Dezessete - Round Quatro e Outros Problemas

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O vestido foi comprado sem que eu pudesse dizer "não, mãe, vamos procurar outros, vamos esperar mais um pouco, ainda nem temos uma data". Nem mesmo um desastre natural de proporções catastróficas impediria Linda Turner de fazer o que Linda Turner queria fazer. Inclusive minha derrota foi dupla, já que a data foi temporariamente marcada: 09/11. Dali a menos de três meses (uma semana antes das eleições). Um interessante enigma foi lançado, contudo: como ela conseguiria organizar o casamento que havia descrito em uma conversa de quase três horas de duração - logo após sairmos da loja de noivas e minha cabeça estar apenas concentrada no que os dedos e a língua de Dylan eram capazes de fazer - nesse tempo mínimo. Mas Linda Turner daria um jeito, ela sempre dava.

Minha mãe teve que ir embora no sábado mesmo, porque os gêmeos tinham um jogo de futebol no domingo (para os dois monstrinhos – com pouca inteligência para qualquer coisa além de lançar uma bola e trombar nos outros - de noventa quilos e 1,92 de altura o futuro reservado era uma vaga nos times mais ricos da NFL, para Madison era ser dona de casa, mulher de político, socialite com um diploma de enfeite – o tipo de projeção pela qual jamais perdoaria meus pais machistas e conservadores). Por isso, mesmo que tivesse que engolir aquela porcaria toda de casamento em respeito a Trevor, quando dissesse aos meus pais que nada daquilo iria rolar, seria quase uma libertação espiritual.

Madison Turner não seria a mulher do político, Madison Turner seria o que quisesse ser.

Dylan, inclusive, nos acompanhou até o aeroporto, gesto suficiente para arrancar de minha mãe um beijo estalado na bochecha, um afago no cabelo, um aperto nos bíceps, olhos brilhantes: claro sinal de paixão platônica. No manual de comportamento de Linda Turner não havia nada correspondente àquilo – confusão total. Imogen nos deixou para se encontrar com Aaron – quem ela jurava que não era seu namorado, mas havia se tornado exclusivo nos últimos dias -.

Diante disso, Dylan me convidou para conhecer seu quarto, já que o colega não estaria por ali durante as próximas horas. Um plano perfeito desenhou-se à minha frente: conhecer aquele quarto significava dar o troco pelo bônus e vencer de uma vez por todas o round quatro, antes que ele começasse e Dylan saísse na frente.

Mudei o curso e o caminho direcionou-se ao prédio em que ficava seu dormitório. Sem obstáculos e com uma imprudente ausência de preocupação com o que os outros poderiam pensar, apenas fui. Os paparazzi que de vez em quando gostavam de me seguir por aí eram uma sombra chata de um passado que tinha Trevor como peça principal. Nada relevantes quando a perspectiva era eu sozinha com Dylan Campbell entre quatro paredes, sem a possibilidade de alguém nos pegar no flagra. Finalmente.

Andamos lado a lado pelo campus, sorrisos contidos nos lábios, que guardavam em sua essência as promessas de sexo cru, carnal, lascivo, que inundavam nossas intenções. Meu lado sedutor ainda aprendiz já evoluía para um patamar razoável, motivo pelo qual despertou em mim a confiança necessária para levar aquele nosso joguinho um passo adiante.

Entre nosso silêncio, no entanto, o celular de Dylan tocou. Ele parou e se afastou alguns passos para atender. Falou baixo, poucas palavras, mais assentiu do que negou. Quando voltou, tinha um sorriso sem graça nos lábios:

- Vamos ter que remarcar, Panda. Surgiu um problema urgente.

- Problema? – cerrei os olhos.

A desconfiança tornava-se, cada vez mais, minha melhor amiga quando o assunto era Dylan. Nada do que ele fazia parecia ser inocente, sem intenções obscuras, sem razões escusas. Desde pequena sempre gostara de mistérios, era a campeã da família em detetive, assim não via jeito de me afastar de Dylan, mesmo quase certa de que algo sobre ele não era... Legal.

Desvio de CondutaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora