Epílogo

4.5K 538 564
                                    


Por mais belo que fosse, o mar do Caribe que rodeava Cartagena não fazia jus aos olhos azuis de Mason Dylan Carter.

Era de frente para esse mar que eu acordava e esperava pelo dia em que minha primeira vista seriam as duas íris azuis dele. Por longos oito meses aguardei pacientemente.

Não foi tão fácil chegar a Cartagena em segurança. Deixei a mansão de La Recocha em um cenário de guerra civil. Fumaça, tiros, fogo. Olhar para trás quando já estava do lado de fora do condomínio de luxo foi doloroso, mas ao mesmo tempo libertador. Algo dentro de mim dizia que tudo daria certo. Que Dylan, de alguma forma, sairia de lá em segurança.

Quando já estava bem longe, lá no centro de Los Angeles, liguei para a "Tecnoclean Aspiradores Industriais", no Novo México, e pedi o tipo de produto que indicava no cartão fornecido pelo meu pai. Um senhor idoso me buscou em um parque na região central da cidade e me levou até o aeroporto de Anaheim, onde peguei um voo para Miami, então, para Bogotá, e, finalmente cheguei a Cartagena.

Ganhei um nova identidade, Morgan Pierce. Nada precisou ser pago, porque meu pai já tinha se adiantado há algum tempo e cuidado disso. Ainda ganhei uma mala cheia de dinheiro, além daquela conta a que eu teria acesso em Antigua e Barbuda. Paguei uns dólares a mais para o senhor, para que ele enviasse notícias minhas a Imogen, Matt e Mark. Imogen certamente ouviria sobre a chacina na mansão do mafioso Anthony Muñoz e entraria em parafuso até descobrir se eu estava bem. Matt e Mark se perguntariam onde diabos eu estaria, depois de um tempo sem dar as caras. Não poderia fugir deixando-os no escuro. Eles ficariam satisfeitos apenas por saber que eu estava viva. E bem.

Só descobri o que tinha acontecido com meus pais quando cheguei em Cartagena e me hospedei em um hotel de qualidade duvidosa, mas que tinha internet disponível. Meu pai tinha sido morto em sua biblioteca. Minha mãe, por sua vez, não tinha sido encontrada entre os mortos na mansão. Meu coração aqueceu um pouco, com a esperança de que ela ainda estivesse viva.

Provavelmente, se tivesse sobrevivido e fugido, não teria planos de ser uma pessoa melhor, faria de seu objetivo de vida construir aquela nova máfia. No entanto, seria mentira dizer que eu preferia que ela tivesse morrido, a despeito de ter sido alvo de sua pistola por mais tempo do que eu teria julgado razoável. Era minha mãe, afinal de contas. E enquanto eu estivesse segura e bem longe de seus ímpetos mafiosos, sempre desejaria seu bem.

Doeu bastante. Saber que meu pai tinha morrido, que minha mãe estava desaparecida e provavelmente tramando algum plano de dominação mafiosa... Meu luto durou meses. E eu não tinha ninguém com quem dividir a dor. Nunca antes precisei tanto da companhia de Imogen, que nunca antes foi tão inalcançável. Foi difícil. O período mais difícil da minha vida, muito mais do que aqueles meses enfiada numa mansão lotada de mafiosos, muito mais do que aqueles em que estive internada, doente, dependendo emocionalmente de um namorado abusivo. Mas não desisti, porque acreditava na palavra de Dylan. Ele viria.

No final das contas, meu nome e minha foto tinham ido parar na lista de procurados da Interpol, de modo que tive que manter um perfil muito conservador. Cortei o cabelo e pintei de vermelho. Usava óculos com frequência e evitava frequentar a região turística, onde poderia haver diversos americanos bem informados a respeito de minha história.

Com parte do dinheiro deixado por meu pai comprei um café/livraria charmoso em uma região tranquila de Cartagena. Ainda que tivesse milhões guardados no banco, o suficiente para não ter que trabalhar pelo resto da vida, precisava fazer alguma coisa para manter a cabeça ocupada. E me misturar entre o povo colombiano. Não tinha ideia se algum dia meu nome sairia da lista de procurados da Interpol, então tinha que pautar meus planos na identidade de Morgan Pierce, uma americana que tinha herdado a fortuna de um parente distante e queria sossego bem longe de seu país, vivendo sua vida tranquila, tocando seu café/livraria.

