Vinte e Três - Agente de Sabe-Se-Lá-O-Que Mentiroso e Outros Problemas

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Depois de Pulp Fiction, meu filme favorito era Os Infiltrados. Não só pelo Leonardo DiCaprio, o melhor ator de todos, mas porque mostrava uma sucessão de artimanhas e mentiras muito bem arquitetadas por policiais e mafiosos, uns infiltrados no meio dos outros. A história era inteligente, com uma reviravolta chocante num final que acontece tão rápido, que, se piscar, você perde. Leonardo DiCaprio se metendo com a máfia do Jack Nicholson, que, por sua vez, enfiou o Matt Damon na polícia: uma grande emoção.

Todas as vezes que o assistia, no entanto, ficava mesmo pensando na Vera Farmiga, a personagem que achava que estava com o cara bonzinho, o policial, enquanto fugia das investidas do cara malvado, o policial rebelde. E se ela descobrisse que o Matt Damon era o verdadeiro vilão e que o Leo só estava lá para desmascará-lo, pensava eu? Como seria descobrir que era tudo uma farsa, que era apenas um disfarce bem tramado, que tanto o Leo como o Matt Damon eram dois belíssimos (em todos os sentidos) mentirosos?

Por ironia do destino ou não, naquele momento eu era minha própria Vera Farmiga, perdida em meio a um bando de policiais e mafiosos mentirosos.

Agente. Mason. Carter.

Mas que porra?!

Nem mesmo Dylan o maldito tinha a decência de se chamar!

Por um instante, na minha cabeça, milhões de informações suspeitas que havia coletado sobre Dylan – ou Mason, ou qualquer porcaria nesse sentido – começaram a se cruzar. Uma luz acendeu e várias dessas informações suspeitas fizeram algum sentido, o que era um alívio. O peso não saiu das minhas costas, entretanto, porque não consegui, naquele momento, gastar mais do que dois segundos nesse assunto. Ele ficaria abandonado, por enquanto, porque Imogen ainda estava ali, agonizando em meus pés.

Abandonei os olhos do – aparentemente - policial mentiroso, também sem tentar interpretar o que queriam me dizer. E ele tinha muito a me dizer, com certeza. Minha atenção voltou-se inteira e completamente para minha melhor amiga, que sangrava sem parar. Engoli a seco, ajoelhei ao seu lado e apertei sua mão, por medo de fazer qualquer outra coisa que piorasse sua situação. Segurei as lágrimas com toda a força que encontrei em mim, ciente de que não poderia sucumbir, não ali, não com ela naquele estado. Imogen precisava de mim.

Não estava na hora dela partir.

Especialmente porque o tiro que era endereçado a mim, a havia atingido. Especialmente porque nosso último contato fora uma briga imbecil por causa de Trevor. Jamais me perdoaria. Jamais.

O silêncio no beco durou muito menos do que eu gostaria, no entanto. Dylan, ou Mason, ou deus grego mentiroso de merda, não pareceu ser capaz de conter sua língua.

- Madison...

- Nem comece. – espalmei a mão mergulhada em sangue de Imogen à frente dos olhos dele. Ainda demorei um instante para encará-lo, e foi apenas para constatar que havia algo de muito pesaroso em sua expressão – Eu não quero ouvir explicações, ou mais mentiras, ou o que quer que esteja planejando me falar.

- Seria mais sensato se escolhesse me ouvir...

- Ah, eu vou. Mas não agora, só quando eu quiser, quando não estiver com vontade de arrancar sua cabeça e dar de comer para o Pitbull do meu irmão mais novo. O momento agora é de Imogen. Só quero ouvir você acelerando a vinda dessa ambulância, só isso que eu quero ouvir. – respondi, resoluta.

Ele não discutiu, assentiu silenciosamente e levantou com o celular em mãos. Deu dois passos para o lado e fez outra ligação.

- Não brigue com ele, Maddy... – Imogen resmungou baixinho, e eu tomei um belo de um susto.

Desvio de CondutaWhere stories live. Discover now