Capítulo 64.

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No outro dia, quando eu acordei, a primeira coisa que senti foi um imenso enjoo matinal. Fui direto pro banheiro vomitar, merda! Aquele churrasco com certeza me fez mal...

Lavei o rosto, prendi os cabelos e aos poucos as memórias de ontem eu pude recobrar. Fui até meu celular que estava no criado mudo e o tirei do carregador, Ricardo havia me emprestado o dele, e o liguei abrindo a porta e descendo os degraus até a sala.

Estava tudo silencioso, no relógio da parede marcava nove e vinte e seis da matina, e quando meu celular ligou vi uma porrada de mensagens e ligações perdidas. A maioria de Bruno, abri a mensagem de Ricardo que dizia: Bom dia, não quis te acordar. Deixei algumas coisas compradas pra você tomar café, tive que vim resolver uma coisa no banco e uma da tarde tô em casa. Bjs e não esqueça de ver sua pintura.

Eu dei um sorriso e respondi apenas um: Tá bom, e muito obrigada! Fui ver as outras mensagens e abri no chat de Bruno, havia cinquenta mensagens, ele perguntava onde eu estava, se estava bem, e depois mandava vários pedidos de desculpa. Mandei apenas a localização pra ele e deixei meu celular de lado.

Fui até o cavalete que ainda estava no mesmo lugar de ontem e puxei a toalha que cobria a tela, quando tirei a toalha me deparei com uma pintura perfeita, digo completamente fantástica mesma, parecia ser pintada por um profissional. Eu estava sorrindo, a tinta óleo era destaque na pintura, os contornos, os detalhes, meu cabelo bagunçado com os cachos frouxos, meu ombro desnudo e o claro dos meus olhos pareciam que eram vivo, algo real. Na pintura havia flores e formas que apenas valorizavam mais e deixavam perfeito tudo aquilo. Meus olhos se encheram de lágrimas. Eu toquei cada contorno pra ver se era algo real mesmo, estava lindo.

Tirei uma foto pra registrar e até postei o marcando, e depois de ficar mais uns minutos ali admirando a pintura meu estômago roncou. Fui pra cozinha e peguei o bolo de chocolate praticamente o devorando, tomei o suco natural de laranja e comi umas três torradas com patê. Depois ajeitei tudo e guardei o que tinha restado do bolo, fui pra sala e me sentei mas no momento que peguei meu celular a porta foi aberta bruscamente.

Bruno adentrou vermelho de raiva, parecia um furacão. Eu dei um pulo do sofá e o encarei um pouco nervosa, afinal, estava na casa do seu inimigo.

─ Como você entrou aqui? ─ ninguém da portaria havia ligado, mas quando se fala de Bruno sei que nada é impossível.

─ Do mesmo jeito que nós vamos sair daqui agora... ─ ele tenta me puxar pra sairmos mas me afasto dele de novo. ─ Lara... não me desafie.

─ Não estou, eu só não quero que você me toque sem antes não me dar uma explicação... Eu sou sua namorada, eu quero respeito, e ontem você praticamente me humilhou com seus amigos! ─ digo indignada e em um tom alto.

─ Eu estava bêbado...

─ Eu pedi pra você parar de beber, sabe muito bem que já foi alcoólatra e sabe o que você fez? Não me deu ouvidos.

─ Lara... ─ ele diz meu nome impaciente. ─ Me desculpa.

Ele tem um certo controle em sua voz, percebo que aperta o punho. Ele está se controlando.

─ Desculpo... mas e aí? Vai acontecer de novo? Vai beber mais uma vez? Voltar pras bebidas? Me humilhar como sempre fez? Eu tô cansada de ser humilhada por você, Bruno.

Sinto as lágrimas descerem pelo meu rosto, ele me encara sem expressão alguma, noto seus punhos se aliviando assim como sua expressão dura.

─ Eu não humilhei você, eu apenas pedi que entrasse na parte de trás e parasse de gerar briga e conversinha, custava apenas fazer isso? Eu não queria brigar, sinceramente ─ diz de forma calma, eu sinto meu nariz arder e minha garganta travar.

─ Você tem vergonha de mim?

Vejo Bruno arquear a sobrancelha, ele solta um suspiro e passa as mãos nervosavemente pelas mechas rebeldes e claras.

─ Posso considerar isso como um "sim"? ─ minha voz sai falha e muito embargada, quase não sai na verdade. Me sinto um lixo, ele tinha vergonha de mim. ─ Não sou uma Vivian da vida, não tenho um corpão, e desculpa por isso.

─ Lara... ─ ele se aproxima e toma meu rosto em suas mãos, encaro seus olhos claros deixando as lágrimas derramarem, merda de emocional. ─ Não tenho vergonha de você, tenho medo de te perder. Para nós dois o nosso amor é certo, mas pro mundo lá fora é mais que errado, eu amo você, mas eu lutei minha vida inteira pra conseguir alcançar meus objetivos, você sabe que eu posso perder minha carteira da OAB né? E eu amo minha profissão mais que tudo. Você tem a mente muito fechada, se ocorreu aquilo ontem o certo era você pegar um táxi ou me ligar, não ligar pra Ricardo que é um desgraçado que já espancou Luana por besteira... você devia me procurar, o seu namorado, e não procurar ele. Você sabe bem o que ele quer... apenas te usar.

─ Quer dizer que agora eu sou a mente fechada? A criança da história? Bruno olha meu lado, eu sou apaixonada por você e olha como você me trata na frente dos seus amigos... você me humilhou! ─ puxo meu rosto de suas mãos e me sento no sofá fungando e enxugando minhas lágrimas.

─ Eu estava bêbado! ─ ele grita.

Eu me assusto com seu modo de falar, e então fico em silêncio encarando o chão.

─ Me descul...

─ Quer saber? É melhor a gente dá um tempo ─ levanto meu olhar pro mesmo.

─ É o quê?! ─ se mostra indignado.

─ É o que você ouviu, Bruno ─ me levanto e tiro o anel do meu dedo jogando aos pés dele. ─ Eu quero terminar.

Vi Bruno se agachar e ajuntar o anel o guardando no bolso da calça jeans, ele me olhou praticamente me fuzilando com o olhar. Ele então bateu seu olho na pintura e a analisou durante uns segundos, até partir pra cima e meter a mão na tela rasgando o desenho todinho. Meu coração se despedaçou e soltei um grito não deixando ele fazer aquilo, mas foi em vão. Ele chutou o cavalete, pisou na tela e no final não havia mais nada...

─ Sai daqui! ─ gritei o empurrando, encarei meu retrato em cores vivas no chão e senti mais vontade de chorar ainda. Bruno me olhou, seus olhos estavam avermelhados e ele suava, ele apontou o dedo em minha direção, abriu a boca diversas vezes e depois saiu pisando fundo, sem dizer nada e bufando.

Eu apenas me joguei no sofá e chorei como um bebê abraçando meus joelhos.

Paraísos PerdidosOù les histoires vivent. Découvrez maintenant