Desvio de Conduta

Três - Casamento e Outros Problemas

Escapou.

Antes que me desse conta, simplesmente escapou. Maldita palavrinha de três letras que não consegui segurar na minha língua. Eu estava em pânico, incapaz de raciocinar com coerência. Possivelmente entrei no piloto automático e dei a resposta programada pelo meu cérebro desde o momento em que cogitei, pela primeira vez, que um dia talvez fosse pedida em casamento por Trevor... Eram tempos diferentes esses...

Quando criança eu jurava de pés juntos que jamais iria me casar. Justin Timberlake poderia estar ajoelhado aos meus pés, oferecendo o maior e mais caro diamante da Tiffany's, que eu obviamente diria não. Não era Justin Timberlake ali, embora tão bonito e rico quanto; o diamante possivelmente se encaixava na qualidade de maior e mais caro da Tiffany's. Mas eu não consegui dizer não.

Primeiro: eu namorava Trevor há sete anos. E antes disso, minha vida havia sido tão... Caótica, que eu mal poderia dizer que estive, de fato, em um relacionamento. Ao menos um que não fosse tóxico a ponto de quase me destruir. Para pessoas normais, sete anos é um período considerável, você está apto a se casar com o cara com o qual passou todo esse tempo namorando, quer dizer, vocês foram capazes de se suportar por tão longo período, vocês supostamente se amam...

Segundo: eu devia a Trevor muito mais do que o agradecimento por ter sido pedida em casamento com o maior e mais caro diamante da Tiffany's., como minha eu de cinco anos de idade insistiu não querer. A minha eu de dezesseis anos, quando foi resgatada do fundo do poço pelo Trevor de dezessete, achou aquilo tão lindo que, pela primeira vez na vida, cogitou que não seria tão ruim a instituição do matrimônio, especialmente se ela viesse proposta com um diamante da Tiffany's. Por ele, meu salvador. O desejo pelo diamante não se difundiu com o passar dos anos, quando eu deixei de ser tão consumista, então não fez diferença. E o fato de que esse ideal de herói que eu tinha dele vinha se apagando nos últimos tempos não foi levado em conta naquele momento. Porque os sete anos valiam mais do que os últimos dois meses ou as últimas sete horas...

Terceiro: difícil admitir, mas a imagem que me veio à cabeça após a palavrinha escapulir foram os olhos azuis feito o mar do caribe me encarando pela primeira vez. Bizarro, só para começar. Mas me fez pensar, meio segundo depois de dizer sim, que talvez a resposta certa fosse 'por enquanto, não'. A questão não era pensar no deus grego impertinente, mas pensar em outro homem, como se a ideia de não poder expandir os meus horizontes com mais ninguém além de Trevor fosse praticamente inconcebível. Era estranho, no mínimo. Estar fadada a beijar um só homem pelo resto da vida. Transar com um só homem até o fim dos meus dias. Eu, com só 23 anos e um longo caminho a trilhar. Trevor estava com tudo encaminhado, tudo planejado, tudo perfeito, enquanto eu ainda estava perdida, recém realizando um sonho de infância e ainda sem ideia de quem eu queria ser quando crescesse... Era justo para ele selar tudo com um casamento, enquanto para mim... Pareceu mais automático do que lógico.

Então lá estava eu, dizendo 'sim' para Trevor Williams, aceitando deixar de ser Madison Turner para me tornar Madison Williams, a senhora esposa de um deputado federal. Tão peculiar... Minha mãe teria orgulho. Já eu... Não tinha ideia do que pensar.

Tarde demais para voltar atrás, contudo. Eu já havia dito que sim, não poderia simplesmente dizer "ops, me enganei aqui, acho que não quero estar com você na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, até que a morte nos separe". Pelo menos não por enquanto... Eu não sabia o que o futuro me reservava e de repente descobrir que ele estava fadado a eu entrando de véu e grinalda numa igreja... Teria que me acostumar com a ideia, porque, acima de tudo, era covarde demais para cogitar a ideia de magoar Trevor, que havia dedicado seus dias a não me magoar... Seria ingrato e injusto da minha parte...