntos, você tem meu apoio, eu vou assumir e vou amar. Me responde, por favor!

Meus olhos ficam nublados pelas lágrimas, mas respiro fundo e as engulo. Ricardo não pode me ver chorando, ele vai questionar e isso vai acabar em merda. Eu tento me acalmar, mas é em vão, uma lágrima escorrer e quando levanto meu olhar ele está na entrada da sala me olhando. Meu corpo congela, fico imóvel e sinto medo, muito medo, principalmente quando vejo seus olhos vermelhos e ele dar sua última cheirada no pó na ponta da chave.

─ Outra mensagem de Bruno? ─ ele indaga fechando a porta e trancando, dou dois passos pra trás até cair sentada no sofá. Ele caminha em passos calculados até onde estou e estende a mão. ─ Anda falando com ele ainda? Posso ver o celular?

─ Não era com ele, era uma mensagem de mamãe ─ me encolho escondendo meu celular e abraçando minha barriga de três meses, escondendo ela de Ricardo, como se fosse minha mina de ouro, meu tesouro mais importante.

─ Então posso ver o celular? ─ ele pede mais uma ver calmo e controlado, eu nego. ─ Sua vadia!

Ele acerta um tapa em meu rosto com força, sinto o local arder e passo a mão em cima.

─ Você tá falando com ele que eu sei, tá falando sim, você é uma vadia, uma putinha desgraçada e essa merdinha no seu ventre também é uma desgraça ─ ele dispara rosnando e gritando comigo.

Eu me levanto e avanço em cima dele.

─ Não ouse falar assim do meu filho, vira essa merda que tu chama de boca pra lá antes de se dirigir ao bebê que está crescendo dentro de mim ─ falo autoritária e viro um tapa na cara dele, ele rediva e fica irado. Ricardo se transforma, seus olhos entram em chamas e ele incorpora o demônio em sua pele, só vejo quando ele puxa meus cabelos com tudo e me joga no chão montando em cima de mim.

Ricardo fecha suas mãos grandes em meu pescoço e me debato, tento empurrar ele mas ele é bem mais forte, quando estou quase perdendo meus sentidos ele me solta e me viro com tudo pegando meu celular e apertando a discagem de emergência, e por acaso o número principal era o de Bruno.

Ricardo viu, mas já era tarde quando tentou desligar, Bruno havia atendido e eu apenas gritei socorro quase sem voz por ter as mãos dele em meu pescoço. Ricardo desligou e me virou me dando um soco na boca, tentei me defender mas ele começou uma sequência de socos e tapas, sentia o sangue escorrer meu nariz, o gosto de ferro na boca e uma dor inexplicável. Quando eu não pude mais gritar e nem me defender ele parou, e se levantou, pensei qur havia parado mas ele começou a me chutar e dois desses chutes pegaram em cheio na minha barriga. Ele rasgou minha blusa e me deu um chupão no peito, ele me deixou toda marcada. Eu sentia uma dor tão grande, nas minhas costelas, na meu rosto que ardia e no pé da barriga. Eu sangrava, tentei me levantar mas era impossível, e quando estiquei minha mão e toquei entre minhas pernas eu vi sangue na ponta dos meus dedos, e me desesperei, mas não tinha forças nem pra respirar direito.

─ Isso é pra você aprender ─ ele cospe em mim. ─ Que eu não sou uma pessoa de jogos e brincadeiras, Lara.

E depois ouvi seus passos se distanciando, tentei gritar por ajuda mas minha voz não saia por nada. Não sei se eu cochilava ou não, mas eu só sabia que a dor não parava, em momento algum. A dor no pé da barriga apenas se identificava mais, mas eu tinha fé, meu bebê e eu iríamos ficar bem, eu sei que iríamos. Aquele cheiro de maconha me alcançou, ele soprava a fumaça em meu rosto, eu tossia.

