Vinte e Dois - Infiltrar, investigar, seguir, reportar

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Ah, merda!

Merda, merda, merda.

Por um tempo, meu cérebro pareceu ser incapaz de pensar em qualquer outra palavra para descrever minha situação quando pus meus olhos na foto dela pela primeira vez. Merda, porque sabia que estava ferrado. Muito ferrado. Por três simples motivos:

1) Ela era perfeita. Perfeita mesmo, em todos os sentidos. Preenchia, sem exceções, os padrões de beleza estabelecidos anos atrás pelo Mason adolescente-recém-chegado-à-puberdade. Cabelos claros ondulados, olhos verdes, lábios rosados, sorriso grande e sincero, covinha na bochecha, nariz arrebitado. Ar de quem chega no ambiente e encanta todos ao redor. A sensação foi a de que tinha acabado de encontrar a mulher da minha vida.

2) Ela era namorada de um merdinha de um candidato a deputado corrupto que se achava mais esperto do que o FBI. Ou seja: inalcançável. O que me levava ao terceiro motivo:

3) Ela era minha missão. Infiltrar, investigar, seguir, reportar tudo o que Madison Elise Turner fazia ou deixava de fazer. Se eu estava autorizado a seduzi-la para atingir meu objetivo profissional? Sim, estava. Se eu estava autorizado a seduzi-la para atingir apenas meu objetivo pessoal de ter a garota perfeita? Não, não estava.

Conhecendo meu histórico de relacionamentos amorosos, meu modus operandi e o fato de que não perdia tempo, quando não tinha que ser perdido, sabia que o mais sensato a se fazer era recusar a missão. Um envolvimento com aquela garota apenas de forma profissional exigiria de meu autocontrole muito mais do que ele era capaz, não havia dúvidas quanto a isso. No entanto, eu estava de molho há muito, muito tempo. Aquela era minha chance de ouro, Lisbeth arriscara seu pescoço e seu emprego por ela, não seria honesto de minha parte abrir mão porque não conseguiria manter meu pau dentro da calça. Já estava mais do que na hora de aprender a manter meu pau dentro da calça, quando ele tinha que ser mantido lá. Já era hora de amadurecer, fazer trabalho de gente grande. Então eu aceitei, com uma promessa a mim mesmo de que não colocaria a missão em risco, nem mesmo por um par de seios fartos e aquele sorriso de covinha.

Mackenzie teria orgulho de mim: agente do FBI infiltrado no curso de Direito em Harvard para acabar com o esquema das máfias nos Estados Unidos. Eu era um cara de Stanford, mas poderia lidar muito bem com isso. Além do mais, seria o tipo de missão que ela não recusaria, se a chance de se tornar uma agente não tivesse sido arrancada de suas mãos.

Se me perguntassem, há 8 anos, onde eu achava que estaria, certamente a resposta seria algo muito próximo a: sendo o maior astro da NFL. Eu era um quarterback brilhante, Stanford praticamente rastejara aos meus pés oferecendo uma bolsa e uma vaga no time titular, e eu tinha apenas 18 anos. Meu futuro estava traçado, nada poderia abalar o caminho de sucesso que tinha à minha frente. Nada até aquela madrugada fria de 17 de novembro de 2008.

Veja bem, ser agente do FBI não era meu sonho, longe disso. Era o sonho de outra pessoa. O sonho de Mackenzie, minha irmã gêmea. Eu apenas o adotei, por questão de honra, porque precisava fazer alguma coisa por ela, qualquer coisa.

Desde que me entendia por gente me lembrava de Mackenzie assistindo aos filmes de ação do Bruce Willis. Ela queria ser como ele, prender caras malvados, ter uma arma, usar um distintivo dourado no peito pendurado por uma corrente. E ela fez tudo na vida pautada nesse objetivo: tornou-se faixa preta no caratê, uma nadadora excepcional, campeã nacional juvenil de tiro ao alvo, a melhor aluna do colégio todos os anos. Seu verdadeiro desejo era que fôssemos os dois por esse caminho, mas eu gostava muito mais da ideia do futebol do que de qualquer outra. Sem muito êxito, por anos ela tentou me convencer. Eu faria qualquer coisa por Mackenzie, menos isso. Ela também faria qualquer coisa, qualquer coisa, por mim, descobri em 17 de novembro de 2008.

Desvio de CondutaWhere stories live. Discover now