Vinte e Seis - Como Seduzir o Professor Vidal e Outros Problemas (Parte 2)

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Eu estava sentada na sala de estar do professor Arthur McGregor. Era uma casa típica do subúrbio de Boston, com um enorme jardim de grama bem verde na frente, um sedã do início dos anos 2000 parado na porta da garagem, ao lado de uma SUV mais moderna, janelas amplas, dois andares, a porta de entrada pintada de vermelho berrante.

Sobre a lareira, uma exposição de fotos do próprio Arthur em diversas viagens pelo mundo. Londres, Paris, Moscou, Caribe, Dubai, Las Vegas. A decoração era em tons pastéis, e ele tinha, ao menos, quatro gatos, que me analisavam atentamente da poltrona disposta do outro lado do cômodo.

Com as mãos sobre a bolsa, esperei pacientemente que ele me trouxesse a xícara de chá que oferecera logo depois de me identificar. Há mais de cinco minutos estava ali, entretanto, e já não sabia mais como lidar com a vigília dos gatos sobre mim. Levantei-me, então, e fui até a prateleira das fotos. A de Paris foi a que mais me chamou a atenção. Uma pose contida em frente à Torre Eiffel. Provavelmente paga com o dinheiro que ele arrancara de alunos esquentadinhos contra os quais praticara o pior tipo de bullying: o do professor.

Em nossas pesquisas, Dylan e eu encontramos diversos processos cujo autor era o professor Arthur McGregor. Não foi uma surpresa quando constatamos que todos eles eram ações de indenização em razão da agressão sofrida em sala de aula. A alegação de todos os alunos, sem exceção, era a de que o professor os pressionara tanto, invadira tanto suas mentes, que fora difícil controlar o ímpeto. Esses alunos também tinham algo mais em comum: o histórico de comportamento desviado, muitas vezes violento. Arthur McGregor sabia muito bem como escolher suas vítimas.

Só que nosso caso era diferente, descobri após analisá-lo atentamente, como deveria ter feito desde o início. Os alunos anteriores eram todos esquisitões excluídos, magrelos sem muita potência no braço. Erick Truman lutava boxe desde os doze anos de idade, frequentava a academia todas as tardes depois da aula, e fazia parte do time de futebol americano da escola. Ele era um cara forte. Muito forte. E com apenas um soco quebrara o nariz de Arthur e lhe dera uma bela de uma concussão. O professor estava afastado desde então, e a principal alegação para sustentar o valor alto da indenização que pedia era o fato de que talvez não pudesse mais voltar a dar aulas, em razão do trauma causado.

As chances de vitória do professor ainda eram razoáveis, mesmo que alegássemos a indústria particular de dano moral que ele havia orquestrado para si. E, como bem dissera o professor Vidal no caminho até Boston, ele não gostava de lidar com riscos de fracasso. Ou ele vencia, ou vencia, não havia um meio termo. Estava nas minhas mão mais essa vitória, representada pelo acordo que deveria fechar.

Sentados no banco de trás de seu carro, enquanto o motorista particular - que nem ao menos sabia que tinha - nos levava até a residência do professor McGregor, ele me deu uma aula especial de como falar, como sorrir, como se portar, para que nosso opositor fosse atraído para minha "teia", como ele mesmo chamara. Era como se tivesse a própria Annalise Keating à minha frente. Talvez até mesmo melhor. Tinha alguma coisa naquele cara, alguma coisa quase mágica, que atraía minha atenção e eu não via jeito de desviar. E era assim com quem ele queria que fosse. Era o poder que estava tentando me ensinar como utilizar e, à par de todas as desconfianças que tinha para com ele, estava agradecida por isso.

Algo roçando em minha perna tirou minha atenção da foto de Dubai, que eu passara a analisar depois. Era um dos gatos, que finalmente decidira que eu era uma boa pessoa e que poderia se aproximar.

— Vejo que a Kate Middleton gostou de você... - a voz sonora do professor soou na sala e quase pulei de susto. — Ela não costuma se dar com estranhos...

Sorri, abaixei e acariciei a cabeça da gatinha branca que continuava a se esfregar entre minhas pernas.

— Acho que ela sabe que tenho boas intenções. - foi o que respondi, enquanto pegava a xícara de chá que me era estendida.

Desvio de CondutaWhere stories live. Discover now