Cinquenta e Dois - Intruso e Outros Problemas

6.9K 797 1.2K
                                    

— Porra! — Dylan sussurrou um palavrão ao meu lado. E soou um tanto desesperado.

Foi o que me trouxe de volta ao planeta Terra.

Eu estava em choque.

E não saberia informar por quanto tempo fiquei paralisada, incapaz de esboçar qualquer mínima reação à tragédia - anunciada, eu poderia arriscar - que se desenrolava em meu quarto naquele momento.

A boca estava seca, os olhos também, as mãos tremiam um pouco, minha voz tinha sido esquecida na terra distante do choque, porque simplesmente não saiu. Queria falar uns palavrões, uns porra, caralho, filho da puta, enxerido de merda! Mas não deu. Não deu. Só consegui soltar um guincho agudo, o retrato da minha aflição.

Meus olhos iam de Ramon Garcia - tão surpreso quanto eu -, para o celular do FBI esmagado entre seus dedos, para o notebook do FBI escancarado em cima da cama, para meu closet e minha cama completamente revirados... Ele esteve procurando por um tempo. E encontrou. Encontrou algo que estava muito bem escondido e que não seria encontrado se não fosse procurado com tamanha certeza.

Ramon Garcia parecia igualmente incapaz de reagir ao flagra. Sua boca abriu e fechou algumas vezes, nada disse. Foi Dylan, aparentemente detentor de algum controle sobre as cordas vocais, quem falou primeiro:

— Muito ousado da sua parte invadir o quarto de Madison na surdina, enquanto todos estão distraídos no andar de baixo... — Seu tom era muito calmo.

Disse isso enquanto fechava a porta atrás de si e, em seguida, trancava, guardando a chave no bolso do terno.

Só me restou invejar sua habilidade de manter a compostura quando a solução mais racional era sair correndo dali o mais rápido possível, antes que Ramon Garcia contasse tudo para Anthony Muñoz e eu e Dylan fôssemos linchados em praça pública. Ou, pior, na mansão de La Recocha.

Duvidava que Anthony Muñoz não nos presentearia com uma morte lenta, dolorosa, depois de nos torturar por horas e horas, só porque podia...

O fato de ser a filha dele talvez só piorasse minha situação.

Ramon Garcia acordou de seu transe uns cinco segundos depois. Riu com deboche, antes de responder:

Hijo de puta! Ousadia é a desta cadela de trair a família! O FBI! DENTRO DO LAR DE LA RECOCHA!

Ele estava gritando. E o desespero de cogitar a possibilidade de alguém ouvir finalmente pôs meu corpo para trabalhar mais uma vez. Por puro impulso, movida pela raiva, fui até Ramon Garcia e tirei o celular de sua mão, apontando o dedo em riste para seu nariz torto:

— Fala baixo, meu querido, antes que eu meta uma bala no meio dessa sua testa bronzeada! — Saiu quase um sussurro.

Mas um sussurro de respeito. Contido, grave, sincero. Ele não continuou a rir, muito embora a expressão de ódio em seus olhos ainda fosse muito evidente. E quem poderia culpá-lo?

— Bom. Acho que se lembra da última vez que me tirou do sério, não é mesmo? — Ameacei.

O homem cerrou os olhos.

— Você não está no controle aqui.

Foi a minha vez de rir em deboche. Olhei para Dylan, que me admirava da porta, as mãos casualmente escondidas no bolso do terno, um sorriso relaxado nos lábios. Era impossível não me sentir confiante quando o tinha ao meu lado.

— Eu sempre estarei no controle.

Ele balançou a cabeça e apontou para o notebook jogado em cima da minha cama.

Desvio de CondutaOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz