Cinquenta e Três - Pecados e Outros Problemas

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O último resquício de controle que ainda tinha sobre minha vida estava prestes a escapar por entre meus dedos, voando alucinado junto com o projétil que dispararia a um simples puxar de gatilho. Parecia muito simples, de fato. Consideradas todas as lições de tiro de Vidal, respire fundo, afaste as pernas, mãos firmes, olho na mira, era fácil, eu sabia o que fazer. A diferença era que meu alvo era real, era uma pessoa, uma pessoa colocada na cadeira da morte por mim. Não por outro motivo, nenhuma das instruções de Vidal parecia fazer qualquer sentido na minha cabeça.

Eu não estava respirando fundo. Pelo contrário, acho que nem estava respirando. Queria que minha mão permanecesse firme, como me tinha sido ensinado, mas milagres não estavam acontecendo naquele dia.

Não, apenas o inverso.

Um pecado gravíssimo, um crime dos mais odiosos, estava prestes a ser cometido.

Por mim.

Seria muito fraca se chorasse? Se saísse correndo? Se fugisse dali o mais rápido possível para um país bem longínquo, onde nenhum deles jamais me encontraria? Eu queria. A ideia era tentadora. Largar a arma e ir embora dali. Não tinha sido feita para aquilo, o FBI que me desculpasse, mas não dava, não.

No entanto, ainda havia razão em mim. E eu sabia que já era tarde demais para reconsiderar o lamaçal no qual estava me afundando cada vez mais.

Não havia espaço para choro nem fuga. Anthony Muñoz não ficaria em paz enquanto não me encontrasse. O FBI não ficaria em paz enquanto não me encontrasse. Era loucura fugir da máfia e da polícia ao mesmo tempo, os dois piores tipos de inimigo que alguém poderia conquistar. Só teria paz no inferno, que era o lugar para onde iria, de qualquer forma, se fizesse o que tinha que ser feito.

Pela primeira vez na vida, quis que alguém resolvesse meu problema por mim, porque sabia que não era capaz de fazer sozinha.

Matar alguém?

Alguém que só estava prestes a morrer por causa de uma mentira contada por mim? Para livrar a minha cara da morte que me era de direito?

No que eu tinha me transformado?

Minhas pernas vacilaram quando respirei fundo e segurei as lágrimas. Estava à beira do abismo, flertando com o precipício, com os olhos arregalados de Ramon Garcia me acusando de traição, com seus resmungos sufocados pela fita cinza, aquela que não o deixava espalhar aos quatro ventos que a traidora era eu. Agradeci aos céus por ela.

— Espere! — Vidal interrompeu meu momento de hesitação.

Pareceu ter durado uma eternidade, embora tenham sido apenas alguns segundos.

Muñoz revirou os olhos quando perguntou:

— O que foi agora?

— Acho que ele quer nos falar alguma coisa. — Vidal apontou para Ramon com a cabeça.

Ele tinha os braços cruzados, os olhos brilhando e um pequeno sorriso marcando o canto dos lábios.

Era um sádico, eu diria. Um sádico assustador que estava prestes a foder com a minha vida. Talvez de propósito. Muito provavelmente de propósito. Seria burrice achar que ele não estava desconfiado de minha descoberta, de minha tão repentina descoberta. O faro do homem para mentiras deslavadas era uma dádiva e uma maldição. A maldição recaiu sobre mim, infelizmente, porque o carma seria sempre uma maldita vadia.

Baixei um pouco a arma, meus olhos fuzilando-o com toda a confiança que pude reunir, a despeito de todo o meu caos sentimental.

— Não estou disposto a ouvir desculpas esfarrapadas de traidores hoje, Ben. — Muñoz resmungou.

Desvio de CondutaWhere stories live. Discover now