Dezoito - Sherlock e Outros Problemas

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Anthony Munõz.

Era o nome da vez.

Até ali não chamara minha atenção a ponto de me preocupar com ele, mas de repente começou a aparecer demais, vezes demais, em situações específicas e inusitadas demais.

A foto no telão da sala de reuniões do escritório do professor Vidal, logo no primeiro dia de aula; sua imagem jovial num retrato mais antigo, aquele que encontrei em pesquisas no Google sobre o professor, no qual figurava ao lado do Vidal-pai e do Muñoz-pai. A sensação de familiaridade toda vez que o via também não poderia ser ignorada, de modo que, na sexta-feira, logo no início da tarde, quando ele surgiu para mim pela terceira vez, comecei a ouvir uma poderosa voz sussurrando em meu ouvido que valia a pena perder um instante a mais de atenção com aquele homem.

Não só porque talvez fosse mesmo o chefe da máfia da costa Oeste, como Dylan observara com certo cinismo em seu tom de voz – e como eu mesma tive a oportunidade de concluir em minhas breves pesquisas sobre o professor Vidal, mas porque, de repente, a máfia parecia mais real e próxima de uma jovem do Upper East Side interessada em lutar pelos direitos humanos como eu do que, de fato, deveria. A todo momento algo sobre ela me chamava a atenção, ao ponto em que parecia burrice demais deixar para lá.

Foi por causa de um pequeno detalhe na sala do professor Vidal que resolvi parar de ignorar os sinais. Ele mal chegou ao escritório e me chamou para conversar em particular em sua sala. Minha barriga deu aquela volta de trezentos e sessenta graus típica de quando tinha que ficar perto demais dele. Foi mais poderosa, no entanto, porque ficaria perto demais dele sozinha. Sem ninguém por perto. Nenhuma alma inteligente o suficiente ousava bater na porta daquela sala para incomodá-lo quando estava em reunião com alguém. E algo me dizia que a ordem era ainda mais incisiva quando o alguém se tratava de Madison Turner.

Àquela altura, concluí que todos haviam percebido o tipo de tratamento diferenciado que aquele homem lindo, maduro, sexy, interessante e muito, muito suspeito, dispensava a mim. Não me importava com os veredictos de meus colegas a respeito, entretanto, porque o que mais me interessaria – e, por isso, continuaria dando mole para ele o quanto fosse necessário -, sempre seria saber o que é que queria comigo, afinal.

E algo me dizia que talvez eu estivesse próxima...

Ao chegar em seu escritório, notei que não estava lá. Fora Rosario quem me avisara que estava sendo requisitada, o professor Vidal nem dera as caras. Então fui até a mesa e sentei em uma das cadeiras destinadas às visitas, decidida a aguardar por ele. Antes mesmo que pudesse pensar em, discretamente, bisbilhotar em busca de pistas que me dessem um norte, meus olhos de águia bateram em algo muito interessante displicentemente jogado sobre a mesa.

Um post-it azul berrante, as letras bem grandes e chamativas escritas em marcador vermelho.

Anthony Muñoz – 29/08, 21:00

The Liberty, Boston

Urgente!!!

Anthony. Muñoz. Urgente. Vinte e nove de agosto. Boston.

As informações começaram a rodar em minha cabeça.

A primeira delas foi "Anthony Muñoz não é meu cliente, se é o que estão pensando". Professor Vidal, o rei da dissimulação. Parecia bem claro agora que eles tinham uma estreita relação, especialmente se levada em conta aquela foto. Aquela foto em que o pai do professor em questão estava ao lado de Anthony Muñoz e seu próprio pai. Ele também estava lá, Benedict Vidal.

Desvio de CondutaWhere stories live. Discover now