Quarenta e Oito - Ratos e Outros Problemas

11.4K 790 561
                                    


Vidal não tinha planos de ir ao Japão. Na verdade, Vidal não tinha planos de ir a lugar algum, a não ser que eu estivesse junto, porque ele era meu "mentor" e precisava me preparar para "meus deveres". Não me livraria dele tão cedo, de modo que a operação "plantar uma escuta no quarto do Vidal", ao menos por enquanto, estava suspensa.

Não me arriscaria por conta de um palpite sem fundamento de Lisbeth, especialmente se estivesse baseado, de fato, na esperança de que eu fosse pega no flagra. Não havia muitas desculpas a serem dadas para estar no quarto dele, e ele provavelmente só acreditaria em uma: "quero dar para você de novo". Eu meio que não queria, então era melhor manter distância. Lisbeth que tivesse paciência ou fosse para o quinto dos infernos.

Por isso, guardei a escuta junto do computador e do celular cedidos pelo FBI, escondidos no fundo falso de meu closet, e rezei para que, realmente, Vidal não saísse do país nem fosse muito longe da mansão, a ponto de justificar a confiança de que teria tempo de invadir o quarto dele para plantar a maldita escuta.

De qualquer forma, a escuta levantou uma inevitável suspeita, que me incomodou o caminho todo de volta a Los Angeles: havia uma no meu quarto? Muñoz não tinha motivo algum para confiar totalmente em mim, em minhas intenções. Seria ingenuidade minha pensar que ele não estaria me espionando? Ou seria ingenuidade dele não desconfiar da filha que jamais conheceu e que foi criada entre seus inimigos capitais? Para todos os efeitos, eu poderia estar ali a mando de meu avô, fingindo ser uma garota legal que viu glamour na máfia e está louca para fazer parte dela. Não, ele não seria tão ingênuo, mas eu fui. Estremeci só de considerar a possibilidade de que ele tenha me ouvido falar ao telefone com Dylan ou Imogen. Ou ter me visto mexer em um computador misterioso na calada da noite de uma forma um tanto suspeita.

Fato é que, possivelmente, não havia uma escuta ou câmera no meu quarto de hotel, já que fui capaz de voltar ao Palace, passar pela recepção sem ser abordada, subir as escadas e voltar ao meu quarto, no intervalo de dez segundos em que os seguranças não estavam vigiando minha porta. Sem problemas. Esperei por quase meia hora que Vidal viesse bater à minha porta com um sorriso malicioso no rosto, uma frase de efeito espertinha pronta para quebrar as minhas pernas. Não aconteceu.

Mas era possível que ele soubesse, porque ele parecia saber de tudo...

Não poderia me dar ao luxo de pensar que estava tudo bem, que tinha enganado o cara mais esperto de La Recocha. Seria muita pretensão.

De qualquer forma, tomei coragem de questioná-lo a respeito disso no meio do curto caminho entre Las Vegas e Los Angeles. Novamente, ele estava sentado na poltrona ao lado da minha e não mediu esforços para me fazer falar. Deixei que ele achasse que estava fazendo sua mágica... Talvez Vidal fosse a escuta e a câmera de Muñoz, no final das contas...

— O que achou de Las Vegas? — perguntou ele, casualmente.

— Muito Las Vegas. Mas muito elucidativa, do ponto de vista dos negócios.

— É o pulmão de La Recocha.

— Pois é. No entanto, é realmente muito curioso que a polícia nunca tenha incomodado...

— Eles já tentaram algumas vezes. Porém, além de suborno, Tony tem diversas gravações de policiais do alto escalão pedindo subornos. Se de repente alguém achar que não quer mais fazer parte dessa vida, Tony não vai deixar acontecer, sem cobrar muito caro. É assim que ele deixa todo mundo na linha.

Virei-me na poltrona, para encará-lo melhor, sendo cautelosa de observar se alguém prestava atenção em nossa conversa. Ninguém prestava.

— É uma jogada inteligente. Nada que uma invasão de privacidade não resolva...

Desvio de CondutaWhere stories live. Discover now