Quarenta e Sete - Escutas e Outros Problemas

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Eu não sabia como sair do Caeasars Palace sem chamar a atenção. Pedir a ajuda de Vidal estava totalmente fora de cogitação, tudo o que ele queria era que eu pedisse para "passear" por Las Vegas sozinha, a fim de levantar ainda mais suspeitas sobre mim e minha lealdade a La Recocha e a Muñoz. Seria um desserviço para minha situação já ridiculamente complicada.

Eu tinha uma hora para encontrar uma solução para o problema. Um belíssimo treinamento para a lição número seis de Muñoz.

Disfarçadamente, abri a porta do quarto, para conferir quantos seguranças guardavam a minha área do andar. Eram dois, que andavam de um lado para o outro na esquina do corredor. Observei por um instante a movimentação deles. Em um dado momento, eles iam para lados opostos e deixavam por dez segundos minha porta sem qualquer vigilância. Olhei ao redor. Estava a alguns passos das escadas de emergência. Fechei a porta, encostei a testa na madeira fria e respirei fundo. Precisava chegar àquela escada em dez segundos sem ser vista.

A única outra opção que me vinha à mente era subornar os seguranças para fazer vista grossa, mas eles não pareciam ser do tipo que aceita suborno e fica de boca fechada. Eles pegariam meu dinheiro, dedurariam para Muñoz, e eu seria pega no flagra antes de chegar ao chafariz do Bellagio.

A única saída, portanto, era pela escada de emergência. E torcer para ninguém resolver me procurar durante o tempo em que estivesse fora. Para garantir, decidi fazer uma rápida visita a Muñoz em seu quarto, garantir que eu estaria lá, dormindo, quietinha, sem aprontar nada.

Vidal estava no quarto de Muñoz, ambos sentados no sofá de couro da antessala da suíte, um copo de bebida nas mãos. Vidal me olhou com um inconveniente ar desconfiado e levantou sérias dúvidas a respeito da minha aparente dificuldade de tornar minha expressão indecifrável. Muñoz, por outro lado, provavelmente cegado pelo fato de que eu era sua única filha que ele nunca tivera a chance de conhecer, abriu-me um sincero sorriso.

— Precisa de alguma coisa? — questionou Vidal, os olhos cerrados medindo-me dos pés à cabeça.

Eu estava vestindo um pijama de flanela de unicórnios, não havia nada de atraente para observar ali.

— Perguntar se vocês ainda precisam de mim para alguma coisa?

— A princípio, não. — Muñoz foi quem respondeu.

— Vou dormir. Estou muito cansada, excesso de informações para um só dia. Agradeceria se não me incomodassem até amanhã de manhã, pelo menos.

O sorriso seguinte de Muñoz soou extremamente paternal, assim como sua voz, quando falou:

— Você precisa mesmo descansar. Amanhã teremos mais um dia cheio. Boa noite.

— Tem certeza de que vai mesmo dormir, Madison? Não quer apostar alguns dólares ou assistir a um espetáculo do Cirque Du Soleil?

— Está convidando minha filha para sair na minha frente?

— Não, eu não disse que iria junto. Além do mais, só seria preocupante se eu a chamasse para conhecer uma das famosas capelas de Las Vegas.

Tive que rir. E foi ironicamente.

— Só nos seus sonhos. — respondi.

Muñoz riu também.

— Eu realmente não preciso me preocupar com isso, Madison sabe se cuidar sozinha, está bem claro.

— Vocês ferem meus sentimentos. — Vidal fingiu indignação.

— O único sentimento que você nutre é pela lista de mulheres que já passaram pela sua cama. — Muñoz cutucou com tom ácido — Mas Madison não vai repetir o mesmo erro, não é? — Seus olhos incisivos foram direcionados a mim.

Desvio de CondutaWhere stories live. Discover now