Sessenta - Milagres e Outros Problemas

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Só percebi que estava gritando quando minha mãe tampou minha boca.

— Quieta, Madison! Vai nos matar! — disse ela em tom urgente, um sussurro.

Levei alguns segundos para processar o panorama da situação. A mão gelada sobre meus lábios. Os olhos verdes tão iguais aos meus, mas injetados de adrenalina. A arma que segurava com a outra mão.

O corpo inerte e sem vida de Vidal.

Tiros no andar de baixo.

O corpo inerte e sem vida de Vidal.

Eu ainda estava viva.

O corpo... inerte... e sem vida... de Vidal...

No meio de uma guerra entre duas máfias poderosas, cruéis, sanguinárias.

Ainda estava viva porque minha mãe, até então uma ex-cirurgiã plástica que tinha se apaixonado por um mafioso na faculdade, metera um tiro na cabeça do braço direito desse mesmo mafioso. Sem nem hesitar. Simplesmente... Apontou e atirou. Não errou. Acertou de primeira.

De. Primeira.

Respirei fundo pelo nariz.

Era difícil digerir tantos acontecimentos estapafúrdios. Nenhum pensamento fez sentido.

Respirei fundo mais umas cinco vezes, até meu coração decidir parar de querer sair pela boca. Quando me acalmei, minha mãe me liberou.

— O que está... — quis perguntar, mas ela me interrompeu.

— Precisamos sair daqui — falou, enquanto ia desatar os nós que prendiam minhas mãos.

— Mãe...

— As coisas saíram do controle, conforme avisei a seu pai que aconteceria. Mas ele me ouve? Não.

Ela estava tendo dificuldades para desatar o último nó, pois as mãos estavam tremendo muito.

— Mãe...

— Agora ele provavelmente já está morto, porque não tem a mínima condição de bater de frente com o Legado só na companhia de uns cinco ou seis irmãos...

— Mãe...

Ela conseguiu livrar minhas mãos e me ajudou a levantar.

— Vamos.

— Mãe... O que está fazendo aqui? Eu não mandei você cair fora?

Ela suspirou impaciente. Depois, segurou meu rosto entre as mãos e me olhou com intensidade. O verde ainda brilhava estranhamente. Nunca antes em minha vida tinha presenciado aquele tipo de olhar. Não parecia que ela estava com medo, mas... Eufórica.

— Eu não deixaria você sozinha no meio de uma situação que eu tinha certeza absoluta de que iria desandar.

— Mas como é que sabia...

— Eu bisbilhoto as conversas dele porque não sou a única com a vida em jogo por aqui. Jamais deixaria qualquer coisa acontecer com você por causa da inconsequência dele. E da minha, principalmente.

Tiros. Tiros, muitos tiros.

— Vamos. Não temos muito tempo, precisamos sair desta casa imediatamente.

Assenti, uma vez que a obviedade da situação de perigo era gritante. Ela tinha razão.

— Eu sei como sair daqui, mas antes precisamos passar no meu quarto. E no porão.

Em nenhuma hipótese eu sairia dali sem saber da situação de Dylan, se havia alguma chance de salvá-lo também.

— Maddie...

Desvio de CondutaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora