Trinta - Costa Leste e Outros Problemas

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Saí da casa sozinha, depois de ajeitar meu cabelo, o vestido e retocar o batom arruinado pelo beijo de Dylan. Assim que adentrei a tenda novamente, minha mãe veio correndo em minha direção.

— Onde você estava? — sussurrou com urgência, embora seu semblante estivesse sorridente.

Lembrei do que meu pai e meu avô haviam dito sobre ela. Um lobo em pele de cordeiro. A máscara de mulher fútil e extravagante que escondia uma mulher fria e calculista. Criada para ser assim por meu avô. Fiquei me perguntando se ela queria que aquele casamento acontecesse porque achava que Trevor, de fato, era o homem para mim, ou porque tinha interesses escusos na causa. Talvez a segunda opção fosse a verdadeira, e isso me assustava, porque mostrava que não poderia confiar nem mesmo em minha mãe.

— Procurando respostas.

— Para quais perguntas? — ela me encarou confusa.

— Você sabe quais. — disse, e saí andando na sua frente até a mesa principal, onde Trevor me aguardava com sua tão rotineira expressão de desgosto.

— Não me pergunta nada. — disse, impedindo-o de sequer começar a falar.

Trevor ficou com a boca meio aberta, as palavras presas na garganta. Agradeci pelo fato de ter entendido, pela primeira vez na vida, que o melhor a se fazer naquele momento era me deixar em paz.

Eu estava tremendo, notei assim que peguei um copo de água oferecido por um dos garçons que estava de passagem. E não era pouco. Não consegui saber se era por conta da conversa que tinha ouvido entre meu pai e avô, dos beijos de Dylan ou pelo que estava por vir. Virei o copo e o esvaziei em longos e quase desesperados três goles. Assim que o coloquei sobre a mesa, Dylan entrou na tenda. E não tivera a mesma preocupação que eu em se recompor. Os cabelos ainda estavam desgrenhados, a camisa desalinhada, o sorriso de canto de lado de quem havia feito coisa que não deveria estava ali.

Foi também neste momento que meu pai e meu avô, assim como minha mãe,  avó, os pais e avós de Trevor, subiram ao palco ocupado pela elegante banda que animava a festa naquela tarde. O microfone foi tomado por meu avô da vocalista simpática de voz doce. Ele a agradeceu com um sorriso duro e virou-se para os convidados, que já tinham toda a atenção nele.

— Boa tarde. — começou, em seu tom de voz pomposo e grave de senador republicando, recebendo cumprimentos entusiasmados em retorno.

Mantive-me em silêncio, incapaz de esquecer que aquele homem, menos de meia hora antes, havia insinuado, de forma tão natural, que minha morte seria a solução para seus problemas.

— Mal consigo encontrar palavras para expressar o significado deste dia para nossas famílias, os Turner, os Williams. É uma alegria imensurável poder dizer que nosso amado Trevor fará parte de nosso clã e que Madison adentrará o clã de meu mais estimado amigo, longínquo companheiro de vida, Steven Williams. — o avô de Trevor sorriu com suas plásticas incontáveis e sua peruca mal projetada ao ser mencionado.

Meu avô mal tinha começado, e eu já queria vomitar.

— Aliás, creio que este discurso não pode prosseguir sem a presença das estrelas maiores desta festa em destaque. Trevor, Madison, subam ao palco, por favor! — o tom de senador republicano tornou-se ainda mais republicano.

E persuasivo.

Era aquele tom que tanto eu como Trevor sabíamos ser o "não ouse me desrespeitar, ou se não...". As consequências poderiam ser trágicas. Considerando o fato de que ele era a pessoa que menos tinha apreço por mim naquele recinto, pensei em dizer que não e as consequências dele que fossem para o quinto dos infernos. Mas olhei para o rosto animado de minha mãe e, apesar de saber que talvez não pudesse confiar nela, ainda era minha mãe, então tinha certo benefício da dúvida.

Desvio de CondutaWhere stories live. Discover now