Cinquenta e Um - Infiltrar, Investigar, Seguir, Reportar (Parte IV)

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Meu pau acabaria me matando.

Ele tinha tomado o lugar de 85% do meu cérebro desde que Madison surgira em minha vida, e era óbvio, a essa altura, que eu já não tinha mais controle racional algum sobre a ladeira desenfreada que se tornara minha vida.

Foi meu pau (ou meu coração?) que me fez ter a estúpida ideia de visitá-la. Porque eu precisava saber se ela estava bem. Era parte do meu trabalho, não era? Saber se nossa infiltrada estava bem? Integridade física e emocional intactas, para que pudesse continuar com seu trabalho de forma adequada, a fim de melhor instruir o FBI. Não era? Bem, talvez não pessoalmente, mas eu nunca tinha sido o tipo de cara que coloca a razão antes da emoção. E, considerado o pequeno detalhe de estar completamente apaixonado por Madison, a razão jamais teria o devido espaço. Ao menos o espaço que a minha integridade física necessitava para se manter intacta.

Então, porque eu não desenvolvi adequadamente o instinto de pensar duas vezes antes de tomar decisões estúpidas e efetivamente colocá-las em prática, tinha em mãos um convite formal de Anthony Muñoz para um pequeno jantar a ser sediado em sua enorme e pretensiosa mansão.

O papel era bonito, timbrado, a folha tinha textura e as letras foram cuidadosamente escritas em caligrafia perfeita com caneta dourada. O tipo de convite que jamais tive e jamais teria novamente em mãos. Mãos que tremiam levemente.

Eu não deveria ter ido até lá. Eu não deveria ter ido até lá. Eu definitivamente não deveria ter ido até lá.

Não deveria ter sido descuidado o bastante para permitir que justamente Anthony Muñoz nos flagrasse juntos.

Também não deveria ter dito que era o namorado de Madison. Seria mais inteligente dizer que eu era só o cara da tv a cabo e que a filha dele tinha fetiches de filmes pornô de péssimo gosto. O problema seria menor. Muito embora a probabilidade de ele acreditar na história fosse muito menor também.

A verdade era que eu tinha colocado o disfarce de Madison em total risco com minha egoísta atitude. E era só mais uma das besteiras gigantes que tinha feito em minha curta carreira no FBI. Talvez eu não servisse para aquilo, no final das contas... Tinha a tendência a me importar excessivamente com as pessoas e não calcular os riscos de minhas atitudes. Talvez em outras profissões, uma grande qualidade, mas, para aquela... Era estupidez em excesso.

E, infelizmente, teria que cometer mais uma estupidez. Madison tentara de todas as formas, durante as duas semanas que se seguiram ao convite, dissuadir Muñoz de fazer questão da minha presença, mas não obteve êxito. Havia um limite de confiança que ele estava disposto a depositar nela, e, aparentemente, a minha ausência na festa era esse limite. Ele queria saber com quem estava lidando, o que era absolutamente plausível, considerando quem era e o que fazia para viver.

— Ele está irredutível. — dissera ela horas antes, naquele mesmo dia, com a voz cansada e preocupada.

— Talvez eu não devesse ter passado a impressão de que o relacionamento era sério...

— Não é esse o problema. O problema foi ele ter visto você ali, teríamos que arranjar uma explicação plausível de qualquer forma, e o fato de que minha mãe sabe quem você é, amenizou um pouco a desconfiança dele. Mas só um pouco. Ele está batendo o pé e as minhas tentativas frustradas de achar compromissos inadiáveis para você no dia da festa deixaram ele desconfiado de novo.

Suspirei longamente.

Aquilo ia dar muito errado, eu estava sentindo, o ar estava pesado.

Mas não tínhamos escolha. Enquanto pudéssemos, tínhamos que manter o disfarce dela intacto.

Desvio de CondutaWhere stories live. Discover now