Seis - Café e Outros Problemas

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Caminhar ao lado de Dylan pelo campus de Harvard foi uma interessante experiência. Ele atraía muitos olhares femininos, enquanto eu descobri atrair todo tipo de olhar curioso, feminino ou masculino. Aquelas aparições no E! Online só serviam para isso e para Trevor ser cobiçado nas redes sociais por adolescentes que achavam certo votar em um cara por sua beleza, não por sua capacidade política e intelectual. Trevor tinha os dois, mas elas não pareciam se importar com isso.

De qualquer modo, parecíamos, Dylan e eu, uma atração de circo passeando pelo centro da cidade antes da grande apresentação de abertura. O que aquele cara fazia comigo? O que a namorada (ainda desconhecidamente noiva) de Trevor Williams fazia com aquele cara?

Certamente eu era a última a ter ideia do que fazia com aquele cara, no tipo de confusão em que estaria me metendo pelo simples fato de aceitar tomar um café e deixar que ele pagasse. Talvez não desse em nada, talvez fosse mesmo um singelo café em agradecimento pelos "serviços prestados". Mas minha intuição dizia que havia muito mais por trás de todos os gestos e intenções ocultas do misterioso Dylan Campbell.

E eu queria, já que a chance, aparentemente cobiçada por tantas, havia sido concedida a mim, como boa curiosa e desesperadamente atraída garota, descobrir o que era.

-Achei que fosse me rejeitar. – Dylan disse finalmente, quando atravessamos os portões da Universidade e eu já estava começando a me sentir constrangida com o silêncio velado que se abateu sobre nós. – Você não para de me surpreender.

Meus pensamentos não saíam dele, vergonhosamente obsessivos maquinando qual seu propósito. Eu não era capaz, no entanto, de decifrar o que significava o brilho em seus olhos azuis, o meio sorriso que parecia sempre esconder a melhor piada do mundo, a que só ele tinha a sorte de ter acesso. Eu queria que ele dividisse comigo.

Deixei de olhar para a rua que se estendeu à minha frente, porque não resisti à tentação de colocar meus olhos sobre ele. Sua barba por fazer dava um ar tão relaxado, descontraído. As mãos nos bolsos passavam a já característica segurança pessoal invejável. O sol ainda refletia em seus cabelos meio dourados e em sua pele bronzeada, sua testa estava franzida por conta da claridade. Ele era tão ridiculamente bonito que eu tinha vontade de gritar de frustração. Por não poder tocá-lo, por não poder estar com ele, por não poder corresponder a qualquer que fosse sua intenção comigo: sexo, um beijo, uma noite apenas, eu não me importaria...

Infidelidade.

-Tem alguma coisa errada na minha cara ou você só está fazendo aquilo de novo? – ele perguntou, quando eu demorei um tempo acima do recomendado a pessoas normais para responde-lo.

-Aquilo o...

Não consegui terminar de formular a frase. Quando me dei conta, tinha atropelado uma lixeira fixa na calçada. Meu joelho latejou de imediato e jurei ter visto estrelas de dor.

-Está tudo bem? – Dylan se aproximou.

Suas mãos quentes ampararam meus braços, uma cuidadosa atenção que logo notei não estar acostumada a receber. Porque meu coração esquentou mais do que meus hormônios entraram em ebulição pelo toque de sua pele na minha. A corrente elétrica de euforia estava lá, mas eu senti algo mais. Algo que me assustou. Ele estava tão próximo que eu podia sentir o calor de seu corpo emanando em direção ao meu, em ondas poderosas, intoxicantes. Seu perfume era inebriante. Ele me enfiou em uma bolha de Dylan Campbell, da qual eu não queria sair, queria estar para sempre, pelo simples fato de ter se aproximado e tocado em meus braços.

Eu estava com seríssimos problemas.

Olhei para cima e encontrei o mar do Caribe me encarando de cima, muito mais próximo do que eu imaginei encontrar.

Desvio de CondutaWhere stories live. Discover now