De Dylan, contudo, não tive notícias. Tudo o que consegui descobrir foi que seu nome também não estava na lista de mortos na chacina de La Recocha, o que já era um alento. Diante disso, paguei outro serviço extra ao senhor do Novo México, para que localizasse o endereço dele em Boston. Enviei uma carta anônima com pistas de onde ele poderia me encontrar. Ele prometeu que viria me encontrar.

Assim, agarrei-me à esperança de que o veria novamente, porque era o único horizonte que via à minha frente.

No final do oitavo mês a espera teve um fim.

Era um dia de chuva, por isso o mar do Caribe não tinha um tom azul claro, mas escuro, quase cinza. Um dia propício para que os olhos dele me iluminassem.

Eu estava no balcão do café, cobrindo o turno de minha funcionária, Matilda, enquanto ela visitava a mãe no hospital. O sino preso à porta anunciou que ela tinha sido aberta. Minha atenção, que estava dispersa em um livro de fantasia adolescente qualquer, foi logo atraída para a entrada. De alguma forma, eu sabia que tinha que olhar para aquele cliente em especial.

E era um cliente especial, de fato.

Usava um boné preto, ray ban estilosos, uma bermuda de sarja bege e a camisa florida dos turistas. Estava perfeitamente camuflado entre eles. A barba tinha crescido consideravelmente, o que o tinha deixado com uma aparência charmosa e desleixada. Quando a porta bateu atrás dele, abriu um sorriso. O meu sorriso. Baixou os óculos de sol, ao que o mar azul do Caribe faiscou em minha direção.

Meu coração perdeu o rumo, o compasso, as batidas.

— Ei, Panda.

Mason Dylan Carter era um homem que cumpria promessas, afinal de contas.

-----

NOTA FINAL:  Esta é a nota mais difícil de escrever. Desvio de Conduta me acompanhou por cinco anos. E acho que acompanhou uma boa parte de vocês também, que não desistiram de mim, apesar do longo tempo que levei para escrever essa história. Eu lembro do exato momento em que tive a ideia. Eu estava no primeiro dia de aula na pós-graduação (não, não é uma coincidência, hahahaha) e, de fato, um cara muito, mas muuuito bonito (e ele parecia o Liam Hemsworth, por isso o irmão mais novo do Thor foi escolhido como cast) sentou ao meu lado. Ele não me perguntou que dia era, mas eu tive mesmo que tirar minha mochila da cadeira para que ele pudesse sentar. Como vida real não é ficção, o cara só serviu mesmo para me dar uma boa ideia, porque tinha muito pouco de Dylan. E eu não estava em um relacionamento de merda, então não quis seguir o caminho da Maddy, hahahaha. Enfim, naquela mesma aula eu já desenvolvi um plot sobre mafiosos e agentes do FBI infiltrados. Coisa que eu sempre quis escrever, porque amo muito filmes de máfia e de agentes infiltrados. E eu fiquei muito feliz com o resultado. Eu queria que DDC fosse uma história divertida, que fizesse as leitoras suspirarem, darem risada, ficarem nervosas, ansiosas, com medo de dar tudo errado no final, mas, bem, no final, dar tudo certo. Espero, de coração, que eu tenha atingido meu objetivo. Que tenham suspirado, rido, chorado, ficado nervosas, e, depois, felizes. Espero que vocês gostem do final e guardem a Maddy e o Dylan no coração, como eles estão no meu. 

Obrigada, obrigada mesmo, por quem acompanhou desde o início, lá em 2015, até aqui. Obrigada a você que chegou no meio do caminho ou que chegou só agora e teve paciência de ler longos 61 capítulos! Foram mais de 900 páginas de Word! Ufa! Vocês têm também um lugar guardado no meu coração e minha eterna gratidão por tirarem um tempinho de suas vidas para ler essas coisas que saem da minha cabeça. 

Obrigada especial à Sally, que emprestou o tempo dela para ler diversos capítulos de DDC quando eu estava insegura e não deixou de me dar forças para continuar em momento nenhum. Você brilha e é maravilhosa!

Espero em breve ter mais uma boa ideia para voltar aqui compartilhar com vocês. 

Obrigada de novo.

Até a próxima!

Milbjs,

Ands.

Desvio de CondutaWhere stories live. Discover now