Segurava em minha barriga pedindo pra Deus me mandar um anjo e me tirar dali, daquela situação e tirar meu filho também.

E foi quando menos esperava que ele apareceu, senti seu perfume, ouvi sua voz grossa e coloquei um sorriso no rosto. Porque eu sabia que com Bruno ali, eu e nosso bebê estávamos protegidos, e finalmente eu pude me entregar à inconsciência.

***

Bruno narrando:

─ Se você não me deixar entrar eu vou entrar aí e vou te matar, e eu não estou brincando ─ eu estava nervoso, muito nervoso mesmo. Merda, eu era burro! Muito idiota em deixar ela e meu filho nas mãos dessa desgraça, eu sabia que isso ia acontecer, sabia mesmo. Mas fui burro em não ter impedido antes.

Léo pegou em meu ombro e pediu que eu me acalmasse, algo quase impossível, eu só via ódio em minha vista, eu tremia de raiva. E Diego então foi falar com o porteiro, ele liberou nossa passagem após umas ameaças e chantagens. E eu arranquei com o carro estacionando bem na merda da casa dele, sai daquele carro disparado, a porta estava trancada então apenas peguei uma pedra enorme sem me importar e joguei naquela janela pulando e adentrando na casa que fedia a maconha, destranquei a porta pros meninos entrarem e vi Ricardo tentar correr mas Diego e Léo já tinham o pegado.

E então eu a vi no chão, ela estava inconsciente, sangrava muito, estava coberta de hematomas e com ferimentos no rosto. Eu corri até ela me ajoelhado ao seu lado, mas quando ia pegando-a no colo Peter gritou pra não fazer isso.

Tirei a minha camisa social e coloquei sobre os seios desnudos e marcados dela, ela estava pálida e sangrava demais me deixando nervoso e quase em pânico.

─ Não pode mover ela, não sabe se ela quebrou alguma coisa ─ Peter se aproxima a examinando. Por mais que Peter seja médico veterinário ele sabia muito dessas coisas.

Ele começou a tirar o pulso, tocar as costelas e examinar outras coisas de Lara.

─ Ela parece ter tido duas costelas quebradas, está com sequelas no pescoço porque foi enforcada e...

─ Ela foi estuprada? ─ meu coração quase saca de pensar nessa possilibidade, Peter engole o seco e suspira.

─ Eu posso? ─ aponta pra região entre as pernas dela que sangravam, eu concordo com a cabeça. Ele olha por um instante e se levanta rápido. ─ Ela precisa ir pro hospital agora...

Vejo Peter ficar nervoso até demais, eu também fico nervoso que mal consigo controlar, mas suspiro e me contenho, pela minha mulher e meu filho.

─ Peter... o que foi? ─ pergunto preocupado com o coração à mil.

─ O bebê! ─ ele pega ela nos braços com cuidado e vai levando pro carro. Vejo Diego e Léo segurando Ricardo que se debate e penso em matar ele ali mesmo, mas penso em Lara, ela e o bebê são minhas prioridades.

─ Amarra ele, deixa ele bem aqui e fiquem aqui com ele que eu volto, vamos levar ela pro hospital.

Os meninos assentem e vou correndo pra hilux. Coloco a chave na ignição com dificuldade quase não conseguindo controlar meu tremor.

─ Bruno, se concentra, ela precisa ir rápido, eu acho que ela tá perdendo o bebê ─ isso me ajuda bastante, é o máximo pra arrancar dali com tudo apertando aquele volante com uma força desumana, meu filho não iria morrer, não iria mesmo, nem ele e nem ela. Se meu filho morresse Ricardo também morreria, nem que eu fosse preso por isso, mas ele iria sofrer. Ah mas se ia.

Ele havia mexido com o cara errado, a mulher errado e o filho do cara errado, e seu eu fosse descontar a raiva que eu estava sentindo com certeza Ricardo morreria.

Paraísos PerdidosWhere stories live. Discover now