Trinta e Dois - Paternidade e Outros Problemas

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— Toque na minha filha de novo, e eu castro você.

Uma risada rouca soou pelo apartamento. Era do professor Vidal.

— E não foi você mesmo quem mandou eu me aproximar dela?

— Nem preciso dizer que não era desse tipo de... Aproximação que estava falando.

— O importante é que cumpri minha missão, você deveria me agradecer.

— Por transar com a minha filha?

Outra risada do professor Vidal cortou o ar.

— Antes eu do que aqueles moleques com quem ela anda se envolvendo, acredite.

A risada debochada, desta vez, não veio do professor Vidal, mas de seu interlocutor.

— Não. Esqueça. Tire Madison de seus planos. Você é meu melhor amigo, mas também é meu empregado. Não pise fora da linha mais do que já pisou... No momento, estou considerando se sua atitude tem perdão, embora esteja muito mais inclinado à castração. Zeus não recebe presentinhos há tempos.

— Não estou mal intencionado, Tony, ela é incrível, em todos os sentidos. Difícil de acreditar, considerando que metade veio de você.

A frase do professor Vidal me fez perder o rumo. Não soube se foi por causa do "ela é incrível" ou do "Tony", que confirmou a suspeita que me consumia desde que encontrara a foto e a carta no armário de minha mãe, mas fato é que eu tropecei, sem querer, em um dos vasos que adornavam o corredor, e chamei a atenção toda para mim.

Considerei sair correndo, de calcinha e camisa do professor Vidal, porém, não tive tempo. Passos calmos e irregulares anunciaram a aproximação dele.

Eu já o vira antes. Primeiro, no telão projetado na sala de reuniões do professor Vidal; depois, em minhas pesquisas no Google; então, naquele beco escuro onde Imogen fora baleada, na rua próxima a Harvard; e, por fim, ao lado de minha mãe, na foto encontrada na caixa da Minnie.

Anthony Muñoz estava, finalmente, em carne e osso, à minha frente.

Vestia terno preto, camisa e gravatas também pretas, tudo absurdamente alinhado. Os sapatos de couro brilhavam, sua bengala de nogueira também. Tinha os cabelos cuidadosamente penteados para trás e um sorriso satisfeito nos lábios.

— Madison! Que bom que se juntou a nós!

Balancei a cabeça, incrédula. Era mesmo ele, com sua voz grave e seu sotaque hispânico. Ele pareceria um homem muito, muito, muito poderoso, mesmo que eu não soubesse quem era. Tinha certo ar de persuasão que o rodeava, que tornava difícil não olhar apenas para ele quando ele falava diretamente com você.

— Suponho que saiba quem eu sou?

Neste momento, o professor (será que ainda podia chamá-lo de professor?) Vidal surgiu atrás dele. Estava sem camisa, vestia apenas uma calça jeans surrada cujo cós baixo demais para minha sanidade deixava transparecer a borda da cueca Calvin Klein (um clássico). Ele sorriu para mim, uma sobrancelha arqueada. Não consegui interpretar o ato, então apenas respondi Anthony Muñoz:

— Mafioso. — a palavra saiu rouca, falha.

Ele deu uma gargalhada divertida. Vidal não moveu um músculo.

— Pode-se dizer que sim. Mas, para você, apenas pai está de bom tamanho.

De certa forma, eu sabia. Beeeeeeeem lá no fundo. Depois de encontrar a foto, na qual minha mãe estava abraçada com Anthony Muñoz em alguma praia californiana, depois da carta de amor que tinha ele como remetente...

Desvio de CondutaNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