Capítulo 73.

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Bruno narrando:

Às vezes eu entendo bem como é ruim fazer planos mas depois acontecer algo ruim e ter que desfaze-los.

Depois de mais três dias no hospital, Lara recebeu alta e pôde ir para casa. Mas ela não estava bem, isso não era um segredo. Ela não falava muito, e eu estava preocupado. O doutor informou que após uma perda dessas era capaz até de ter uma depressão, mas eu estava do lado dela, não a deixaria se afundar num abismo, eu estava ali e seguraria sua mão em qualquer dificuldade.

Ela não quis ir comigo pro meu apartamento, quis ir direto pra casa de Arthur porque se queixou que não queria ficar sozinha, mas quando chegamos lá a mesma foi direto pro quarto de hóspedes e passou a manhã inteira lá dentro. Não soube o que fazer de princípio, todos nós estávamos mal, mas sabíamos bem que a maior dor de todas foi a dela.

E no fim da tarde, Arthur resolveu fazer uma festinha pela alta dela só entre a gente e a coragem me tomou para conversar com ela.

Quando entrei no quarto ela chorava chega soluçava, seus olhos estavam vermelhos, seu rosto inchado, ela estava deitada em posição fetal enquanto abraçava a roupinha de bebê que havia ganhado.

Me deitei com ela e ela pôde colocar tudo pra fora, me abraçou e me apertou ainda chorando, eu conversei com ela, fiz o meu melhor, e no final ela dormiu em meus braços.

Quando ela despertou eu e os meninos fizemos de tudo pra animar a mesma, até jogamos confete um no outro e Arthur com Diego capricharam na graça, acabou dando certo, após todos esses dias ela gargalhou muito, e aquilo foi um remédio, odiava ver ela mal, gostava de ver ela gargalhando e rindo atoa.

Ela comeu bastante do bolo de chocolate, depois fomos assistir filme e depois eu e ela dormimos juntos no quarto de hóspedes, após ela pedir é claro, e só então ela dormiu como anjo em meus braços.

Mas só bastou eu me levantar pra beber água que ela teve um pesadelo, sonhou com Ricardo a enforcado, e depois chorou, com medo. Aquele desgraçado havia ferrado com ela, e minha maior vontade era ferrar com ele de um jeito que ele jamais esqueceria.

Estava sendo difícil, mas eu tenho certeza que ela iria conseguir. Nenhuma dor é eterna.

Eu falei com a diretora da escola dela e por enquanto ela não iria, expliquei sobre o aborto e que ela precisava descansar um pouco, sem falar que a mente dela estava pesada. E eu me culpava demais por isso.

E por mais que eu afirmasse que estava bem... eu não estava.

Mas eu precisava ficar por ela, tinha que tira-la daquela tristeza e trazer aquela velha Lara saliente e teimosa de antes. Sentia falta de atarzanar ela, da gente discutir mesmo sabendo que o amor era bem maior que aquela ceninha.

***

Lara narrando:

Quando se está acostumado com algo, como um beijo todas as manhãs, um abraço todos os dias, uma conversa todas as noites, você acaba sentindo falta quando aquilo para. E eu sentia muita falta do bebê que habitava meu ventre, não dizendo que já tínhamos uma convivência de meses e meses, mas o tempo que ele passou dentro de mim foi o bastante pra um amor dentre nós dois nascer como uma plantinha em um vaso.

Sei que alguns pensam: ah, era só um feto, tinha só três meses, nem sabia se passava disso ou não. Mas não era, era uma vida, era um ser humano, era meu filho. Ele iria nascer, iria crescer, me chamar de mamãe, sorrir, gargalhar, me acordar de madrugada pelos dentinhos que estavam doendo, seria minha alegria, seria meu motivo de estar exausta, minha angústia e às vezes, meu motivo de querer jogar tudo pro alto.

Paraísos PerdidosWhere stories live. Discover now