Quarenta e Dois - Debute e Outros Problemas

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Na manhã seguinte, novamente acordei com a senhora Velasquez batendo à minha porta com um café da manhã caprichado servido em uma bandeja. Fiquei me perguntando se as pessoas dali não tomavam café da manhã como em uma residência normal, sentados à mesa da cozinha ou da sala de jantar, mas preferi não questionar a aparente escolha de Muñoz de me deixar de fora de alguma coisa que acontecia por ali todas as manhãs.

Como na primeira noite, não conseguira descansar apropriadamente, o corpo agitado, a cabeça vagando por sonhos ruins e especialmente violentos. Nitidamente meu senso moral não estava feliz com os rumos que eu estava dando para minha vida, ainda que não tivesse qualquer intenção de tornar a máfia um hábito permanente. Era a consciência, representada pela voz de minha mãe, dizendo para correr, porque algo daria muito errado, eu não podia confiar em ninguém, além de mim mesma, para fazer tudo acontecer, e a solidão era arriscada...

Joguei para longe tais pensamentos e me deixei ser distraída pela conversa da senhora Velásquez, que não saiu do quarto até que eu terminasse de comer tudo o que tinha colocado na bandeja para mim. Ela queria saber sobre minha vida, a infância, a adolescência, qual a minha cor favorita e meu prato favorito, para que pudesse providenciar no jantar a ser servido na minha festa de apresentação. A lembrança do evento daquela noite me fez voltar à constante agonia em que me encontrava desde que colocara os pés naquela casa, e eu não consegui enfiar mais nada na boca. A distração durou muito pouco.

Quando notou que eu não estava mais tão disposta a continuar a conversa, ela sorriu para mim de forma maternal, juntou a bandeja e me deixou sozinha no quarto. Ainda permaneci deitada encarando o teto abobadado por longos minutos antes que recebesse outra visita. Dessa vez, de minha mãe.

— O que está fazendo aqui? — perguntei assustada.

Até a noite anterior ela ainda estava ligada a soros e remédios, mas, naquela manhã, os únicos sinais que denunciavam que sofrera um acidente há cinco dias eram os hematomas discretos em seu rosto e braços.

— Recebi alta. — Ela deu de ombros e veio se sentar na minha cama — E fui informada de que acontecerá sua "festa de apresentação" à "comunidade de La Recocha" esta noite. Depois de xingar seu pai de todos os palavrões que consegui me lembrar, achei que seria adequado perguntar para você o que acha disso.

— O que você acha disso? — questionei.

— Uma estupidez sem tamanho! Não vou jamais aceitar o que vocês dois estão fazendo e vou fazer de tudo para que não aconteça, Maddy.

— Mãe, eu já disse para você que sei o que estou fazendo e pedi para confiar em mim...

— Minha filha, ainda que você não tenha... — Ela se aproximou de mim, até que sua voz tornou-se um sussurro — Ainda que você não tenha qualquer intenção de assumir o lugar de Tony, ainda que tenha outros planos, tenho certeza de que eles envolvem você correndo sério risco de morte, e eu não posso aceitar.

— Eu não estou correndo risco nenhum, juro que vai dar tudo certo. — Peguei em sua mão e a apertei com força — E eu acho que eles são excessivamente tradicionalistas com essa coisa toda de "irmãos" e "aliados" e "apresentação", mas o que posso fazer a respeito? Preciso entrar no esquema, pelo menos por enquanto.

Os olhos verde esmeralda de minha mãe me escanearam clinicamente, possivelmente tentando ler em minha expressão minhas ocultas intenções. Desviei o olhar, porque ela descobriria sem muito esforço, pois me conhecia melhor do que eu mesma.

— Madison Elise, o que está aprontando? — Sua pergunta foi um sussurro novamente.

— Voa soa como Imogen desse jeito. — Revirei os olhos.

Desvio de CondutaWhere stories live. Discover now