- Pelo menos sabemos que não o matou naquele dia. Parabéns, Dylan, você não é um assassino.
Foi minha tentativa de quebrar o silêncio cruel que se instalou dentro do carro desde que o cowboy brega saiu do dele. Dylan o encarava de olhos cerrados, cenho franzido, lábios crispados. Meio psicopata, se pudesse definir em uma única palavra. Eu ficara surpresa, muito surpresa, depois ainda mais confusa sobre o professor Vidal, mas ele... Ele parecia que sairia do carro a qualquer instante para continuar a surra que tinha dado no cara semanas antes.
- Dylan, é sério, está começando a ficar estranho. – disse, dando cutucões em seu braço malhado.
Gostaria de ter me demorado um pouco mais ali, contudo ele finalmente acordou de seu transe sociopata e olhou para mim.
- Desculpe, mas é inusitado. Muito. Muito mesmo. – sua expressão era séria, compenetrada. Como se tivesse vestido a máscara de herói responsável que salva a donzela em perigo no beco escuro.
Meu ego jamais o perdoaria por isso.
Dylan logo voltou a acompanhar o caminhar tranquilo do cowboy brega até a casa.
- Eu sei. E suspeito também. Muito. Muito mesmo. Mas não precisa olhar para o cara como se estivesse tentando desintegrá-lo com a força do pensamento.
Ele riu, porém não desviou o olhar. O cowboy brega subiu as escadas que levavam à porta e bateu nela. Não demorou muito para que, quem quer estivesse lá dentro, a atendesse. Ambos nos empertigamos em nossos bancos, esticando o pescoço, a fim de enxergar qualquer coisa, contudo não foi possível. O interior da casa, ao menos naquele cômodo para o qual levava a porta de entrada, estava escuro. Nossa presa entrou e a porta foi fechada atrás dele.
Dylan se remexeu inquieto no banco, parecendo pronto para sair do carro, bater na porta e se juntar à reunião. Suas mãos não paravam quietas, as pernas subiam e desciam, nervosas. Era como um animal selvagem preso em uma jaula. Quase mais estranho do que o professor Vidal nos mandar vigiar a casa que o cowboy brega visitaria naquela noite. Justo naquela noite.
- Dylan?
Demorou um pouco mais do que o normal para que ele olhasse para mim.
- Parece que nosso professor tem um cliente culpado. – foi o que disse.
Tinha um sorriso duro nos lábios. Dei de ombros.
- E que advogado criminalista não tem?
Ele assentiu.
- O dele se envolve com gente que cerca mulheres em becos escuros.
- Bem, ele foi muito educado, me chamou de "senhorita Turner", disse que tinha um assunto importante a tratar comigo... Quem vai saber quais eram as intenções dele?
- Posso descobrir, se quiser. Só bater naquela porta.
- Acho melhor não. Algo me diz que dessa vez você não consegue vencer sozinho, nem mesmo incorporando o Jackie Chan como da última.
O sorriso de Dylan relaxou.
- Suas referências são as melhores.
- Faço o que posso. – meneei a cabeça – Acha que o cliente é um daqueles caras? Talvez o russo? Ou aquele com cara de mariachi?
- Acho que o professor anda guardando algum segredo importante, se quer saber.
- Ele não é o único, não é mesmo, senhor Campbell? – minha sobrancelha arqueou, o olhar incisivo, provocador. Não no sentido sexual, não dessa vez.
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Desvio de Conduta
RomanceMadison Turner só queria se formar, tornar-se advogada militante dos Direitos Humanos, fazer alguma diferença no mundo, ser uma mulher forte, destemida e determinada. Mas os eventos misteriosos que passam a atormentá-la assim que pisa em Harvard não...