Trinta e Sete - Guerra e Outros Problemas

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O chão despencou sob meus pés, eu estava perdida, a cabeça girando, as mãos tremendo, os olhos enchendo de lágrimas, o sangue fervendo, coração galopando em disparada no meu peito. Era ódio. Talvez um pouco de medo. O ódio, todavia, predominava. Ódio em seu estado mais puro, irrefreável, e tinha dono. Um dono que se esforçara muito para conquistá-lo nos últimos meses.

Maldito Harrison Vanderbilt e seu Legado Vermelho. Maldito Patrick King, a quem eu nem ao menos tinha coragem de chamar de avô novamente.

Ninguém podia dizer que eu não estava tentando me manter o mais afastada possível daquele delírio mafioso, porque eu estava. Não combinava comigo nem com meus ideais, especialmente aqueles sobre não traficar e/ou consumir drogas para evitar que inocentes sejam aliciados pelo crime organizado e morram nas favelas dos países emergentes, ou que famílias inteiras sejam destroçadas pelo suplício da dependência química, que vidas sejam perdidas...

Por mais interessante que pudesse parecer em filmes de ação do Jason Statham, na vida real a situação tomava uma roupagem completamente diferente. Não havia glamour algum em comandar uma organização criminosa que matava pessoas e lucrava rios de dinheiro em cima disso. Não queria levar esse fardo para minha vida, porque eu mesma fora uma vítima, eu sabia a devastação que poderia deixar na vida de uma pessoa, não gostaria de perpetuar o mal em troca de milhões de dólares.

Não, nem por milhões de dólares e uma mansão em Los Angeles ao lado da mansão da Katy Perry.

Mas a questão era que Vanderbilt, meu avô e a merda do Legado Vermelho não estavam colaborando...

Tentaram me matar duas vezes e, no processo, quase mataram minha melhor amiga. Tudo bem, eu poderia lidar com aquilo, poderia engolir e seguir em frente, crente de que algum milagre aconteceria e eles desistiriam da ideia, que me deixariam em paz ao notar que não tinha a menor intenção de atrapalhar seus planos de dominar o mundo. Contudo, não satisfeitos com as tentativas fracassadas de tirar minha vida,  de minha melhor amiga, foram atrás de minha mãe...

Minha. Mãe.

Isso ultrapassava limites que não estava disposta a ignorar. Poderiam mexer comigo o quanto quisessem, mas com as pessoas que eu amava... Uma Madison ainda desconhecida foi ativada e, de repente notei, tudo o que eu queria era torturar Harrison Vanderbilt e Patrick King de formas que nem mesmo a inquisição espanhola em seus anos mais gloriosos fora capaz.

— Madison? Está aí? — a voz latina de Anthony Muñoz trouxe-me de volta à realidade.

Meus olhos focaram no presente e imediatamente notaram que Lisbeth femme fatale ainda estava ali, com as mãos na cintura e uma expressão confusa/curiosa no belo rosto.

— Só um instante. — pedi e tampei o microfone do celular.

Fui até Lisbeth, a peguei pelo braço e a guiei sem muita educação até a porta.

— Pode me dar licença, por favor?

— Madison, o que está acontecendo?

— Preciso resolver uns problemas, se mudar ideia, procuro Dylan, não se preocupe. — então a coloquei para fora e fechei a porta na sua cara.

Ela ainda bateu impaciente, mas desistiu quando percebeu que não adiantaria nada, e eventualmente foi embora. Ou assim pensei ter feito.

— Senhor Muñoz? — chamei ao telefone, quando já estava sentada em minha cama e me sentindo um pouco menos como uma católica fanática medieval disposta a empalar quantas pessoas fossem necessárias para dar fim ao meu ódio.

— Pai... — ele resmungou.

Ignorei e continuei o assunto:

— Como aconteceu?

Desvio de CondutaWhere stories live. Discover now