Capítulo 71.

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Bruno narrando:

Já se faz horas que ela se foi pro centro cirúrgico do hospital, dentro de mim a preocupação apenas cresce. Sinto muito medo de perder eles dois, eu não sei o que seria de mim sem eles. Estou inquieto, às vezes fico trêmulo, e sinto uma dor fina de cabeça.

Já fazem duas horas, será que o doutor não vem se pronunciar sobre o estado dela? Eu encaro Peter que estava com sua camisa suja de sangue, ele olha pro chão também inquieto, esfrega uma mão na outra e suspira.

Já eu não consigo pensar direito, a única coisa que me importa no momento é saber como ela está, como nosso filho se encontra, é apenas isso que importa.

E quando eu vejo o médico caminhando em nossa direção eu sinto meu coração quase sacando do peito, ele era pai adotivo de Peter (aquela família que acolhe o intercambista em sua casa e passa a ser pai e mãe pra ele), era o doutor Hugo Almeida, um homem baixo, de cabelos grisalhos e olhos azuis fundos. Ele cumprimenta Peter em alemão e também me cumprimenta em português mesmo, não estou paciente pra ter uma conversa em outra língua com ele.

─ Lara, não é? ─ ele olha a ficha em suas mãos retirando a caneta do bolso do jaleco alvo. ─ Lara Miller... peço que vocês se sentem, o quadro dela não é dos melhores.

Eu ocupo um lugar após Peter pedir com calma pra mim. Doutor Hugo se senta do meu lado e segura gentilmente em meu ombro com uma cara meio entristecida.

─ Ela foi guerreira, batalhou por ele o quanto pôde, mas agora ele está em paz... ela sofreu aborto, o bebê não aguentou os chutes desferidos na barriga, isso desencandeou duas hemorragias na qual contemos mas o feto ficou sem recursos e o cordão umbilical foi praticamente arrancado do bebê. Eu sinto muito pela perda ─ quando ele fala isso sinto meu mundo desmoronar, sinto tudo cair sobre mim. Meu coração se contorce e sinto que vou cair. ─ Quanto à ela... duas costelas quebradas, o pescoço sofreu sequelas e quase a perda vocal portanto vai demorar um pouco pras cordas vocais se desincharem, ela deslocou o punho também e perdeu uma bolsa de sangue que já está sendo reposta.

Naquele momento meu coração já estava em pó, apertei meu punho com raiva. Só eu sabia a dor que sentia em meu peito naquele instante. Não importa se eu teria que jogar futebol ou brincar de casinha, eu só queria meu filho nos braços, eu só queria poder tocar sua pele sensível e escutar sua gargalhada, mas isso agora era impossível, um desgraçado havia tirado isso tudo de mim. Havia tirado minha paternidade e deixado Lara em um leito em estado grave, e eu só conseguia me culpar por tudo, me culpar por não deixar ela em segurança, ela e nosso filho.

Eu me levantei, mas pela primeira vez depois de muito tempo eu me senti sem chão, não senti minhas pernas. E fui segurado por Peter que me ofereceu um abraço amigo sem falar nada.

Não contive minhas lágrimas, eu chorei no ombro dele, chorei porque eu queria ser pai e porque amava meu filho, mas agora ele tinha se ido.

E mesmo descobrindo a existência dele à pouco tempo eu já o amava loucamente, já estava louco pra o pegar nos braços, mas isso seria apenas um sonho, um sonho arrancado de mim.

Pra alguns essa perda pode ser algo pouco, mas se doía dessa maneira em mim, imagine em Lara, que era apegada com ele, que já estava fazendo planos até de fazer um quarto pro bebê. E pela primeira vez na minha vida, eu quis aquele bebê, eu quis ser pai, eu me tornei o homem mais feliz do mundo com aquela descoberta.

Peter alisou minhas costas enquanto as lágrimas deslizavam por minha bochecha, eu não conseguia acreditar, parecia ser apenas uma brincadeira, uma piada, algo surreal. Mas não, era tudo verdade.

Paraísos PerdidosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora