Quarenta e Seis - Cidade do Pecado e Outros Problemas

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Eu tinha assistido a muitos filmes de máfia para não ficar preocupada com a punição que Anthony Muñoz escolhera a dedo para o traidor de La Recocha. Ele não parecia estar blefando quando detalhara a medida, especialmente a parte em que obrigava a pessoa em questão a assistir à amputação de seus membros até quando a perda de sangue e a dor excruciante permitissem. Eu não era a traidora de La Recocha, ao menos não aquela trabalhando para o Legado Vermelho, mas eu era aquela que estava disposta a destruí-la com o FBI, e, pior, eu era a filha do chefe, o que tornava a situação péssima. Ignorei todas as vezes em que meu cérebro tentou me sabotar ao imaginar o que ele poderia fazer comigo. Talvez nem mesmo o manual de tortura da inquisição espanhola fosse cruel o suficiente...

Não jantei naquela noite, porque estava em pânico. Sozinha em meu quarto, eu podia deixar o desespero transparecer o quanto quisesse, e ele queria, ele queria para caramba dar as caras e não ir embora nunca mais. Passei um bom tempo controlando o ímpeto de bater minha cabeça contra a parede, em retaliação à minha brilhante ideia de aceitar aquele plano irresponsável do FBI. Minha coragem não era suficiente para superar o medo de morrer, já que a morte parecia tão evidente, tão próxima. Se algo desse minimamente errado, se alguém descobrisse o que eu estava fazendo ali de verdade, se Vidal descobrisse...

Depois de andar quilômetros de um lado para o outro no meio do quarto, e ciente de que isso não resolveria meu problema, porque eu não tinha qualquer solução para ele, além de ir até o fim, venci o orgulho e admiti que apenas duas pessoas no mundo eram capazes de me fazer acreditar que tudo ficaria bem. Imogen estava incomunicável, ao menos por enquanto. Então peguei o celular secreto do FBI e liguei para o número do outro, mas, ao contrário de todas as vezes em que precisei dele, ele não atendeu no terceiro toque. Ele simplesmente não atendeu. Respirei fundo. Era só mais um motivo para me fazer entrar em pânico, mas eu não ia deixar minha mente sucumbir daquela forma. Ele não tinha atendido porque estava ocupado com outra coisa ou porque estava tomando banho, não porque tinha sido morto por algum capanga de La Recocha.

Precisava me comunicar com ele de alguma forma, então tirei o computador secreto do FBI de seu esconderijo no closet, sentei no chão, apoiando as costas na cama, e comecei a digitar um email para o endereço que ele havia me dado antes de eu ir embora.

De: Madison Turner (endereço protegido com criptografia)

Para: Mason Carter (endereço protegido com criptografia)

Assunto:

Oi,

Hoje eu aprendi a atirar e minha mira é praticamente perfeita. Será que nasci para ser mafiosa? Talvez não, porque estou ridiculamente apavorada com o modo com que Muñoz trata as questões por aqui. Hoje ele mandou matar um cara na minha frente! Não, não nasci para ser mafiosa.

Mande notícias de Imogen. Será que eu poderia falar com ela? Estou realmente precisando dos conselhos da minha melhor amiga.

Sinto saudades. Tanto que dói.

Beijos,

Panda.

Apertei o botão enviar e fiquei atualizando a página da caixa de entrada por uns cinco minutos, até aceitar que Dylan não estava comunicável naquele momento. Para me distrair, comecei a digitar o email padrão para Lisbeth e o capitão Rutherford detalhando tudo que tinha ouvido na reunião. Omiti deliberadamente as aulas de tiro com Vidal, dessa parte eles não precisavam saber, só da parte em que talvez pudessem evitar o sequestro de um garotinho colombiano ou a morte de Jack Mendez. Foi a primeira vez, desde que chegara ali, que me senti verdadeiramente útil, a despeito do medo que não passava e muito provavelmente não iria passar enquanto continuasse na mansão.

Desvio de CondutaUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum